MARIA AZENHA
“A língua dos pássaros é uma língua fonética liberta das leis
gramaticais e ortográficas. Ela propõe-nos uma maneira de
entender as palavras de outra forma e funciona em todos os
idiomas.” – Josselyne Chourry
A língua das Aves é uma língua fonética liberta das leis gramaticais e ortográficas.
Ela propõe-nos um modo de entender as palavras de uma outra forma e funciona em todos os idiomas. (A língua matriz por excelência é o hebraico.)
A primeira abordagem da língua das Aves é feita geralmente com a ajuda de palavras ou por construção de palavras.
Um exemplo:
“Um dia, veio um canto divino, como único (communique) que estava além dos sons.
O homem, no entanto, quis conhecer o som (leçon) verdadeiro desse canto. Ele tomou um arco para fazer um jogo (je), mas esse jogo era perigoso (d’ange heureux).
O Céu enviou um anjo (enjeu) ao qual confiou o desígnio (dessin) de mostrar ao homem a parte do espírito e a parte do número (part d’une ombre).
Ele fez as três passagens (l’etroit passage) ritualísticas para evitar a morte do corpo (l’ame hors du corps) e o homem conheceu os prazeres do espirito”.
Aqui temos uma sequência de “jogos de palavras” quase totalmente impossível de reproduzir em português.
As palavras reproduzidas em itálico e entre parênteses traduzem-se da seguinte forma, pela ordem de aparição:
*comunico; *licão; *eu; *do anjo feliz; *aposta; *desenho; *parte de uma sombra;
*a estreita passagem; *a alma fora do corpo.
Cada uma dessas palavras, em francês, é quase perfeitamente homófona das palavras que aparecem antes (a negrito).
Em português, seria como algo do tipo: decoração (de coração) ou elevador (eleva a dor).
Vejamos este excerto em língua francesa:
“Un jour, vint un chant divin, comme unique (communique) qui etait au-delà des sons. Mais l’homme voulut connaitre le son (lecon) veritable de ce chant, il prit un arc pour viser un jeu (je), mais ce jeu etait dangereux (d’ange heureux).
Le Ciel envoya un ange (enjeu) auquel il confia le dessein (dessin) de faire connaitre a l’homme la part de l’esprit et la part du nombre (part d’une ombre).
Il fit les trois passages (l’etroit passage) rituels pour eviter la mort du corps (l’ame hors du corps) et l’homme connut les plaisirs de l’esprit”.
A diferença entre o hebraico e o francês é que o hebraico é unicamente composto de consoantes na sua escrita, ao passo que a língua francesa é ao mesmo tempo composta de consoantes e vogais.
Assim, cada língua veicula uma energia e uma construção diferente.
A língua das Aves é uma linguagem desarticulada, desconstruída para rebentar num novo sentido.
Ela dá-nos uma visão ao mesmo tempo poética e esotérica.
É uma língua que sai de sua crisálida para se tornar borboleta.
Teria sido possível chamá-la também de “língua das borboletas”, pois ela permite conduzir-nos rumo ao infinito.
EM SUMA:
O homem da torrente (1) putrefaz as palavras enquanto que O homem de desejo (2) as purifica e poetiza-as; O Novo Homem (3) permitirá a sua plena maturação. isto é: integrará as palavras, não por aquilo que elas são, em sua definição, mas por aquilo que elas permitem em seus voos.
A língua das Aves encaminha-se para a Grande Obra por uma elevação do nível de percepção do nosso Universo.
É uma subtil linguagem.
Ela só é acessível aos que cultivarem a inteligência do coração.
NOTAS EXTRA:
Segundo L. C. de Saint-Martin:
- -Nível do homem da torrente
De um modo básico, temos tendência para fixar as palavras dando-lhes uma definição precisa. Essas definições influenciarão o nosso sistema de pensamento e torná-las-ão audíveis de um mesmo modo para cada um.
De facto, praticar a linguagem de uma maneira fixa redunda em dar-lhe um peso que a fossiliza.
Pode-se, pois, comparar a linguagem fixa à matéria, mesmo a linguagem articulada pelo sopro.
Pode-se falar também de leitura literal. Pode-se com efeito semear palavras e nunca as deixar eclodir.
- –Nível do homem de desejo: nível das pessoas que sentem o desejo de partilhar uma intimidade mais profunda com as palavras.
Aqueles que sentem o desejo de dar asas às palavras deverão começar a tomar consciência delas, a fim de não mais pronunciar uma palavra por hábito, mas sim analisando aquilo que ela significa exactamente.
Como diz J. Audiard: “Felizes sejam os excêntricos, pois eles deixam a luz passar”.
Trata-se de fissurar a nossa visão estática das palavras, deixando que elas sejam filtradas pelas fendas e libertando-as, pouco a pouco, da sua ganga.
Este trabalho é apanágio dos escritores e dos poetas.
Os poetas são alquimistas das palavras e muitas vezes nem o suspeitam.
- -Nível do Novo Homem: a terceira porta do percurso iniciático.
Na língua das Aves estará na nossa capacidade de conferir-lhes asas (do amor).
Isto é : unir a linguagem com sua origem para além de suas definições.
Maria Azenha, 2020, Maio
https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Azenha
(Trabalho baseado em reflexões de Josselyne Chourry, in “A língua dos pássaros”)
Alguma Bibliografia :
BIGE, Luc. Petit dictionnaire en langue des oiseaux. Paris: Janus.
MONIN, Y. Hieroglyphes francais et Langue des Oiseaux. Paris: Point d’Eau, 1982.