PEDRO SEVYLLA DE JUANA
Pedro Sevylla de Juana, escritor español, académico correspondente da Academia de Letras do estado de Espírito Santo em Brasil, y premio internacional Vargas Llosa de novela/romance, ha publicado treinta libros y mantiene su blog literario https://pedrosevylla.com
Quando a minha desbordante imaginação
imaginou ouvir o primeiro dos três avisos
– sinos celestiais repicando e dobrando,
apocalípticas trombetas e tambores
capazes de encher com seu grito bronco
os enormes
ocos do silêncio cósmico;
e no Planeta Terra
os recursos humanos
todos
em poder duns poucos
indivíduos desumanos –
advertências anunciadoras do fim do Universo;
minha desbordada imaginação
sentiu a necessidade
de dispor dum Ser sábio, justo e forte
que impedisse a continuidade
do processo destruidor.
Entendi a explicação, aparentemente, científica,
que a imaginação teve a bem me confiar sobre
a origem do fim universal,
e aqui a exponho:
Tendo chegado a seu termo a expansão
dos quase infinitos corpos celestes,
atingidas umas distâncias, entre si, descomedidas,
a Lei da Gravitação Universal de Isaac Newton,
– utilíssima até então –
perdia os seus efeitos e, desorientados,
planetas e estrelas,
começaram a chocar uns com outros
a velocidade exorbitada,
caindo nos buracos negros
mais absorventes.
Algo devia pensar e muito a pressa
para evitar o cataclismo,
enquanto se dava com uma solução
definitiva.
Propôs-se, ínterim, pôr em marcha
a Teoria da Relatividade
de Albert Einstein, já desenvolvida.
Aceitada a proposta
minha imaginação seguia em seu empenho.
Conduzir o rebanho de planetas
de regresso ao ponto original
é tarefa de um Ser tão forte ou mais
que o Demiurgo Criador,
dormido ao término
daquelas extenuantes tarefas
de Arquiteto Universal.
Me pareceu laudável sua intenção substitutiva,
mas adverti
que, um Ser assim,
tinha sido imaginado milhares de vezes,
quiçá milhões,
coletivo ou individualizado;
dispondo ao redor dele
uma parafernália envolvente com jeito
de concha de tartaruga, tão pesada,
que lhe impedia avançar.
Se faz necessária, nesse caso,
respondeu reflexiva,
incorporar os conhecimentos obtidos
nos intentos anteriores,
e os reparos
da parte inconformista da humanidade,
suas lógicas alegações.
Luz será, expôs, já postas as mãos na obra,
todo Ele luz: um resplendor de intensidade máxima,
que ilumine a matéria e a energia escuras
tão difíceis de pastorear.
De areia será o Ser imaginado:
de areia recolhida grão a grão duma praia de Vitória:
a ampla Camburi: ferro e carvão diluídos;
e nos areais ásperos que, em Valdepero,
se encontram trás o Campo-santo e a Ermida.
Areia todo Ele, gotejando pelo orifício
central, união separadora de dois
cones opostos
em posição mudável –aurícula e ventrículo–
continuidade, Ele,
do tempo intermitente
medido e contado em gigantesco
relógio de areia
grãos finos e ásperos mesclados.
Desse modo
continuava o projeto minha imaginação,
desbocado já seu impulso criativo:
Um poço de sabedoria será;
de onde o homem
extraia
inumeráveis
caldeiros.
Um livro grosso onde se possa consultar
qualquer assunto,
qualquer data, qualquer significado
que qualquer pessoa, animal, planta ou pedra,
electrões, fotões e neutrinos;
necessitem conhecer para um fim preciso
ou impreciso, próximo ou afastado.
Um recipiente capaz, uma profundeza, também;
para que o homem arremesse todos seus desafetos;
sumidouro
de substâncias
residuais
recicladas.
Espelho espacial no céu nítido, charcos de chuva
ou lâminas de obsidiana a cada trecho, será;
para que as criaturas animadas e inanimadas
se possam ver como o Ser as vê no momento;
para que a cada sujeito saiba o que pode esperar
do Ser e corrigir sua própria andadura
se fosse necessário e assim o desejasse.
Já que não pode existir democracia representativa
na eleição do Ser, por sua unicidade exclusiva;
Ele mesmo elegerá conselheiros humanos,
que acrescentem
a sensatez da humanidade nas questões
que à humanidade afetem: a imaginação disse,
me assombrando mais uma vez.
Serão designados conselheiros aqueles
impulsores da convivência ativa
que entendam o próprio como parte
do coletivo
rotação e translação em um tempo,
pensamento e ação,
sustentação e desenvolvimento.
Com a criação do Ser Onipotente
termina o bucólico relato,
essa maneira poética de dizer
o que a ciência acabará sabendo
e a continuação escrevo
unindo duas teorias
que pareciam contrapostas.
Eternidade adiante
os fenômenos de escape e concentração
se sucederão sem fim, me disse
a imaginação já transbordada.
Começará agora o retrocesso:
buracos negros somando-se
a outros buracos negros para dar
o Buraco Negro enorme e único
que absorve Tudo.
A matéria convertida em energia
se concentrará em um só ponto,
esfera ingente e mínima,
à espera de uma nova Grande Explosão,
governada, pela já inquestionável
Lei da Relatividade Geral.
Referindo-se aos atuais habitantes
do Planeta Terra, a imaginação acrescentou:
chegado o primeiro golpe de aldrava,
para evitar o segundo:
apocalípticos tambores e trombetas
ressonando,
bramando os enormes sinos celestiais;
distribuirão os açambarcadores,
de maneira imediata e eficaz, os recursos
tão injusta e empenhadamente concentrada
nas mãos de uma minoria ínfima
de indivíduos desumanos.
E dito o que a minha imaginação idealizou,
escrito com as mãos simétricas
governando cada uma a metade do teclado,
fique aqui como proposta de solução
o meu desejo assentado.
PSdeJ Espanha 2018