A invenção da Primavera

 

JOSÉ PASCOAL


Notícia retransmitida por Nicolau Saião

UMA TRISTE NOTÍCIA

Recebi há bocado, nesta terça-feira que assim fica marcada com uma bola preta, o mail seguinte:

Sou a mulher do José Pascoal e trago-lhe a triste notícia da morte do Zé no dia 30 de Abril após 2 meses de luta inglória contra a doença.

Obrigada pelo contacto.

Paula Chaves

   Talvez se recordem que dias atrás eu dera a notícia de que a Gazeta de Poesia, sustentada há vários anos por este confrade e poeta de merecimento, tinha sido encerrada, o que a meu ver tornava o quotidiano mais pobre. E mais pobre ficou agora com a partida do autor de “Excertos Incertos”.

Como homenagem mínima e póstumo abraço proverbial, transcrevo um dos poemas que dele tinha para publicar no “Casa do Atalaião”, onde se poderão ler outros textos do autor que sempre foi para mim, no contacto epistolar que mantivemos, muito cordial e participativo.

ns

                                                            *

A INVENÇÃO DA PRIMAVERA

 

A Primavera é feita de costumes

Brandos e bravos,

Vento que purifica os corpos,

Luas perfeitas como lâmpadas,

Livros sagrados por abrir,

Mãos que se abrem a sorrir.

 

É uma Primavera inventada

A partir dessa estranha calma

Que me invade nas noites sem dormir,

Sem saber quem serei

Quando o sono me levar

Para o último mar.

 

Depois de consagrada,

Não me falta mais nada.


José Pascoal