A infância de um chefe

 

NICOLAU SAIÃO


Escreveu, num dos órgãos de comunicação em que se expande, um dos jovens turcos do partidão que foi de Cunhal e agora é de Jerónimo, ambos por obra e graça do todo poderoso Comité Central, que “ A palavra de um comunista vale mais que um papel escrito”, cito de memória, querendo com isto dizer que nem é preciso assinar-se um qualquer papelucho com qualquer projectado acordo.

Num blog de referência, um dos postadores pergunta-se como é que um sujeito maior e vacinado, ainda que novito – (como usa dizer-se um homem de barbas na cara) e que até “parece bom tipo” – pode ser um comunista ferrenho após conhecer-se, como hoje se conhece, a parafernália de crimes, opressões e misérias levados a cabo por essa ideologia em todos os lugares por onde passou o legado de Lenine e, depois, do seu camarada e continuador Staline.

É fácil de descriptar isto, à luz da teoria comportamental e do simples bom-senso: como todos os membros de formações totalitárias, o indivíduo em causa é claramente um romântico iludido (basta ouvi-lo falar na TV: atabalhoadamente, com um ar simultaneamente impositivo e primarizado), imbuído de conceitos “generosos” a que uma instrução curricular decerto confusa conferiu uma sedimentação “ingénua” ainda que autoritária.

Ele terá sido um adolescente sonhador, politicamente, com boas intenções para com o mundo e o seu semelhante. E, como habitualmente nestes casos, a ligação muito intensa a uma propaganda para quadros e a imersão num colectivo de topo – onde o ambiente deve ser muito exigente e o controle muito apertado por razões de estrutura – fez o resto.

Eis pois como se transforma um “bom tipo” num autoritário crente e num eventual fanático. Daí este seu posicionamento, de tipo “honradez à antiga”, de que a palavra dum militante vale um acordo escrito e formal. Mas não confere. É apenas estratégia no sentido de caucionar a potencial ausência de acordos, sejam eles isto ou aquilo, coberta com a célebre propagandeada “superioridade moral” dos ditos.

Em suma, a velha concepção lenino-stalinista em versão galo de Barcelos… orgânico.

 


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