ANTÓNIO JUSTO
TERREMOTO NA SÍRIA E TURQUIA – A DOR NÃO TEM FRONTEIRAS!
Sociedade civil nas Sombras da Sociedade política
O terremoto de escala 7,8 de 6 de fevereiro na região da fronteira turco-síria, destruiu só na parte turca mais de 1.700 edifícios. Até agora contaram-se mais de 20.000 mortos e mais de 66.000 pessoas ficaram feridas; na Turquia até agora registaram-se 17.134 mortos e na Síria 3.317 mortos. A Turquia e a Síria solicitaram ajuda internacional. O secretário-geral da ONU, Guterres, pediu a abertura de mais passagens de fronteira para a Síria e que a ajuda humanitária não devia ser politizada. Até agora só um comboio da ONU com suprimentos de ajuda chegou à Síria pela primeira vez desde o terremoto. A Sociedade Internacional de Direitos Humanos (ISHR) pede a suspensão imediata das sanções contra a Síria! De facto, o pensamento de todos nós deve estar nas vítimas, a dor não tem fronteiras!
A terra tremeu na Turquia e na Síria espalhando a desgraça entre as populações, mas, se tivermos em conta a imediata ajuda internacional, a terra não tremeu de maneira igual nos dois países! A ajuda internacional para a Turquia começou logo em grande escala, e os curdos no norte da Síria foram quase inteiramente abandonados à própria sorte. É chocante como as atitudes políticas afetam as relações humanas da Europa com as vítimas do terremoto e a maneira hipócrita como se procuram explicações para não ajudar de igual modo as duas regiões atingidas.
Aparentemente, a condição das vítimas depende apenas do ponto de vista da consideração dos interesses! A dor do adversário corre perigo de se tornar pomada de alívio para a própria dor.
A Agência americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) prometeu ajuda no valor de 85 milhões de dólares para a Turquia e a Síria. O Banco Mundial prometeu uma ajuda de cerca de 1,66 mil milhões de euros) à Turquia, prevendo uma ajuda imediata de 780 milhões de dólares a partir de dois projectos existentes na Turquia.
Apesar do terremoto, o presidente turco continua a bombardear a região curda, como vem fazendo há anos sem que internacionalmente se proteste. A Turquia e os EUA são contra o governo da Síria; a Rússia e o Irão são a favor. A organização curda YPG é parceira dos EUA contra o EI na Síria. Escandalosamente a guerra continua e aqui, na opinião pública, não se menciona a desconformidade com o direito internacional. Confirma-se a hipocrisia da política que ignora a guerra que a Turquia, membro da OTAN, está travando contra os curdos fora do país e por outro lado imiscuindo-se com armas no conflito da Ucrânia. Tem-se a impressão que relativamente à região curda não há grito contra a desumanidade do agressor e faltam as lágrimas de piedade pelas vítimas.
Urge uma política sensata e humana, só que falta recrutar homens/mulheres preparados para tal.
António CD Justo
Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8293