A Associação Cultural SOL XXI

MYRIAM JUBILOT DE CARVALHO
A Associação Cultural SOL XXI 

Myriam Jubilot de Carvalho, pseudónimo de Ana Maria de Fátima Oliveira Domingues (Portugal, Tavira, 1944). Tem publicado conto, poesia, estudos, teatro para crianças, reportagens, em páginas literárias de jornais e revistas. 


Homenagem a Orlando Neves, Vítor Wladimiro e,
muito em especial, a Luísa d’Andrade Leite

 

1- A Associação Cultural SOL XXI

A SOL XXI foi uma Associação Cultural, fundada e dirigida pelo grande poeta e cidadão que foi Orlando Neves.

Orlando Neves foi o seu fundador e presidente, e Luísa d’Andrade Leite sempre desempenhou a função de secretária da associação.

A Associação Cultural SOL XXI viveu cerca de 20 anos, sendo os primeiros 10 de intensa actividade. Não “usufruindo de apoios de nenhuma espécie”, tinha por objectivo “dar voz e presença” aos poetas portugueses, tanto aos consagrados como àqueles em princípio de carreira, como àqueles que “radicados na chamada Província raramente têm acesso à comunicação, num tempo em que os jovens de poucos estímulos dispõem para iniciar o seu percurso criativo” – conforme as palavras de Orlando Neves na NOTA DE ABERTURA da Revista Nºs 1 e 2, em Setembro de 1992.  Pelo que congregava poetas de todo o País.

Produzíamos uma revista mensal ou, por vezes, bi-mensal; tínhamos um encontro anual, nacional, com o patrocínio de alguma Câmara que nos quisesse acolher. Houve encontros destes em Vila Viçosa (vários), em Albufeira, em Condeixa, vários também em Moimenta da Beira…

Tínhamos ainda, aqui em Lisboa (neste caso para os residentes em Lisboa e arredores e todos os que viessem a comparecer) um almoço mensal ou com periodicidade equivalente.

A Associação tinha um órgão mensal, a Revista Literária Sol XXI, que era feita com toda a seriedade. Integrava ensaio, produção poética e em prosa, e recensão de livros publicados.

Havia quem se queixasse (ou acusasse) que a produção (literária) publicada era por vezes de nível literário ‘inferior’. Mas Orlando Neves sempre defendia que:

“São todos sócios, pagam as quotas, têm o direito de ver os seus textos publicados.”


2 – Como nasceu a SOL XXI. Orlando Neves

Orlando Loureiro Neves (1935-2005), nome prestigiado de poeta, romancista e ensaísta, também dicionarista, ligado ao teatro e ao jornalismo, tinha feito parte da Associação Amigos dos Castelos e, simultaneamente, tinha fundado a Associação Património XXI, ligada especificamente à Literatura.  Mas a certa altura, algumas das exigências legais não estavam a ser preenchidas como devido, como por exemplo, a manutenção de um livro de actas

Sem grandes alternativas, deu-se por extinta a Património XXI, e deu-se início, com todos os RR e FF à sua sucessora, a Associação Cultural SOL XXI.

Foram seus fundadores ‘oficiais’ o marido de Luísa d’Andrade Leite – Vítor Manuel Manique da Silva Neves, e Margarida Lucena Sampaio Sanches, declamadora e membro do Grupo Dizer (posteriormente, Jograis SOL XXI), pois foram eles quem subescreveu todos os documentos oficiais. Um pró-forma. Orlando Neves continuou a ser a alma da Associação, de que foi o primeiro presidente e grande dinamizador.

A tarefa burocrática de organização dos livros oficiais de contabilidade e registo de actas ficou a cargo de Luísa d’Andrade Leite, bem como todo o contacto com os sócios; e depois da fundação da Revista, os contactos com as tipografias, analisando preços e prazos, propiciando depois o seu envio a todos os sócios.

Orlando Neves gostava de se ver rodeado de amigos. Essa foi uma das razões para o surgimento da mencionada Revista. Reunia os amigos em sua casa, na Rua do Sol, ao Rato (em Lisboa). Desse convívio nascia algo de visível e útil – a “Sol XXI – Revista Literária”.

Aí aconteceram grandes serões de trabalho, muito informais, com discussão de propostas e de opiniões. E éramos vários – Luísa de Andrade Leite, João Orlando Travanca-Rêgo, José Manuel Capêlo, José do Carmo Francisco, Margarida Sanches, eu própria. Mais tarde, também Ulisses Duarte. Mas apesar de serem ouvidas e ponderadas as opiniões e sugestões de todos os participantes, o expert era Orlando Neves, e num acordo tácito, ele tinha o respeito, admiração e confiança de todos, e a última palavra.

Os diferentes pelouros da redacção de uma revista eram atribuídos aos nossos nomes:

Director: Orlando Neves

Directores-adjuntos – António Rebordão Navarro e J. O. Travanca Rêgo

Editor: Henrique Madeira

Chefe de redacção – José do Carmo Francisco

Redactor principal – José Fernando Tavares

Editores artísticos – Pedro Massano e Ulisses Duarte

Redactores – Fátima Oliveira (nome com que eu assinava, nessa época), Luísa d’Andrade Leite, Leonilda Alfarrobinha, Inês Sousa Gomes, Ulisses Duarte

Secretária de redacção – Fátima Oliveira

Como disse atrás a propósito da refundação da Associação, tudo isto eram pró-formas. As reuniões decorriam em óptima camaradagem. E o trabalho duro ficou sobre os ombros de Luísa Leite. Era ela quem chamava Orlando Neves a baixar à realidade e a manter os livros oficiais em dia. Quanto à planificação da Revista, decorria pelas mãos de ambos.

Ainda da mesma NOTA DE ABERTURA, cito estas palavras de Orlando Neves:

“Num tempo em que os demais órgãos de imprensa pouco relevo dão à literatura e em que, sobretudo, não abrem as suas páginas à publicação de ficção, poesia, teatro […] surge SOL XXI com intenção de ser (até onde puder) veículo de divulgação e local de acolhimento, sem quaisquer baias limitativas que não sejam as de uma qualidade minimamente defensável, se bem que, absolutamente, discutível. SOL XXI é tão só isso – espaço amplo, incensurado e não sectário, à disposição de todos os que escrevem.”

Ainda no âmbito da SOL XXI, Orlando Neves conseguiu uma página literária no jornal “Correio Beirão”, de Moimenta Beira, para onde a certa altura mudou a sua residência, e onde os sócios puderam publicar contos, ensaios, e poesia.


3- A dinamização e o secretariado. Luísa d’Andrade Leite