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venda das raparigas . britiande . portugal . abertura: 2006
R.'.V.'.C.'. das Raparigas, nº 16,
segundo Carta Constitutiva Definitiva de 2 de Outubro de 2010
STELLA CARBONO M.'.M.'.C.'.
A Carbonária e a República
Primeira Parte

(Conferência no Ateneu Comercial do Porto, a 25 de outubro de 2014; publicado originalmente na revista Incomunidade, 27, outubro, em:
 http://www.incomunidade.com/v27/index.php?page=2; e a segunda parte no número seguinte, de Novembro)

 Caçavam a pacaça, mataram o jaguar

O que é a Carbonária? – pergunta-se. Não existe uma, existem muitas carbonárias, independentes umas das outras. São frequentes expressões do género: “A Carbonária de Luz de Almeida”, “A loja em que foi iniciado D. Pedro do Brasil era uma carbonária”, “O Sinédrio foi uma pequena carbonária”. Vejamos: a Carbonária de Luz de Almeida, chamada Carbonária Portuguesa, é distinta de uma outra Carbonária Portuguesa, cujos regulamentos, com data de 1854, comentei há dois ou três anos numa conferência na Reitoria da Universidade do Porto. Separadas por cinquenta anos, documentam uma pluralidade que não se esgota na palavra “carbonária”. As carbonárias funcionam pelo menos desde finais do século XVIII, com nomes variados, mas em Portugal só se reconhece geralmente uma delas, a Carbonária Portuguesa de Luz de Almeida, porque de todas teve a ação histórica mais aparatosa – participação no derrube da monarquia e implantação da República.

E o que são as carbonárias? Dizer que se trata de organizações maçónicas não é resposta que reúna consenso dos historiadores maçons e profanos. Debater esse assunto consumiria o nosso tempo sem proveito, por isso recordo apenas duas situações opostas: Fernando Pessoa, referindo-se à organização de Luz de Almeida, não a identifica com a maçonaria. Escreve ele: “aquela patriótica associação de parvos e de odiosos que é a Carbonária Portuguesa”. À Maçonaria trata-a ele bem, no seu conhecido texto “Associações secretas”.

As carbonárias ainda infundem pavor, dado o o mito do secretismo e as românticas iniciações em cemitérios, além da conotação subversiva. Ao tempo em que a revolução se preparava, também Machado Santos, oficial da Marinha a quem se atribui o sucesso do 5 de Outubro e o relatório dos acontecimentos, escreve:

 “João Chagas parecia não gostar da carbonária. Numa reunião de oficiais chegou a dizer que era dispensável o seu concurso! O capitão de fragata Fontes Pereira de Melo opôs-se e declarou que, sem a carbonária, não dava o seu concurso à revolução. Efetivamente havia de ser difícil fazer qualquer movimento sem ela: o exército e a marinha tinham sido todos aliciados por ela e, entre a oficialidade, presente à reunião, mais de metade tinha nela tomado os seus compromissos de honra! O elemento civil era quase todo carbonário ou estava ligado, sem  saber, aos carbonários, assim como a Associação tinha as suas raízes apoiadas nas lojas maçónicas, sobretudo na Montanha.”.

Opondo-me aos que consideram a carbonária estranha à maçonaria, direi que só a conheço na qualidade de associações pertencentes à Maçonaria Florestal, Maçonaria Verde ou Maçonaria da Madeira, praticante do Rito Florestal, exemplo da Maçonaria Florestal Carbonária do Brasil e da Maçonaria Florestal Carbonária do Paraguay.  Não se trata assim daquela maçonaria que reúne em lojas, e cujos filiados se tratam por Irmãos, sim de outra, em que se tratam por Bons Primos e reúnem em choças, barracas e vendas. Porém existem grupos de Bons Primos independentes da maçonaria, caso dos charbonniers  franceses e belgas da Venda La Renouée. Estes Bons Primos e Boas Primas praticam o rito florestal em templo de ar livre, na floresta flamenga, e como paramentos usam apenas avental de pele de borrego. Não são carbonários, isto é, não se identificam com o movimento a que pertenceu Giuseppe Garibaldi, que lutou nas Guerras Farroupilhas pela independência do Rio Grande do Sul, antes de pugnar pela unificação de Itália, com a sua mulher, Anita Garibaldi, Ana Maria de Jesus Ribeiro de seu nome português. La Renouée não se identifica com a tradição italiana, sim com a francesa, porém na raiz de carbonários e charbonniers chispa o mesmíssimo carvão em brasa. Esta Venda é recente, por isso creio que é para desafiar as Constituições de Anderson que alguns dos carvoeiros, além da idade avançada, são portadores de deficiência física. Uma Boa Prima, já idosa, participa nas sessões em cadeira de rodas, e um Bom Primo está quase cego.

A Carbonária Portuguesa de 1910 foi criada por Luz de Almeida com elementos da Maçonaria Académica e da Loja Montanha, de que era Grão-Mestre. Segundo Machado Santos, Grão-Mestre da Carbonária, herói que,  sozinho, assegurou a queda da monarquia, segundo se lê nos textos sobre esta matéria, e nos deixou um relatório dos acontecimentos dos dias 3, 4 e 5 de outubro,

“a Carbonária Portuguesa que se tinha reorganizado recentemente e tinha absorvido o que restava da Carbonária Lusitana após a morte de Heliodoro Salgado e da fragmentação das suas estruturas organizativas após as prisões efetuadas no rescaldo da explosão da Rua de Santo António à Estrela, garantia a colaboração de um considerável número de civis dispostos a serem integrados nas acções que a Marinha determinasse”.

Os acontecimentos da R. de Santo António à Estrela, a que alude Machado Santos, foram a explosão de bombas no quarto do escritor Aquilino Ribeiro. Tinha ele na altura 21 ou 22 anos e caminhávamos para a República ainda em 1907. Dois camaradas morreram de imediato, Aquilino sofreu um tremendo abalo e logo foi preso. Vale a pena referir que se evadiu com artes de Houdini uns dois meses depois, forçando o aloquete e removendo os parafusos da fechadura do cárcere que substituiu por outros feitos de miolo de pão, para se escapulir no momento oportuno.

Se bem que a revolução estivesse mais desarmada do que armada, Lisboa, à época, era um barril de pólvora, nos sentidos literal e figurado, e muitos cidadãos impecáveis se dedicavam ao fabrico de bombas, no recato dos quartos de dormir e salas de jantar. Aliás, as pessoas mais insuspeitas pertenciam à Carbonária, como João Soares, o fundador do Colégio Moderno. Mário Soares, no prefácio de Um escritor confessa-se, de Aquilino Ribeiro, deixa claro que o pai, como inúmeros cidadãos, participou na revolução e na Carbonária, não porém no regicídio.

O assunto da revolução armada é algo caricato, pois de um lado diz-se que Lisboa era um barril de pólvora, o que é verdade, mas insuficiente para vencer o exército do Rei, supondo que ele tivesse algum devidamente equipado. Realmente a República implantou-se sobretudo com as armas da linguagem, e retórica em primeiríssimo lugar, traduzida em propaganda política. Propaganda republicana veiculada pelos livros e pelos maçons, alveneiros e carbonários, nos cafés, nas lojas e vendas. Liam-se os filósofos comunistas e anarquistas, lia-se Engels, e os carbonários aliciavam com esta propaganda para as suas fileiras. A base revolucionária, entretanto, na senda do Liberalismo, vinha ainda da Revolução Francesa, com os princípios da “Igualdade, Liberdade e Fraternidade” difundidos pelas duas Maçonarias, a da Pedra e a da Madeira. Implantada a República, é curioso ver que as fórmulas de tratamento se politizam, mesmo entre familiares, à maneira da Revolução Francesa. Foi com alguma emoção que dei conta, compulsando o espólio da família Passos, de S. Brás de Alportel, que as sobrinhas brasileiras do carbonário patriarca da família, na correspondência enviada pelo correio, o identificavam como “Cidadão Bernardo Passos”. A dado passo da marcha para a República, primeiros dias de outubro de 1910, conta Machado Santos que, ao encontrar-se com o almirante Cândido dos Reis, outro líder revolucionário, este lhe dera a senha. A senha incluía o termo que é raiz de conceito muito em voga hoje, o de cidadania. Eis a senha: “Mandou-me procurar? – Passe, cidadão!”.

Implantada a República, a correspondência oficial, emanada dos centros do Estado, rematava com a saudação carbonária que ainda hoje se utiliza nas vendas, em português ou no original italiano: “Salute e Fratellanza!”. O termo “jacobino”, que se vulgarizou tanto em torno da República, provém ainda da Revolução Francesa, e designava pejorativamente os radicais de esquerda, os “mata-frades”, como foi apelidado o extremista Afonso Costa, com a sua legislação contra o clero.

Mas voltemos às armas, às armas!, como cantamos no hino nacional, também ele, com a bandeira, nascido na floresta carbonária. Armas de fogo era coisa rara no mercado, e mesmo nos quartéis. Nem se vê como poderiam os civis comprá-las, caso existissem bastantes lojas, com pistolas e carabinas suficientes para todos. Os que já leram algo sobre a Carbonária sabem que um dos requisitos para a iniciação era o de possuir arma de fogo com os competentes cartuchos. Dando atenção aos relatos dos implicados, parece que tudo isto é mais utopia e mito do que realidade. Hoje em dia, não se formula tal requisito. O escritor fala de uma reunião carbonária para os lados de Algés em que se referiu a escassez de armas; é nessa reunião que conhece Manuel Buíça, futuro regicida, de tendências anarquistas. Eis uma figura curiosa, este Manuel Buíça, professor de instrução primária no Colégio Nacional, que teve como aluno um dos grandes do modernismo português, então chegado de S. Tomé e Príncipe, no mesmo navio em que regressava das suas explorações o naturalista Francisco Newton, José de Almada Negreiros. Em Algés, no tal encontro de carbonários, discute-se que armas tinham e não tinham naquele preciso momento; ora as armas de que nesse preciso momento revolucionário dispunham eram “bombas de pataco, duas pistolas e um revólver”. Convenhamos em que não chegavam para derrubar a monarquia, caso a monarquia estivesse bem armada e caso fossem as armas de fogo as indispensáveis à revolução, que não foram, pois mais importantes, repito, eram as palavras, na instrução e sedução do povo. Face à contagem das armas, Manuel Buíça pergunta se os civis não podem fazer a revolução sozinhos. A conversa dá lugar a uma zanga que esclarece bem o que se passou no regicídio: ele não estava programado, não fora ordenado por ninguém. Nem na Carbonária, nem no Partido Republicano, a morte do Rei D. Carlos e do príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, fora ordenada. Ordenada, sim, tinha sido a morte do ditador, o ministro João Franco. Mais: nas altas esferas de decisão, fora declarado que a revolução não teria início enquanto João Franco andasse à solta. Por consequência, eliminar o ditador era condição sine qua non para o avanço das hostes republicanas.

Acontece entretanto que João Franco, já suspeitando, andava fugido, e nem sequer dormia duas noites seguidas na mesma casa. No dia 1 de Fevereiro de 1908, de regresso de Vila Viçosa, uma vez desembarcados do vapor D. Luís, sabia-se que a família real seguiria de coche pelo Terreiro do Paço e que o ministro estaria ali presente para a receber. Alfredo da Costa e Manuel Buíça tinham por missão disparar sobre João Franco nessa altura. Mas João Franco seguira caminho diverso do previsto, de tal modo que, mortos já o marido e o filho, quando se apresentou na cena da tragédia, a rainha D. Amélia não o poupou, acusando-o em público, como se tivesse sido ele a disparar sobre a família real: “Olhe para a sua obra!”.

Voltando então atrás, João Franco andava fugido, por isso não se deixara ver pela mira da carabina Winchester que Buíça lhe devia ter apontado (1). Não o apanhando, Buíça e Costa, em situação de desespero, resolveram que “Ou vai ou racha!”, e dispararam sobre a carruagem real, matando o Rei e o príncipe herdeiro. Eles tinham ido à caça. Não encontrando a pacaça dispararam sobre o jaguar, como se diz nos textos da época.

Do debate subsequente a esta conferência, no Ateneu Comercial do Porto, surgiram informações que agora utilizo, em especial as fornecidas por Paulo Burnay, que cordialmente enviou também uma imagem do cartão de sócio da «Sociedade de Tiro nº 2», antigo «Grupo Pátria», fundado em 1893, com a divisa Decorum Est Pro Patria Mori. A actividade desse clube civil era a execução de tiro ao alvo com espingardas idênticas às militares. «No atentado contra a família real foi também usada uma pistola automática Browning 9 mm, porventura a mesma que vi exposta no Panteão Nacional (ferrugenta, maltratada, em suma, sem o respeito que merece)», acrescenta Paulo Burnay.
 

MARIA ESTELA GUEDES
A Carbonária e a República
Segunda Parte

O Café Gelo e os encontros de carbonários 

Porquê a mudança de regime? Porque a indignação era muito intensa e alcançara, como hoje, todas as camadas de uma população farta dos desmandos do Poder; os portugueses só queriam por isso sacudir a predação, a ditadura, as prisões abundantes de intelectuais e a lei da rolha, nome por que era conhecida a censura exercida sobre a imprensa.

Em 1907 Aquilino Ribeiro fabricava bombas no seu quarto, e em 1908 dois anarquistas-carbonários assassinaram o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe. O 5 de Outubro ainda teria de esperar por 1910, mas uma das razões mais fortes de todos estes acontecimentos, em que é necessário incluir várias tentativas falhadas de revolução e muitas prisões, foi o Ultimato, em 1890. E outras fortes razões de descontentamento havia, em resultado das despesas e dívidas da Coroa e da ditadura de João Franco. O ministro deixara que a dívida real ultrapassasse os setecentos contos e que os palácios, iate Amélia e casas reais fossem aceites como penhor, quando esses bens já pertenciam ao Estado. Acrescentados ao vexame infligido pelos ingleses o descalabro do Crédito Predial e a própria falência do regime, a Nação ficara ao rubro.

Se bem que Raul Brandão, nas suas memórias, deixe a insinuação de que fora ventilada a hipótese regicida numa loja maçónica, a morte de D. Carlos naquele dia e naquele contexto não foi ordenada por ninguém, tanto mais que tinham sido presos os nomes de topo do Partido Republicano e da Carbonária, uns e outros implicados na revolução. António José de Almeida, João Chagas, Magalhães Lima, Luz de Almeida e França Borges estavam na cadeia. Além disso, o plano de afastar João Franco falhou porque o sargento Teodoro Oeiras o tinha denunciado. Para cumular o desaire, descobriu-se um depósito de armas no Largo de S. Julião, motivo por que foram presos ainda mais líderes: o Dr. Afonso Costa, o Visconde da Ribeira Brava, o tenente Álvaro Pope e o Dr. Egas Moniz.

O Ultimato inglês, telegrama enviado ao governo português a ordenar a retirada das nossas tropas da zona do mapa cor-de-rosa compreendida entre Angola e Moçambique (actuais Zimbabwe e Zâmbia) é considerado uma das causas que intensificaram a intolerância pela monarquia. Recuemos um pouco. As últimas décadas do século XIX foram a coroa de glória da História Natural, com sede em museus e nas recém-criadas sociedades de Geografia. Os olhos da Europa estavam postos em África. O interesse científico no levantamento dos produtos naturais das colónias era a máscara da partilha de África pelas potências europeias colonizadoras. Realmente não havia ainda grande colonização, de África só se conhecia a bem dizer o litoral, porque não tinha havido interesse em conhecer mais: o que até então se colonizara e explorara comercialmente fora o continente americano. Acontece que as colónias americanas se tinham tornado independentes (graças ao contributo maçónico, e em especial carbonário, pelo menos no Brasil), daí decorrendo perda de mercado e de matérias-primas. Por consequência, perdida a América, a Europa voltou-se para África. Dois dos adversários na partilha do continente negro eram a Inglaterra e Portugal. Portugal queria o domínio na faixa de costa a costa que vai de Angola a Moçambique. A Inglaterra queria dominar, não na horizontal, sim na vertical, desde o Cairo ao Cabo. Ora, para alcançarem os seu objetivos, os governos mandaram naturalistas para África, que coligissem espécimes da etnografia, flora, fauna e mineralogia, de modo a satisfazerem o requisito à legitimidade da colonização, que era o conhecimento científico dos territórios para bem desencadear o seu progresso. Muitos desses naturalistas-exploradores eram militares, caso daquele que motivou o incidente, major Serpa Pinto. Na sua quase inocente missão de naturalista-explorador, para glória da Sociedade de Geografia de Lisboa, Serpa Pinto andava a coligir espécimes da flora, da fauna e da mineralogia em território que não pertencia a Portugal, mas que Portugal desejava colonizar, entre Angola e Moçambique. À frente dos seus soldados levava hasteada a bandeira portuguesa. Os ingleses não gostaram e mandaram retirar. Podemos perguntar, em aparte: como é que os ingleses, em Londres, souberam que o major Serpa Pinto andava pela selva africana, em zona do mapa cor-de-rosa onde havia de passar o comboio britânico? Por detrás de cada arbusto havia espiões, de várias nacionalidades, na maior parte disfarçados de missionários, de ornitólogos ou de botânicos, por muito que tenham prestado relevantes serviços à ciência. Os museus da Politécnica, em Lisboa, podiam ter sido magníficos repositórios de colecções ultramarinas, reunidas por homens como Serpa Pinto ou sem patente militar: Capelo, Ivens, José de Anchieta e Francisco Newton, entre dezenas de outros. O mesmo acontecia com as demais potências europeias, que para África enviaram os seus exploradores-informadores. Algum deles advertiu a Inglaterra, de maneira que o governo britânico mandou retirar e a irritação veio de os portugueses terem sentido que o Rei e ministros haviam cedido ao medo, obedecendo sem reclamar. Os cidadãos, que na altura já conheciam o valor da palavra “cidadão”, não só não perdoaram como criticaram largamente num variado anedotário e até se congregaram para angariação de fundos destinados a comprar um vaso de guerra que vencesse a esquadra inglesa estacionada, ou a posicionar, frente a Lisboa, caso Serpa Pinto não retirasse com os seus soldados e colecções de aves. Esse vaso de guerra, o cruzador Adamastor (2), viria a ter algum papel no 5 de Outubro, apesar de os líderes da revolução, em especial Machado Santos, ignorarem até ao fim se a Marinha aderiria ou não à revolução. No ensaio que dedica ao navio, o contra-almirante José Luís Leiria Pinto refere a sua participação: «No ano de 1910 foi montado no navio um aparelho de T.S.F.. Igualmente nesse ano, na madrugada do dia 4 de Outubro, o 2º tenente José Mendes Cabeçadas Júnior toma revolucionariamente o comando do navio e manda disparar 3 tiros, sinal que, na prática, marca o início da implantação da República.»

Algo importante resultou das movimentações provocadas pelo Ultimatum, o nosso atual hino. A Portuguesa, com letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil, nasceu neste contexto de hostilidade popular à Inglaterra. O texto original era diferente. Onde hoje se canta “Contra os canhões, marchar, marchar”, na versão original era “Contra os Bretões, marchar, marchar”. Se Rei e governo recuaram perante os ingleses, os cidadãos manifestaram a vontade de passar a vias de facto. E passaram. Mas não parece que a organização fosse a melhor, com adiamentos, desistências, falta de comunicação e pouca vontade de assumir compromissos, ordens de retirar a cada passo, e esse despir a farda e envergar a roupa civil que fez com que Machado Santos tivesse passado à categoria de herói solitário, ao resistir quase sozinho na Rotunda (3). Nem sequer o segredo os conjurados foram capazes de respeitar, com denúncias e conversas de café, apesar de Machado Santos garantir o contrário, e mais: que nenhuma revolução tinha sido tão secretamente preparada como a republicana.

Era de esperar que fosse secretíssima a Carbonária de Luz de Almeida, dados os seus métodos subversivos e o objetivo a que se propunha. Porém, Aquilino Ribeiro declara ter sabido dela o impensável em encontro em que tal não devia acontecer. Não se desenrolou, mas podia ter-se desenrolado o conciliábulo no Café Gelo.

O Café Gelo, em Lisboa, é conhecido espaço de encontro e debate dos surrealistas. Considera-se, inclusivamente, a geração do Café Gelo, a que pertenceram escritores como Luiz Pacheco, Mário Cesariny de Vasconcelos, Herberto Helder, Manuel de Castro, António Barahona e tantos mais. Sabemos pouco, entretanto, dos antecessores da revolução surrealista no Gelo. Ora também eram revolucionários, mas na política, os seus frequentadores no período circundante da movimentação carbonária para a implantação da República. Dotado de estratégicas portas para duas artérias, a Rua 1º de Dezembro e a Praça do Rossio, e de cinzeiros suficientemente pesados para terem sido usados como armas contra a Polícia, décadas depois, como conta Luiz Pacheco, esse café era o ponto de encontro de carbonários, anarquistas, republicanos, e de todos os híbridos destes e outros cidadãos com ideias de esquerda. Foi do Café Gelo para o Terreiro do Paço que saíram Manuel Buíça e Alfredo Costa, dispostos a disparar as armas de fogo sobre o ministro João Franco, mas que, não descobrindo João Franco, dada a denúncia do plano para o afastar, acabaram por matar o Rei (1).

O Café Gelo era o confessionário destes homens, que em comum professavam sentimentos anti-monárquicos e anti-clericais. Mas até no confessionário se verificavam fugas de informação. Palavras do homem das Terras do Demo: “A Carbonária era a estruturação secreta da revolução, afinal tão secreta, que eu nessa noite fiquei a saber quem constituía a Alta Venda: Machado Santos, Luz de Almeida e António Maria da Silva, e o principal aliciador o segundo destes. Acima, como supremo arquitecto, António José de Almeida.”

Esta declaração é extraordinária porque a estrutura da carbonária é em pirâmide: os superiores conhecem os ocupantes dos degraus inferiores, mas estes não conhecem os superiores. Verdade se diga no entanto que, em situação revolucionária, para as milícias obedecerem aos líderes, têm de os conhecer, ou não confiam neles. Este ponto é muito sensível no que diz respeito aos militares, como vemos no relatório de Machado Santos. Se os sargentos que comandou na Rotunda não confiassem nele, impossível seria um oficial menor da Marinha liderar membros do Exército, e de igual modo o respeito e a confiança asseguraram a vitória, visto que hesitações e falhas severas, como a da sabotagem das comunicações entre os monárquicos, que acabou por não ser executada, puseram em risco as operações até ao último momento. Por isso Machado Santos elogia e recorda um por um os envolvidos numa revolução que por milagre só tinha sofrido duzentas baixas, entre mortos e feridos, e não esquece nenhum dos pelotões que em Lisboa enfrentaram o adversário, incluídos os cadetes da Escola do Exército, entre os quais nomeio um, por há anos andar a ser instigada pela família a estudar este seu parente carbonário: João Maria Sarmento Pimentel. Várias vezes Machado Santos se lhe refere, uma delas para contar que foi um dos que combateram contra a ala dos namorados, nome que os estudantes republicanos tinham dado aos seus colegas monárquicos. Alunos contra alunos, a dado passo “a ala dos namorados cerca Sarmento Pimentel, e um dos seus colegas monárquicos bate-lhe nas costas, dizendo: Já falta pouco para os teus levarem uma lição que nunca mais se endireitam!”. Parece que se enganou.

Por estes e outros motivos republicanos, em Portugal, a carbonária é em geral considerada “braço armado” da Maçonaria, criada unicamente para ajudar à implantação da República, e que por isso só existiu pouco mais de uma década. Tal considerando aplica-se unicamente à Carbonária Portuguesa de Luz de Almeida. As carbonárias são republicanas, mas vêm de mais longe até este momento. É fraca também a noção de se tratar de sociedades iniciáticas, pelo facto de só se reconhecer a do 5 de Outubro. Assim, ela é vista como organização para-militar e mesmo terrorista, desligada da ideia de cerimónia em templo para a prática de um ritual. Eu tenho sido dos poucos intelectuais a esforçarem-se por enquadrar as carbonárias no mundo ritualístico e simbólico a que pertencem, o dos habitantes da Floresta, com os lenhadores, os rachadores, os carvoeiros, e também os lobos maus. Diferentemente da Alvenaria, em que o pedreiro percorre um caminho destinado a mudá-lo de pedra bruta em pedra polida do Templo, o carvoeiro trabalha no polimento da sua grossa casca de árvore, de maneira a tornar-se obra de arte da marcenaria no Templo de Salomão.

Apesar dos estampidos na rua, de o Paço das Necessidades ter sofrido com tiros disparados do Tejo pelo cruzador S. Rafael, que ali estacionava com o Adamastor, ou também por este, a ideia de a Carbonária Portuguesa ter sido uma organização militar ou para-militar continua no entanto discutível a meus olhos. É difícil aceitar que um bibliotecário, como foi Luz de Almeida, pudesse ter criado uma máquina de guerra. O aparato militar decorreu da circunstância de muitos militares terem aderido à Carbonária. Não é assim a Carbonária que é militar, os militares é que se tornaram carbonários, davam instrução aos civis e tomaram a liderança da revolução. Raúl Brandão, por exemplo, declara que nos quartéis se fazia larga propaganda republicana e que se distribuíam aos soldados versos e folhetos. Na madrugada do 5 de Outubro, a Rotunda encheu-se com uns milhares de civis a darem vivas à República, subscrevendo por isso a revolução.

É uma ilusão pensar que os efectivos carbonários recrutados no meio civil pudessem dispor da arma de fogo e dos competentes cartuchos, exigidos nos regulamentos como condição de entrada na Ordem Carbonária. Sendo uma organização pobre, diferentemente da Alvenaria, que seleciona uma élite, admito até que a maioria dos carbonários nem o punhal ritualístico tivesse possibilidade de adquirir. De navalhas, que aliás são símbolo da Carbonária, já é possível ver algum rasto na literatura sobre a República, se bem que muito ténue. Em alguns textos, fica claro que os paramentos e ornatos de Templo se cingiam ao essencial, em muitos casos apenas uma capa negra de estudante a cobrir um improvisado altar. Esta nota remete aliás para uma das vertentes da Carbonária que julgo das mais interessantes, a de se relacionar estreitamente com as instituições de Ensino. No último quartel do século XVIII, na Universidade de Coimbra, quando Domingos Vandelli preparava naturalistas para fazerem o levantamento dos produtos naturais naquilo a que então se chamava «o território das conquistas»: Brasil, Cabo Verde e Guiné, Angola, Moçambique e Goa, já a subversão surgia, ligada a reuniões secretas no Laboratório de Química, em resultado das quais um grupo de estudantes teve se se apresentar ao Tribunal do Santo Ofício, envergando o temível sambenito.

Atualmente, as únicas armas na posse de carbonários de que tenho conhecimento são as brancas, ritualísticas. Em 1910, o país, e Lisboa, sobretudo, estava capacitado para fazer muito estrondo, e fez, porque os civis se dedicaram a bem ou mal fabricar bombas com os explosivos disponíveis, abundantes em aparência.

Parece que o 5 de Outubro não foi obra de grandes movimentações militares, quer do lado republicano quer monárquico. Aliás, basta pensar que só houve confrontos em Lisboa. Contra outras opiniões, Cândido dos Reis alegava que era escusado derramar sangue inutilmente porque, se a revolução saísse vitoriosa em Lisboa, a província havia de aderir ao movimento. E assim aconteceu, tal como no 25 de Abril, em que o apoio popular foi enorme e dispensou derramamento de sangue, não só fora de Lisboa como dentro da capital. 

Os quartéis estavam mal equipados e havia poucos oficiais. Necessariamente, a Carbonária estava ainda pior armada. O Quartel de Infantaria 16, por exemplo, não tinha ninguém à frente, quando Machado Santos, grão-mestre da Carbonária e oficial da Marinha de patente menor, resolveu tomá-lo, sozinho, com a força apenas do belo uniforme. Estamos a um dia ou dois da declaração de mudança de regime, a fazer da varanda dos Paços do Concelho. A essas horas de distância, andava ainda Machado Santos a visitar quartéis, fazendo um esforço para mostrar que tudo corria bem, quando a amargura, face ao iminente fracasso, lhe dava era vontade de chorar. Ele chegará ao dia 5 não sabe como, com uma retenção de urinas dolorosa, que lhe inchara horrorosamente as pernas e o impedia de andar. Montava a cavalo havia já muitas horas.

Quanto a mim, não foi pela força das armas que a República se implantou, sim pela fraqueza da Monarquia e pela força do querer mudar. Todos queriam a República, fora eficaz a tarefa de aliciamento levada a cabo pelos carbonários no meio civil e militar. Foi uma revolução rica em pequenos episódios, alguns deles próprios de comédia, como arrombar portas de quartéis por não abrirem ou não haver alguém que abrisse, mas pobre em grandes lances dramáticos. Não se travaram batalhas. Quando Machado Santos ocupa, com os soldados que resolvera tomar ao Exército, a posição no Marquês de Pombal que garantiu a vitória, temos o quadro seguinte, e cito-o a ele, para não parecer ficcional o meu ensaio: «Eram talvez cinco horas da manhã. // Como a guarda dirigisse um ataque pelos lados do matadouro, mandei pedir que me fosse enviada uma peça. O comandante da coluna mandou-ma e ao primeiro tiro o inimigo retirou».

Como entender que o inimigo retire ao primeiro tiro dos atacantes? Eu só entendo se pensar que as tropas do rei D. Manuel II já tinham sido conquistadas pela Carbonária para o regime republicano. Não se nota aqui nenhuma pressão, nenhum interesse, para oferecer resistência ao ataque.

Grandes e trágicas cenas nos dias de 3 a 5? Nem por isso, antes episódios românticos, como o de Machado Santos a envergar o uniforme de gala, vejamos para quê e em que estado de espírito:  «Julgo ter sido o único oficial que se preparou para a morte como quem se prepara para um casamento. Digo-o com legítimo orgulho e estou convencido de que ao menos uma vez o objecto decorativo dragonas produziu qualquer coisa de importante. Os exploradores do inimigo, ao verem-me à frente da guarda avançada na rua Alexandre Herculano, imaginaram que a coluna revolucionária era numerosíssima, pois à sua frente vinha… um oficial general! O resultado foi o de fugirem apavorados! Efeito das dragonas!».

Implantada a República, surge uma Constituição que preconiza leis importantes como a separação da Igreja do Estado, o direito à greve e a lei do divórcio, mas também se inicia um período de desilusão, com grande instabilidade política e social. A Carbonária Portuguesa guarda as suas capas de estudante, as suas navalhas e punhais ritualísticos, enfim, prescinde dos seus efetivos para mergulhar na obscuridade. Não significa isto que já não existam carbonários. Insisto: o que desapareceu foi a Carbonária Portuguesa de Luz de Almeida. Hoje há outras, basta procurá-las na Internet, e penso que bastante obscurantistas, atendendo a que não aceitam a participação de mulheres. As carbonárias americanas são andróginas, as sessões nas vendas têm participação de Boas Primas.

Espelho da instabilidade política que se seguiu ao 5 de Outubro é a velocidade a que mudam governos e presidentes da República. Chegam a durar dias. Teófilo Braga, escritor, primeiro Presidente da República, no governo provisório, durou 333 dias, o que é miraculoso, do ponto de vista simbólico. João Chagas, Presidente do Ministério na presidência de Manuel Arriaga, só desempenhou funções durante 77 dias. Outros aguentaram muito menos. Sidónio Pais, ditador conhecido por Presidente-Rei, reinou um ano, até morrer assassinado. Já conhecemos o triste desenlace desta narrativa: a pôr cobro a tanta instabilidade, apareceu um chefe de governo que segurou a cadeira durante 40 anos, até ela cair de podre.

Estela Carbono.'. . Odivelas . 15.11.2014

 
NOTAS

(1) «Depois deste primeiro desencontro, havendo abancado momentaneamente no Gelo 6, onde viram que o Buíça se refrescara com um bock, acariciando muito a barba com reflexos de cobre, o que era sinal de tempestade interior, e, mais ainda, encravando repetidamente a mandíbula de baixo sob o lábio superior, gesto tão seu, e Alfredo Costa engolira um almoço apressado, sempre febril, passaram ao Rossio, a grande sala revolucionária, e aí deliberaram em comum ir esperar Franco ao Terreiro do Paço, à hora do regresso da Família Real. Para Costa, já fazia parte do programa, dada a hipótese de o golpe falhar na rua para onde Franco anunciara ter mudado da Rua da Emenda. Isoladamente, os homens dos Olivais atrás, e par a par, se dirigiram com boa meia hora de antecedência para o Terreiro do Paço. Escalonando-se pela praça, Alfredo Costa tomou a posição do fundo, próximo do embarcadoiro, os três ficaram a deambular ao meio, da estátua de D. José para o centro da ala ocidental contra as arcadas, como ociosos, e Buíça postou-se na fímbria norte, não bem sobre o lancil, mas perto ou encostado ao candeeiro, na linha do prolongamento da Rua do Ouro, na atitude de indivíduo que espera outro, conforme entrevista marcada. Constava do seu plano aguardarem ali João Franco, como caminho necessário para os cais. Cada um deles era sete olhos para quem entrava na praça, particularmente pela faixa ocidental, e ainda para a rua que a contorna do lado do Tejo. E o tempo foi voando e João Franco sem aparecer.» Aquilino Ribeiro.

(2) «Em Janeiro de 1890, mês em que ocorreu o Ultimato Inglês, foi constituída a Grande Comissão de Subscrição Nacional Pró-Marinha de Guerra, iniciativa de um grupo de aspirantes da Escola Naval, que aplicou parte da quantia angariada no pagamento da construção de um pequeno cruzador, encomendado aos estaleiros italianos Fratelli Orlando de Livorno. Lançado à água em Julho de 1896, foi o navio batizado com o nome de Adamastor e aumentado ao efectivo em Agosto do ano seguinte. Entrou pela primeira vez a barra do Tejo em 7 de Agosto de 1897.» Contra-almirante José Luís Leiria Pinto.

(3) «Nas primeiras horas da concentração na Rotunda, os rebeldes à monarquia também não poderiam saber dos sucessos alcançados pela sua parcialidade nas águas do Tejo. Com efeito, o tenente Mendes Cabeçadas subordinara o cruzador Adamastor e um grupo audaz de sargentos e praças tomara conta do cruzador S. Rafael, transferindo mais tarde o comando para o tenente Tito de Morais.»

«Muitos militares despiram a farda, envergaram roupas civis e desapareceram na primeira esquina. Porém, Machado Santos não o quis fazer. Ia ficar, contra todos os ventos de descrença e todas as marés de desesperança. A primeira contagem de recursos humanos deixou-o gelado. Estavam com ele apenas nove sargentos, cerca de duzentos militares, uns quantos inexperientes cadetes da Escola do Exército e um magote de civis, na sua maioria desarmados. Do Directório Republicano, repositório de políticos maioritariamente civis, apenas se divisava na Rotunda a presença solidária do dr. Malva do Vale. Foi aproveitada a boa vontade dos populares para cavar trincheiras e reforçar barricadas.» Amadeu Carvalho Homem.

 

LEITURAS 

Amadeu Carvalho Homem, «A revolução no seu "dia inicial"». Público, 20.08.2010.
In:
http://www.publico.pt/temas/jornal/a-revolucao-no-seu-dia-inicial-19922945.

Aquilino Ribeiro, Um escritor confessa-se, seguido de Lances da minha vida. Prefácio de Mário Soares. Nota preambular de José Gomes Ferreira. Lisboa, Bertrand Editora, 2008.

Fernando Pessoa, Da República (1910-1935). Lisboa, Ática, 1978. Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão, com introdução e organização de Joel Serrão.

Francisco Carromeu, “Do 28 de Janeiro de 1908 ao 5 de Outubro de 1910”. Biblioteca Museu República e Resistência, Lisboa, 29 de Janeiro de 2008.

Gomes Freyre de Andrade, “Porquê Montanha?”. Ecos da Montanha, nº 2, Lisboa, 1996.

José Luís Leiria Pinto (Contra-almirante), «Cruzador Adamastor».
In:
http://www.portugalgrandeguerra.defesa.pt/Documents/Cruzador%20Adamastor.pdf

Machado Santos, A revolução portuguesa 1907-1910. Prefácio de António Reis. Lisboa, Sextante Editora, 2007.

Maria Estela Guedes, «Ciência e esoterismo num opúsculo carbonário».  Ciclo de Conferências «Diálogos com a ciência» promovido pela Universidade do Porto. Painel «Esoterismo e Ciência». Reitoria, 17 de Dezembro de 2009.

Maria Estela Guedes, “Simbologia da Maçonaria Florestal num ritual da Carbonária Portuguesa”. O Escritor, Lisboa, Associação Portuguesa de Escritores, nº 24-25, 2009.

Maria Estela Guedes, “Carbonária”. In: Dicionário Histórico das Ordens e Instituições Afins em Portugal. Lisboa, Editora Gradiva, 2010.

Maria Estela Guedes, Trabalhos da Maçonaria Florestal Carbonária. Col. Lápis de Carvão, nº 14. Lisboa, Apenas Livros Editora, 2012.

Raul Brandão. Memórias. Obra digitalizada e revista por Deolinda Rodrigues Cabrera a partir da edição de 1925. Projecto Vercial, 1998. Em linha: http://www.ipn.pt/literatura