venda das raparigas . britiande . portugal . abertura: 2006

Stella Carbono M.'. M.'.C.'.

TRABALHOS DE UMA LENHADORA

TERCEIRA PARTE: ARTE

Arboreto

 

BRITIANDE - PORTO

2010

 Para a Isaura Baptista Guedes
que leva os primos e amigos para a sua quinta
e lhes dá a mamar das árvores

ARBORETO - INDEX

Árvores da res pública

Acácias há muitas
uma da res pública
como a dos pedreiros
que se não sabe qual seja
e outra dos carpinteiros
ou da res mais privada
que há-de ser outra entre elas
e nada disto
pois pode ser árvore de outro género
e de outra família
como eu.

Caso para falar de símbolos
mas não aqui
este lugar destina-se à criação
e os símbolos figuram todos nos dicionários.

Não concorda?
Então veja
vamos à Internet buscar uma qualquer citação
não preciso de me esforçar mais do que isto:

A Acácia: planta símbolo por excelência da Maçonaria; representa a segurança, a clareza, e também a inocência ou pureza. A Acácia foi tida na antiguidade, entre os hebreus, como árvore sagrada e daí sua conservação como símbolo maçônico. Os antigos costumavam simbolizar a virtude e outras qualidades da alma com diversas plantas. A Acácia é inicialmente um símbolo da verdadeira Iniciação para uma nova vida, a ressurreição para uma vida futura.

NA LENDA DE H.'. A.'.

Ao cair da noite, o conduziram para o Monte Mória, onde o enterraram numa sepultura que cavaram e assinalaram com um ramo de Acácia. Quando, extenuados, os exploradores enviados pelo Rei Salomão chegaram ao ponto de encontro, seus semblantes desencorajados só expressaram a inutilidade de seus esforços... Caindo literalmente de fadiga, (um)... Mestre tentava agarrar-se a um ramo de Acácia. Ora, para sua grande surpresa, o ramo soltou-se em sua mão, pois havia sido enterrado numa terra há pouco removida. Esse “ramo de Acácia” criou vida própria, cresceu e tornou-se o maior Símbolo do Grau de M.'. M.'..

Em outra versão, os M.'. M.'. que foram à procura do Mestre H.'. A.'. encontraram um monte de terra que parecia cobrir um cadáver, e terra recentemente removida; plantaram ali um ramo de Acácia para reconhecer o local. Conforme uma terceira versão, a Acácia teria brotado do corpo do Resp.'. M.'. morto, anunciando a ressurreição de Hiram.

Sendo a morte de H.'. A.'. uma lenda, resulta evidente que existam diferentes versões, mas o importante é que todas elas coincidem em dizer que na sua sepultura surgiu um ramo de Acácia.

[Em: http://www.maconaria.net/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=149
com algumas emendas.]


Foi a parte final da lenda da morte
do Respeitável Mestre Hiram Abif
arquiteto do Templo de Salomão
e nobre maçon carbonário
se atendermos a que é de madeira que tratamos
e dos nobilíssimos cedros
que fez para a Grande Obra
transportar dos longes do Líbano.

De cedros sei um pouquinho
o bastante para erguer um ramo de Cupressus
em honra da Venerável Mestra República
cortado ali mesmo em Lisboa
na Praça do Príncipe Real
que D. José era
o moço infante que não chegou a reinar
por ter morrido de varíola.

De cedros sei igualmente
que o famoso cedro lusitânico
nem é Cupressus nem lusitanica
antes se calhar um híbrido
criado por Brotero
Vandelli
Correia da Serra
ou Veloso de Miranda.

De cedros sei algum tanto
mas de acácias nem um pouco.
De acácias só conheço a mimosa
tão fulgurante na sua poeira de oiro
parece menina assisada
mas é a puta de uma praga
que alguém trouxe da China
deslumbrado com os seus cabelos louros.

Não
de acácias sei muito pouco.
Quem quiser conhecer o simbolismo das árvores
consulte os dicionários.
Da floresta entendo outras coisas -
a ligação materna às fontes da obscuridade
sei da seiva leite negro
do sangue que escorre pelos dedos
doce lambido em segredo
longe dos olhares de polícia
que é todo o ser humano inculto
como eu.
Deito-me ao comprido nas pranchas
de um futuro esquife
dou vivas à República e deixo-me depois
Mestre superior a mim
aplainar as cicatrizes de cortiça
de Quercus suber
que é a minha própria casca.

Mimosa (com enorme raiz de pinheiro à frente)

 

Maria Estela Guedes
Britiande . Porto, Agosto/-, 2010