venda das raparigas . britiande . portugal . abertura: 2006
CARLOS ZATTI

RITOS GAÚCHOS

Se há gente que ama sua terra e suas tradições culturais, esta gente, este humano é o gaúcho.

E tem a capacidade de se adaptar às novas exigências do cotidiano, pois sabe que não é a indumentária e nem o modo de vida, mas a franqueza nas atitudes e nas palavras – e mesmo no narcisismo, ou na bravura quixotesca – que o faz único e identificável dentre os demais humanos. Altivez, bom humor, caráter, igualitarismo democrático, hospitalidade, bondade e honestidade são virtudes locais que se acumulam na alma do sulista.

Com um bom chimarrão, um suculento churrasco e um veloz corcel o centauro do Pampa era mui bem satisfeito.

Usos, costumes e tradições, nasceram nas estâncias.

O progresso fez o homem do interior migrar para a cidade, e as grandes potências incutiam-lhe modismos e uniformidades, invadindo territórios e as mentes dos incautos. Mas o gaúcho se deu conta que todos seus valores imateriais iriam morrer, então, simbolicamente levou para a cidade o galpão da estância, onde, em 1948 (Porto Alegre) fundou o 1º CTG – Centro de Tradições Gaúchas, para preservar sua cultura.

O CTG foi estruturado, organicamente, como uma estância: O Presidente seria, simbolicamente, o Patrão, o Vice-Presidente seria Capataz, o Maiordomo seria Sota-capataz, o Orador seria o Chiru das Falas, etc...

Com tal espírito, e na mesma linha, o Tradicionalismo Gaúcho (movimento que se estriba no passado para montar no presente e construir o futuro) conseguiu espaço cultural dentro da liturgia católica e, no ano de 1967, a “Missa Crioula” foi oficialmente reconhecida e aprovada pela autoridade eclesiástica daquela Igreja. Música, liturgia, linguajar e objetos campeiros fazem parte do ritual.

Depois foi a vez de a Maçonaria levar para dentro das Lojas a similaridade do CTG e da estância, no intento de reverenciar antepassados, cultuando hábitos de seu sagrado chão.

A Ordem Carbonária não poderia deixar de se engajar neste movimento nativista, ao qual, durante a Revolução Farroupilha e Guerra dos Farrapos, carbonários da mais alta estirpe tomaram parte ativa, e até intelectual, como o condottieri Giuseppe Garibaldi, o conde Tito Lívio Zambeccari, o jornalista Rossetti, o bravo Menotti, entre outros.

Então, sob a proteção de São Teobaldo, elaborou-se o RITUAL CARBONÁRIO CRIOULO, para sessões solenes específicas, nas comemorações de efemérides sul-brasileiras.

O ritual foi estruturado de maneira a não quebrar o Rito Carbonário, obedecendo à simbólica hierarquia de um CTG:

1 – Pai Mestre = Patrão; 2 – 1º Vig.’. = Capataz;

3 – 2º Vig.’. = Sota-Capataz; 4 – Orador = Chiru das Falas;

5 – Secretário = Agregado das Escritas; 6 – Tesoureiro/Esmoler = Agregados das Pilchas;

7 – Chanceler = Agregado das Marcas; 8 – Mestre de Cerimônias = Tapejara;

9 – Guardião da Lei = Vaqueano; 10 – Cobridor = Posteiro;

11 – Mestre Harmonia = Gaiteiro; 12 – Autoridade visitante = Estancieiro.

A Tradição é a marcha visando o resgate de valores que são válidos não por serem antigos, mas porque são eternos.

CZ/

Carlos Zatti. Escritor, associado ao Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (IHGPR). Membro fundador do Gesul e secretário geral do Movimento O Sul é o Meu País.
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