Ana Lee é pura Primavera, cheirando a Botticelli. Em parcerias com as Deusas manifestas nas ilustrações do encarte do disco e outras ainda em estados latentes, mas que não deixam de nos brindar com sutis eflúvios, Ana vai domando, com seu magnetismo personalíssimo, um repertório poderoso. Subjugando-o docemente com toda aquela classe que parece ter assimilado do João Gilberto e do Caetano no que eles têm de melhor, a verve interpretativa e a agudainteligência analítico-musical.
As canções se incorporam num estilo íntegro e calmo, que a gente ouve sem sustos, mas sem perder uma nota da passionalidade aqui exalada
em altíssimos teores.
Ana Lee, neta de avô Li chinês de Cantão, que num desdobramento gráfico a fez também Lee, como a roqueira Rita. Paulistana,
no que São Paulo comporta de mais mundo, Ana são muitas cidades, sonhos, varandas. Sonoridades acústicas e camerísticas. Raros instrumentos em música popular. Ana Lee: que instrumento! E os complexos resultados? Não, quanto a eles nem Freud, nem Chico, nem Ana explica. Um enxame de cupidos. E para as certeiras flechas do romântico veneno, não há cura. Assédios do Louco Amor.