José Medeiros

O JARDIM DE PEDRA DA PENHA DE GUIMARÃES
E AS ENERGIAS DE TRANSMUTAÇÃO

O caminho para a Penha é longo, serpentiforme, como convém ao Peregrino que parte em busca do Conhecimento.

Para trás, na cidade, ficam os trabalhos dos pequenos Ciclos, os que nos preparam para a Grande Viagem. O domínio dos Quatro Elementos é necessário para que a Obra seja iniciada e a passagem dos Portais permitida pelos Guardiães.

Miguel protege os Neófitos que, partindo do Castelo, o buscam na Ermida onde as lajes cobrem os Cavaleiros, indicando-lhes o Caminho do Sul, o do Fogo, para que, pelo trabalho sobre si próprios, conquistem as Armas Novas e tenham o direito de subir à Montanha Sagrada onde, no ventre da Grande Mãe, receberão a Iniciação.

À direita, na Coluna da Tolerância, Francisco e António indicam a necessidade do trabalho sobre o Mundo manifestado e da mortificação da vontade para entender, pelos sentidos, os sinais do Caminho.

Percorrendo o Primeiro Ciclo guiados pela Força da Intuição, caminharemos até à Praça do Mestre que abriu novas portas para o passado, devolvendo-nos a consciência de Saberes perdidos. O Oratório, que Miguel protege, ao lado da porta que resguarda, indica-nos que, por vezes, a Paixão e o Martírio do Sal Filosófico são necessárias para que o Enxofre se purifique e o Mercúrio de liberte. Na fonte, que marca o centro energético do espaço, faremos a primeira purificação, retirando pela Água de Terra as impurezas do Plano Denso que dificultam a viagem.

O Segundo Ciclo conduz-nos a Santa Clara, onde a Paixão é simbólica como o Corpo e Sangue do Mestre que ela ostenta e o domínio das duas polaridades dos Quatro Elementos está indicada e protegida. Meditando, activaremos a Beleza da Emoção que nos permitirá continuar o Caminho, após uma segunda purificação pela Água de Água.

Passando sob o arco que nos separa do Terceiro Ciclo, depois de Santiago encontraremos de novo Miguel que, sobre os arcos, guarda a Praça da Luz onde a Cruz da Ordem protege o Templo.

Junto da Oliveira, a árvore do Sol, os Quatro Elementos são as quatro colunas que suportam a cúpula do Oratório onde, ocultada pelo corpo do Mestre sacrificado sobre a Cruz que faz a divisão dos Planos, a Mãe ergue o Menino Deus, a Pedra Purificada, que permite a continuação da transmutação dos seres. No Templo, a Rosácea foi fechada para que os saberes antigos fiquem encerrados e a obscuridade não permita que a Obra seja desvelada.

Depois do Pórtico, no nartex que faz a inversão das polaridades, a taça de pedra octogonal, suportada pelas quatro cordas entrançadas que ligam os Elementos e os Ciclos, recebe os neófitos à entrada da Coluna da Lua, a do Rigor, para que se purifiquem pela Água de Fogo. No Trono, depois do Altar, a Senhora da Luz, da Oliveira, abre o Canal que conduz, pela Razão da Sabedoria, às Esferas Superiores.

No claustro, onde Miguel faz a guarda da Luz e da Sombra, a Senhora da Purificação, projectando-se no Sul pela vibração do bronze, apresenta o Menino purificado pelo Espírito, que é Santo.

Para os que entenderam e dominaram o Caminho, a projecção subtil do Enxofre é feita pelo Ar, até ao Grande Santuário que, no cimo da Montanha, aguarda os peregrinos. Os outros, farão o Caminho da Serpente, purificando-se pelo Verde envolvente que activa a Emoção e ajuda a purificar o Sal.

Na grande Praça, a Cruz dos ciclos, planificada na horizontal, projecta-se para Oriente e é de água, a Água de Ar, a mais subtil, que purifica e activa a percepção, iniciando a transmutação do Ser e o fortalecimento da vontade.

Quatro planos nos separam do Pórtico que, por quatro degraus, nos conduz, por entre Colunas, às Portas da Lua e do Sol, que o Compasso eleva mas a Cruz limita.

O Templo, cúbico e perfeito, projecta-se para Ocidente, o Caminho da Água, pela concha que acolhe e manifesta a Senhora que ascende e que, com as quatro colunas dos Elementos, forma o Pentagrama da Quinta-essência. Na cúpula, as doze Casas abertas, recebem e transmutam as Energias, Cósmicas e Telúricas, fazendo a ligação do que está em cima com o que está em baixo, para que os milagres do Um se realizem.

Mas o Culto, que o Sol trouxe do Oriente e projectou no Ocidente, não cabe no Templo que a mão do Homem construiu com pedras talhadas e perfeitas. A Mãe, que é a manifestação física do Pai não manifestado, projecta-se no exterior perceptível aos Sentidos, criando o Grande Jardim de Pedra ligado por heras e carvalhos, as plantas de Saturno que permitem a elaboração dos elixires que equilibram o corpo físico e abrem as Portas da Mente, fazendo a ligação dos Planos.

Junto das rochas se acendem os sírios, para que a Grande Mãe escute as preces e se fazem os ágapes em que o Pão e o Vinho recriam a Eucaristia, naturalmente, fazendo o Casamento Místico entre a Lua e o Sol.

O percurso final é feito percorrendo o labirinto, para Norte, onde se encontra o portal da Terra que é guardado por Uriel, o Guardião do Reino. Com cuidado, pacientemente, descendo, faremos o Caminho. Visitando o Interior da Terra e Rectificando, Iniciaremos a Obra Lunar. Onde as Energias criam um campo neutro, como o da Pedra dos Mortos nos Templos Canónicos, a Pedra Suspensa permite-nos o acesso ao Ventre Materno, guardado por Elias, que pelo sono nos indica que a Via é Interior mas nos conduzirá, pela escada dos Anjos, à Porta do Conhecimento. O Templo é de Pedra, bruta porque natural mas pronta para ser talhada e atingir a perfeição. Através dela passa a Água que, junto com o Fogo dos sírios que sempre ardem, faz a quinta purificação, a última nos Planos Inferiores mas a Primeira nos Superiores, a que nos permite entender que o que está dentro é mais importante do que o que está fora. Só assim, quando Miguel/Anúbis nos conduzir ao Julgamento e o coração que nos prende à Emoção for colocado na balança, será mais leve que a pena da Razão. Então, no cimo do penedo, Cristóvão fará a passagem dos que buscam o Mestre, entre as margens do Rio que separa o perceptível do imperceptível, do manifestado e do não manifestado, do que está em baixo e do que está em cima, permitindo que iniciemos a viagem de regresso à Casa do Pai.

Então seremos transmutados e a Obra será realizada.

José Medeiros