A Escrituras Editora, dentro da Coleção Ponte Velha, edição apoiada pelo Ministério da Cultura de Portugal e pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas (IPLB), publica Olhares perdidos, de Nicolau Saião, organizado e prefaciado por Floriano Martins.
Nicolau Saião integra o 2º movimento surrealista português, cuja atuação se situa nos anos 60 e configura um momento dentro de um painel de filiações e assimilações do movimento francês nas décadas anteriores. Trata-se de momento em que, no dizer de António Luís Moita, já se encontrava “digerida e superada […] a bela utopia da escrita automática a que, duas décadas antes, outros poetas haviam metido mãos inovadoras”. Pertence à mesma geração de Luiza Neto Jorge ? muito embora comece a publicar somente em meados da década seguinte ?, que fazia parte de um grupo de vozes de certa forma isoladas, em Portugal, no que diz respeito a uma aproximação declarada do Surrealismo.
Saião esboça sua particularidade a partir do interesse pelo mistério e pelo humor negro, duas fontes de intranqüilidade ou de subversão da realidade. Uma poética inquietante, que mais se aproxima do Surrealismo quanto menos afetada se mostra por sua ortodoxia. Sua relação com uma prática coletiva em torno do movimento leva-o a assinar manifestos, montar exposições, criar um Bureau Surrealista Alentejano, na região portuguesa para onde se mudou, porém, aos poucos se vai configurando uma aposta no individual, e é justamente a partir daí que sua poesia melhor se define.
Nicolau Saião nasceu em Monforte do Alentejo, Portugal, em 1946, mas vive desde os três anos em Portalegre. É poeta, ator e artista plástico, tendo participado em mostras em diversos países (Espanha, França, Itália, Polônia, Canadá, Estados Unidos, Austrália e Brasil), além de ter exposto individualmente em diversas localidades (Paris, Lisboa, Porto, Elvas, Tiblissi, Portalegre, Messina, Borba, Campo Maior, Sevilha). Colabora com diversos jornais nacionais e regionais e em revistas literárias e artísticas: Ler – revista do Círculo de Leitores, Colóquio Lteras, Apeadeiro, A Cidade, Bicicleta/Mandrágora, Bíblia, Jornal de Poetas e Trovadores, Callipole, A Xanela (Betanzos), Abril em Maio, DiVersos – revista de poesia e tradução (Bruxelas), Albatroz (Paris), Mele (Honolulu), AveAzul, Espacio/Espaço Escrito (Badajoz) e, agora, Agulha (Fortaleza, Brasil). Está representado em diversas antologias de poesia e pintura. Obra poética: Os objectos inquietantes (Editorial Caminho, Lisboa, 1992, que recebeu Prêmio Revelação/Poesia, concedido pela Associação Portuguesa de Escritores), Flauta de Pan (Editora Colibri, Lisboa, 1998), Assembleia geral (Ed. Bureau surrealista alentejano, Portalegre, 1998) e Os olhares perdidos (Universitária Editora, Lisboa, 2000).
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