VIII COLÓQUIO INTERNACIONAL
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O lugar do sol…
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O lugar do sol… é… à sombra da lua. Assim, poeticamente, falo do falo, porque não sei falar sobre isto sem recurso ao mistério da poesia, a linguagem mais misteriosa antes ainda da geometria, antes ainda do símbolo. Falemos então do Sol como símbolo de uma coisa a que nos habituámos a chamar masculino sem sabermos muito bem do que estamos a falar. Um dia falaremos de hermafrodita, ou talvez não cheguemos a falar, porque só se fala do que falta. Falemos então da vocação doméstica do Sol. Porque assim como é dito que a luz resplandece mesmo na obscuridade mais profunda, diria eu: sobretudo na obscuridade mais profunda, daí a ligação Sol/Lua, por alguns chamada oposição, que é apenas uma forma de dizer as coisas enquanto ainda não encontrámos uma melhor maneira de as ver, de as pensar, de as sentir, que é, repito, a atracção, neste caso entre o Sol e a Lua, mas poderíamos também citar a ligação entre o Sol e Saturno, que é uma forma de escuridão resplandecente, escuridão talvez mais profunda que a terra, talvez mais resplandecente que a Lua, porque no fundo o que acaba por acontecer é que o Saturno iluminado é um sol completo, uma Lua/Sol, como chamavam os essénios a Vénus. Isto, em termos da simbologia astrológica, que é, como toda a simbólica, intemporal e universal. Mas a propósito da vocação doméstica e uterina do sol, quando mal compreendido, e felizmente que os símbolos (chamemos-Lhe assim) nunca desistem de nós, falava-se no outro dia num círculo interno acerca de grupos iniciáticos apenas masculinos. Ou apenas femininos. Apenas aparentemente o são. Não só porque o Sol e a Lua lá estão presentes enquanto luminárias, mas se fizermos um estudo, ainda que superficial, deste discurso masculino, o que encontramos é o profundo respeito e mesmo veneração pela mãe física, que depois é negado na prática, porque ela é colocada pelos filhos numa espécie de altar de Virgem estéril, sem vagina, sem útero, assexuada. Para além disto, se a mãe física o pretendesse, não poderia ser iniciada nesse círculo exclusivo do falo, como se o discurso venerador escondesse um inconsciente medo da caverna da génese, um complexo de Édipo congelado no passado, o medo do encontro incestuoso com a terra, a rainha, a imperatriz, a mãe, o útero, a lua, como lhe queiramos chamar. No fundo, o medo do encontro com o eu mais profundo e mais lato, e mais alto: o hermafrodita. Que o falo não receia, porque faz parte dele, mas que o homem inseguro do mesmo, receia e teme. E treme. E também um implícito e inconsciente descrédito nos símbolos, como se uma vez a lua física afastada, fosse como se deixasse de existir, como acontece na fase da primeira infância em que o objecto escondido não existe. A verdade é que vimos depois a saber, ainda na infância, que o objecto escondido existe, mas aquela crença permanece na mente e nas emoções de alguns. No entanto, o Sol símbolo e a Lua símbolo permanecem lá e os seus efeitos invisíveis são poderosos. A luz resplandece mesmo na obscuridade mais profunda. Ainda que os arrancassem da parede, estariam sempre lá, entrariam por todo o amplo espaço invisível e penetrável de que é feita a ilusória matéria. O símbolo que não se reconhece pode tornar-se, a longo prazo, destruidor. Quando deveria ser, pela luz da consciência incidindo na matéria, arrepiantemente integrador. È preciso saber reconhecer e acolher os símbolos que não espelhando a nossa superfície reflectem e espelham a nossa verdadeira natureza. Embora com excepções, os homens necessitam mais do útero e da lua, as mulheres necessitam mais do falo e do sol. E como se tornam atraentes para o outro sexo e também para o seu próprio, e também para os animais e as plantas e até mesmo para as estrelas, quando o conseguem… Um ser íntegro e integrado é sempre profundamente inspirador e tem um poder de atracção irresistível. Enquanto isso não acontece, pode-se sobreviver sem ele, e aparentemente até se sobrevive bem, mas olhemos o estado do mundo, este estado pré-humano em que nos situamos ainda, que tanto nos desola, às vezes. O mal não está lá fora. Está nestes equívocos que transportamos em nome de teorias datadas e fossilizadas. O problema dos símbolos masculinos e femininos não está no símbolo, está na confusão entre planos, está em confundir-se masculino com homens e feminino com mulheres. Não quer dizer que isto não tenha sido verdade ou que não continue a sê-lo por via de um artificialismo social, mas é uma história de dinossauros, e a única diferença é que os dinossauros desapareceram, mas infelizmente, estes equívocos ainda não. Voltemos a esses chamados círculos iniciáticos masculinos (dispenso-me de falar dos femininos, na esperança de que um homem o faça) e vejamos como se fecham esses falos num círculo de aparente segurança, útero onde a mãe não penetra. Não ocorreria esse medo se não existisse um receio ainda mais oculto desse outro pequeno falo quase oculto, na antecâmara do útero, à entrada do templo. Todos os homens o conhecem, porque todos passaram por ele na sua primeira e verdadeira iniciação. À saída do acolhedor útero, ainda mal refeito do susto, à porta do templo, um guarda o aguarda, não com espada, com uma pequena adaga, que não parece ameaçadora, mas nunca se sabe. O pequeno macho reconhece o poder transfigurador da sua própria espada ainda que recolhida na bainha. Grande terá sido para alguns o susto, por vezes nunca ultrapassado, que se perpetua até ao estado adulto e se sobrepõe à sua própria glória e erecção. A boa notícia é que isto está em movimento, dos vários quadrantes se sente ora um mal-estar ora um desejo de integridade. Ela está no nosso destino. Podemos atrasar, mas não podemos evitar este encontro entre o Sol e a Lua em que o falo reconhece a caverna de onde surgiu, e entra nela e toca, sem medo, e se reconhece nas sombras projectadas nas paredes de que fala Platão.
Risoleta Pinto Pedro Junho 2008 |
INDEX Lugar onde: Escola Prática de Infantaria, no Palácio Nacional de Mafra |
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