O flashback de Paris é precedido de planos aproximados e grandes planos de Rick, a embebedar-se, no escuro da noite, no café, com um longo corredor até ao fundo, a pedir a Sam que toque “As time goes by”, com o argumento de que, se Ilsa aguentou, ele também aguentará. É o feminino que sustenta e acompanha a força interior do masculino para o bem. Rick é iluminado ciclicamente pela luz do farol que penetra nesse espaço inevitavelmente sombrio que acompanha a mágoa e a ferida de quem foi abandonado em Paris, sem uma explicação. Após um magnífico plano aproximado de Rick a bater com os punhos na mesa e um grande plano a exprimir mágoa profunda, a diluição da imagem no raccord para as memórias de Paris. Estas começam com as viagens de ambos, de automóvel, no bateau mouche, seguidas de imagens de ambos a beberem champagne (2784), o grande plano de Ilsa a confiar a Rick (2785) com lucidez, firmeza, serenidade assumida, um delicado sorriso, que não há ninguém na vida dela (2785), embora já tenha havido alguém que morreu.
A firmeza, doçura, serenidade de Ilsa descansam Rick que está também em situação de poder ser capturado pela polícia, embora não se considere uma figura de relevo, se tenha apresentado como “bêbado” ao major Vassler, e que veio para Casablanca por causa das águas.
Em planos seguintes, vê-se, na expressão de Ilsa, que algo mudara e que ela não quis revelar a Rick porque ele tinha de fugir de Paris ocupada pelos alemães. Assim, num plano aproximado de ambos a beberem de novo champagne, na companhia de Sam (2786), no café La Belle Aurore, Ilsa está diferente, embora Rick não dê por isso – apenas o espectador se apercebe porque Ilsa dirige a sua nova expressão mais na direcção discreta do espectador. Segue-se o grande plano de Ilsa (2787), com expressão receosa e com muita pena, a beber champagne. Rick subentende que será a pena que ela sente por terem ambos de partir de Paris.
Seguem-se dois planos aproximados alternados com travellings que acompanham Ilsa e Rick até à janela para ouvirem os avisos públicos, em alemão, de que a Gestapo chegará no dia seguinte – plano aproximado- : Ilsa e Rick à janela (2788): Rick não percebe muito bem a língua alemã e Ilsa esclarece, com expressão de medo e mágoa contida, olhando a rua e para longe, que a Gestapo chega no dia seguinte e que ele tem de fugir. Ao afastarem-se da janela, abraçam-se – plano americano (2789) -, com o pavor de estarem a ouvir um estrondo que Rick identifica como de um novo canhão cujo som se ouve a 77 kilómetros de distância; Ilsa não sabe se é o canhão ou o seu coração a bater, de tal modo lhe custa o que irá acontecer. Todavia confirma a Rick que partirão ambos - grande plano (2790) - de Paris. Rick imagina que se poderão casar no comboio, embora Ilsa saiba e diga que tal não pode ser planeado e consiga convencer Rick a esperá-la na estação de Paris e não a ir buscá-la ao hotel, no dia seguinte.
É mais uma vez a sua firmeza serena que o convence que ambos irão partir, que o ajuda a partir para a estação de Paris, na manhã seguinte. Confessa que o ama muito e que seja o que acontecer, se algo os separar, amar-se-ão sempre. Ilsa pede a Rick que a beije como se fosse pela última vez e bate com o punho na mesa, como quem tem dificuldade em aceitar algo que os pode separar.
Nessa manhã muito chuvosa, com uma multidão de gente na estação de Paris, Sam vem ao encontro de Rick, vai acompanhá-lo na viagem e entrega-lhe o bilhete de Ilsa que ele atirará para o cais, quando o comboio está a partir, depois de ele e Sam nele terem entrado, no último minuto: Ilsa diz, na mensagem escrita, que não pode ir nem voltar a vê-lo; só sabe que o ama. |
