Esse hiato de verdade sobre Victor Lazlo começa a ser colmatado logo na manhã seguinte, quando Rick vai surpreender Ilsa no mercado de Casablanca, desculpando-se com o facto de ter estado bêbado na noite anterior e assegurando que poderá saber mais nessa manhã em que está sóbrio. Afirma que Ilsa irá mentir a Lazlo e que irá reencontrar-se com ele, Rick, numa próxima noite. Ao que Ilsa responde que não lhe mentirá, que Victor é seu marido, já o era quando Ilsa e Rick se encontraram em Paris, embora não se saiba oficialmente, para a defender. Ilsa não lhe apetece nesse momento contar a sua história, por não reconhecer o Rick cheio de ódio, que não é o mesmo que conheceu em Paris. Ela ainda guarda algo da ofensa de que foi alvo na noite anterior, mas não fica ressentida, perdoa a Rick, pelo silêncio.
Este encontro passa-se enquanto Lazlo fala com Ferrari, no seu Café Blue Parrot, por intermédio de Rick, para ver se ele lhe consegue um visto para a América. Nesta situação que não é de imbroglio, mas simplesmente gerada pela guerra, aventa-se a hipótese de Victor ter de fugir sozinho, se conseguir um visto. No Café do Ferrari, Ilsa, em dois grandes planos (2792 e 2793), com uma belíssima expressão de serena aceitação da vida, da possibilidade de não voltar a deixar Rick, embora ame sempre Victor, tranquiliza-se quando Victor lhe responde que não se importa de partir sozinho - subentende-se que por ser corajoso e de grandes ideais -, se for melhor para ele partir sozinho e para Ilsa ficar em Casablanca. Ilsa pergunta discretamente a Lazlo por que não a deixou em Lille, em Marselha; Lazlo confirma que não a deixou em situações difíceis porque a ama. Então decidem arranjar dois vistos em vez de um visto apenas. Ferrari informa-os de que Ugarte não deixou documentos e deve ter deixado os vistos a Rick que eles devem tentar procurar para esse fim.
A magnífica alquimia deste feminino tão nobre, digno, profundo e de palavra, sem sombra de adultério, apenas a tentar superar o que a guerra provocou, encoraja a um tempo Victor e Richard para a dificuldade que todos atravessam e que tem de ter um desfecho para breve, perante a pressão do 3º Reich, em Casablanca, na pessoa do major Vassler. Então falam os três sobre o que será mais provável, mais fácil e mais difícil. Num célebre plano americano com Victor, à esquerda, Ilsa ao centro e Richard à direita (2794), com um fundo escuro e de uma janela fechada, Ilsa olha para Victor, serena e expectante, Victor sorri confiante para Richard que olha para fora do campo, sem direcção definida, como quem confia, quer deixar a mulher que ama ao lado do seu marido, encontrar a melhor solução para os três.
No Café do Rick, Renault não obteve resposta quando perguntou a Rick se ele tem vistos para a América. Vassler confirma a Renault que Lazlo pode ser um leader perigoso, quer para ficar, quer para partir de Casablanca. De permeio, Rick faz batota na sala de jogo para ajudar um jovem búlgaro a ganhar no jogo, para poder emigrar com a sua jovem esposa para a América. É a jovem que convence Rick a ajudá-los e lhe agradece.
No seu Café, Rick é interpelado por Lazlo que lhe quer falar em privado, seguindo ambos para o escritório de Rick. Lazlo diz-lhe que tem de sair de Casablanca porque é chefe de um grande movimento e para ele terá um grande significado trabalhar com milhares de pessoas na América. Sabe que Rick, que quer fazer passar-se por um simples “dono de café” ajudou os etíopes, combateu os fascistas espanhóis e lutou pelos desfavorecidos: é um modo de ambos estarem próximos. Rick confirma que lhe custou caro, que é mau homem de negócios e que não tem vistos à venda para ele e Ilsa; sugere que pergunte a sua mulher qual é a razão. Ao saírem do escritório para o Café, Lazlo insurge-se por ver Vassler e os alemães a cantarem um hino alemão e, porque está na França Livre, consegue que os músicos toquem a Marselhesa, ele próprio começa a cantá-la e a dirigir quase todos os presentes a cantá-la, sobrepondo-se ao hino alemão. Neste contexto, surpreendemos um grande plano de Ilsa (2795), a olhar embevecida, serena e firme, para a força e dignidade de seu marido que quer bem demarcar que se encontra não na Alemanha nazi, mas no solo livre de França – como antes afirmara a Vassler –, sob o signo de Liberté, Égalité Fraternité, que está presente em algumas das primeiras imagens do filme. Vassler ao ver a influência de Lazlo sobre as pessoas, pede a Renault que mande fechar o Café, inventando uma razão: Renault justifica a Rick que é por causa do modo como se joga no seu Café… De passagem, Vassler diz a Ilsa que não é seguro que ele parta e que deve ir, com um salvo-conduto de Vassler, para a França ocupada; se ficar em Casablanca, a vida é muito barata.
É previsível que Victor Lazlo que é seguido dia e noite pelo Major Vassler e sua comitiva, em Casablanca, venha a ser capturado. Lazlo tenta esclarecer discreta e indirectamente como é que Ilsa encontrou Richard Laine em Paris. Então, num encontro a dois, no quarto onde estão hospedados, Lazlo pergunta a Ilsa se ela se sentia muito só quando estava em Paris e quando ele, Victor Lazlo, era dado como morto. Ilsa confessou que estava muito só, que encontrou Richard Laine. Pede a Lazlo que tenha muito cuidado com a reunião nocturna para que está convocado.
Ao regressar ao Café, Rick encontra Ilsa no espaço do seu quarto e escritório, confessando que conseguiu entrar pelas traseiras, para lhe pedir os vistos para ela e Victor. Argumenta que Victor e Rick lutam pelo mesmo ideal, a mesma coisa. Rick restringe que agora só luta por si próprio e recusa ouvir a verdade porque acha que Ilsa lhe mentirá só para conseguir os vistos. Ilsa insurge-se contra o facto de Rick se querer vingar e só pensar nele, ameaça-o com uma pistola, sabendo que não o matará, acabando por ouvir Rick dizer que, se ela disparar, lhe fará um favor e tornará tudo mais fácil. Está nas mãos de Ilsa a viragem para o positivo, o nobre, o elevado de toda esta situação complexa que finalmente ela esclarece depois de chorar muito e de lhe confessar que sofreu muito e que ainda o ama muito. Escondeu-lhe que era casada porque ninguém sabia; Victor queria protegê-la da Gestapo; quando conheceu Rick, sabia pelos jornais que Victor Lazlo, seu marido, tinha morrido ao tentar sair do campo de concentração. Mais tarde, pouco antes de Rick partir de Paris, soube por amigos, com muita mágoa e aceitação – grande plano ( 2796) - que Victor estava vivo, escondido perto de Paris. Não disse nada a Rick, porque sabe que ele, se soubesse, não fugiria de Paris, e teria sido apanhado pela Gestapo. Agora não sabe como a história vai terminar, já não sabe o que é certo, já não pode fugir uma segunda vez de Rick, já não tem força para abandonar Rick outra vez e pede-lhe que ajude Lazlo para o seu trabalho e a sua vida, que decida o melhor para os dois, para todos; gostaria de não o amar tanto. É nesta atitude de transmutação da sua própria confiança em Rick que Rick lhe promete resolver o melhor para os três e lhe deseja boa sorte – “is looking to you, kid”.
Entretanto Lazlo é perseguido pela polícia na rua, consegue esconder-se com Carl, o criado alemão, entraram ambos pelo café do Rick. Rick abre a porta do escritório e chama Carl para subir, fechar as luzes das traseiras e levar Miss Lund para casa.
Sozinho com Richard, Lazlo, ferido num braço por ter fugido por uma janela, dirá a Richard que ambos amam a mesma mulher, a sua mulher: percebeu desde o primeiro encontro. Não pede explicações; só pede que use os vistos que tem para segurança de Ilsa; confessa que não é apenas um homem de ideais e de grandes causas, é também um ser humano que ama muito a sua mulher, a mesma mulher que Rick ama. Perante esta situação complexa, Ilsa não queria voltar a abandonar Richard, embora o marido Lazlo confie na palavra de Ilsa que lhe dissera “haja o que houver - …[subentende-se ”amar-te-ei sempre”, como disse antes de se separar de Richard, em Paris].
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