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ALGUMAS LENDAS DA REGIÃO DE LAMEGO, em especial de mouras encantadas Coligidas por Fernanda Frazão |
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A lenda de Ardínia (Ardénia ou Ardinga) |
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A lenda da Princesa Ardínia revela-se de especial significado para o estudo desta região, da sua cultura e do seu património, acabando mesmo por ser um interessante elo de ligação entre vários elementos e símbolos populares da região. Senão vejamos: O pai da lendária princesa chama-se Huim Alboácem e terá sido vali de Lamego (este nome vai adquirindo várias cambiantes e aproxima-se muito daquele que é tido como o fundador de Boassas - Zidi Abolace). O cavaleiro cristão chama-se D. Tedon (ou Tedo) que é o nome de um rio da região, afluente do Douro. Por outro lado, parte da cena passa-se no local onde hoje se ergue o singelo templo românico de S. Pedro das Águias, o qual manifesta nítidas influências orientais na sua concepção. Reza assim a descrição da lenda de Ardínia pelo licenciado Jorge Cardoso, no tomo I do seu Agiologio Lusitano: «Em Lamego, a violenta morte da Princesa Ardinga, filha de um rei mouro daquela cidade, ao tempo que nela, e na maior parte de Espanha dominavam os (...) Ismaelitas. Esta levada da fama das grandes façanhas do ilustre capitão Tedon, bisneto do rei D. Ramiro II de Leão, que o mundo apregoava, e vencida do amor, e casta afeição de o alcançar por consorte, disfarçada ausentou-se do palácio de seu pai, em companhia de uma sua colaça, e havendo caminhado alguns dias, fugindo das estradas, veio ter ao mosteiro de S. Pedro das Águias da Ordem de São Bento na comarca da Beira, de que era abade Gelásio, monge de muito santa vida, o qual alcançando nas primeiras palavras, que com ela falou, quem era e o fim da sua vinda, lhe persuadiu, que se o queria ter por bom terceiro em sua pretensão, havia primeiro que seguir a fé de Cristo, o que ela de boa vontade aceitou, e instruída na doutrina e Sagrados mistérios, recebeu a água do Santo Baptismo. O que sabendo seu pai, veio dissimuladamente em sua busca e com infernal furor (não se fiando de outrem) ele próprio por suas mãos afogou, em ódio de nossa sagrada religião, que havia professado: pelo que piamente cremos goza na glória esta purpúrea rosa (nascida entre os espinhos da seita maometana) da ilustre coroa de mártir.» Detectamos ainda uma outra versão, aparentemente mais recente, que diz o seguinte: «Ardinga era uma formosa princesa moura, pouco mais que adolescente. O pai, “váli” de Lamego no Século X, guardava para o califa de Córdova (hoje Espanha) esta terra, mas verdadeiramente guardava-a para si das tentativas de conquista do rei leonês. Neste cenário de guerra desabrochou o amor no coração de Ardinga. No castelo contavam-se histórias de heróicos cavaleiros cristãos e de um melhor que todos – D. Tedon, que batalhava nas montanhas de nascente. Ardinga ouvia estas narrativas e sentia mais fervor por elas que pelas repetidas histórias das Mil e Uma Noites que as aias lhe contavam com os olhos de sono. E o seu coração prendeu-se ao cavaleiro cristão com o mais belo dos amores. Certa noite, juntamente com uma irmã que lhe anima o sonho formoso, fugiu do castelo. Seu amor levava asas e guiou-lhe os passos por caminhos das cristas difíceis de transpor, por vales onde repousa à sombra das ermidas. Num alcantil do rio Távora – São Pedro das Águias, eremitério confundido com os rochedos – o abade Gelásio animava os guerreiros e curava-lhes as feridas da alma e do corpo. Ardinga beijou-lhe o manto e contou-lhe o seu segredo. Mas o seu cavaleiro, perdido nas lutas, demorava a tomar posse do seu coração, já feito cristão pelo baptismo. Enfurecido, o “váli” seu pai procurou Ardinga pelo caminho que conduz aos cristãos. Encontra-a e, duro no perdão, mistura o sangue mártir da filha com as águas inocentes do rio. Quando o cavaleiro cristão chegou, só conheceu a tragédia. Nunca mais o seu coração de poeta havia de amar senão a memória do amor da jovem princesa moura. Hoje, as rotas de Ardinga passam por muitos templozinhos cristãos de românico saboroso, construídos com amor sobre as ruínas das ermidas que guiaram a princesa.» Ferreira, Manuel dos Santos da Cerveira Pinto – O Douro no Garb Al-Ândalus: a Região de Lamego durante a Presença Árabe. Dissertação de mestrado em Património e Turismo. Universidade do Minho, 2004, p. 78-80. http://hdl.handle.net/1822/3001 |
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