No curso de um passeio que visa pôr em contacto, anualmente, as várias gerações de britiandenses, promovido pela Junta de Freguesia, com a cooperação do pároco, Dr. Armando Ribeiro e da Associação Juvenil de Britiande, este ano fomos admirar a obra magnífica do arquitecto grego Alexandros Tomabazis, a novíssima Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima.

Considerada uma das quatro maiores igrejas do mundo, realmente espanta pela sua imensidão, à semelhança de outras que conhecemos na América Latina, para não falar da igreja do Vaticano, que não consente que outra maior do que ela se construa.

Surgiu-nos na mente a comparação com as grandes igrejas da América Latina, porém não é necessário invocar a da Cidade do México, pois qualquer dessas igrejas do Brasil ou da Bolívia, em que as missas são mais dialogadas com o público do que rezadas ou cantadas, qualquer uma dessas igrejas, que não precisam de ser evangelistas, pode ser La Mansion, em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, dirigida por apenas dois frades dominicanos, qualquer uma delas, repito, é um espaço imenso. Em La Mansion há quatro mil lugares sentados. Assisti ali a uma missa e fiquei arrasada pelo peso emocional que aquela gente liberta, a cantar, a rezar, a responder às interpelações do padre, a quase dançar ao som de instrumentos vários de uma de várias bandas que ali dão concerto.

La Mansion ocupa um quarteirão inteiro, com as várias instalações, um ISTA - Instituto São Tomás de Aquino - e os jardins, nos quais, à noite, vemos jovens a estudar. Os frades dão explicações ao ar livre, um grande quadro de ardósia pregado a uma parede era invariavelmente coberto de equações, todas as noites, enquanto estive em Santa Cruz de la Sierra, numa residencial situada mesmo em frente daquela casa dominicana.

Acode ao espírito que agora, com a Igreja da Santíssima Trindade, podemos competir com as brutais dimensões que a fé assume noutros países, muito maiores que o nosso. Talvez, talvez um dia Fátima venha até a ser a capital da nossa pequena República, pelo menos já a decisão de tornar obrigatória a construção de vias pedonais para peregrinos assim o profetiza. Talvez Fátima, com a sua imensa máquina de ganhar dinheiro, venha a salvar o país da pobreza que cada vez mais se avoluma. Fátima é uma terra que se modifica de mês para mês, que aumenta vertiginosamente, para ganhar capacidade de alojamento de tanto visitante. Pode bem vir a tornar-se capital de república, já que hoje é capital religiosa.

O que fica no entanto da visita, para além destes raciocínios economicistas, é a beleza da igreja. Já a antiga, não sendo muito bela, se apresentava no entanto muito moderna para o tempo em que foi construída, erguida em linhas simples e enérgicas, ao gosto do Estado Novo. A da Santíssima Trindade é muitíssimo mais bela e mais simples, de linhas puras, estilizadas, acamada sobre a terra em vez de atirada como flama para o alto, como foi típico do gótico, e sobretudo do flamejante. Neste aspecto, é uma igreja modesta, humilde, recolhida, sem exibicionismo. Só o Cristo crucificado, no exterior, tão estilizado como a igreja, se projecta para o Céu. O povo não gosta dele, não tem feições. Existe um abismo entre a cultura artística do povo e a dos que conceberam a igreja e seus ícones. Nada disso importa face a uma obra nitidamente voltada para o futuro. Um dia, todos hão-de emocionar-se, quando o moderno tiver sido assimilado e o povo deixar de viver nas expectativas estéticas do naturalismo do século XIX.

Maria Estela Guedes

8633 - capacidade total da igreja (3175 + 5458),incluindo 76 lugares para pessoas com deficiência

9 - projectos arquitectónicos apresentados para a nova igreja

7,5 - metros de altura do crucifixo de bronze esculpido pela irlandesa Catherine Green, suspenso sobre o altar

13 - número total de portas, numa referência aos dias 13, das Aparições da Nossa Senhora

25 - idiomas utilizados nos painéis de vidro colocados na porta principal

500 - metros quadrados da área do mural em ouro e terracota, colocado atrás do altar

130 000 - metros cúbicos de volume total da igreja

15 - metros de altura média do edifício

5 - quilómetros de estacas utilizadas

7000 - toneladas de aço e metros cúbicos de betão branco

50 000 - metros cúbicos de betão cinzento

70 000 000 - de Euros, custo total estimado da obra

64 - metros quadrados, área total da porta de entrada

3 - capelas da Reconciliação, que servirão também para outras celebrações

64 - gabinetes/confessionários, para peregrinos portugueses e estrangeiros

120 - lugares para acólitos no presbitério da igreja

12 315 - metros quadrados, área da cobertura

1476 - metros quadrados de área do espaço de convívio e reunião para peregrinos, debaixo da igreja

38 516 - metros quadrados de área bruta de construção

125 - metros de diâmetro na zona da Assembleia

3075 - trabalhadores registados

296 - empresas envolvidas nos trabalhos

3500 - quilos de cada porta de entrada.