A. de Almeida Fernandes
Alguns sonetos cristãos
SANTA SOFIA
Mãe das mártires Fé, Esperança e Caridade. Roma, ano de 138. Imperador Adriano. Após o falecime do marido (que havia sido senador), passou de Milão para ali — onde as filhas, pela notória rebeldia ao culto oficial, foram presas e interrogadas, e, por fim, pela firmeza na fé, submetidas a tormentos, que as fizeram morrer. A mãe, martirizada de alma quanto elas de corpos, animou-as até à morte, indiferente a um mesmo destino — que, porém, não padeceu.

EM MIM REPARA, E VÊ QUE VÃ PORFIA!

Chegado à beira do meu lago umbroso,
pela «mãe» Sofia chamo, e não responde:
Onde, pois, encontrar-te, o «mártir», onde
— oculta em nebulento misterioso?

Revolvo as águas, até isso eu ouso:
mas mais feliz não sou — tudo se esconde.
Não hei virtude que essas águas sonde
e cans — sem remédio e sem repouso.

Onde estarás — ó «mãe» que me valia?
Em mim repara, e vê que vã porfia!
Encoraja-me, dá-me uma palavra,

que eu vivo neste «só», que a Deus pedia:
— Suplico-te, ó «mãe», a companhia!
Verga-me a pena, e quase já não lavra (1)!

Ecos da Meadela, 7 (6), Maio 1990

(1) Em cerca de duzentos anos, este poema agora sorteado, foi dos últimos compostos: quando «ordenará» Deus mais?

OBRA POÉTICA
de
A. de Almeida Fernandes

Organização e prefácio de Alberto A. Abreu

Viana do Castelo . Junta de Freguesia da Meadela
2000