A. de Almeida Fernandes
Alguns sonetos cristãos
SANTA EPISTÊMIA (1)
Virgem mártir de Sin (Sinsi), no actual Egipto. Ano de 253, imperador Décio. Festa a 5 de Novembro. Era uma jovem idólatra, mas casou com um cristão que empreendera convertê-la. Conseguiu-o, e muito mais: convencê-la a fazerem vida de irmãos. Acabando por decidir viverem num mosteiro, viajaram de Emessa (extremo noroeste da Síria de então) para o Sinai (deserto), onde cada qual se recolheu num. Descobertos pela perseguição imperial, mantiveram-se na sua fé, pelo que lhes cortaram a língua, deceparam pés e mãos, e os decapitaram.

UM PURO FRÉMITO DE ALMA SACUDIDA...

Epistémia (1), o que é... «sabedoria»?
Troca senil por falsa juventude,
— de Margarida ter o amor que ilude,
ser novo Fausto, que outro céu não queria...?

Se alguma eu tinha, onde está a valia?
Zoilos (e maus), o insulto torpe (e rude)
— sempre escarnindo, que não fiz nem pude
o que «eles» conseguem sem o que eu sabia...

Prefiro a tua conversão celeste...
Bem hajam as mãos que hoje me estendeste
num puro frémito de alma sacudida!

No meu deserto (que alimento é este?),
grãos de maná, as águas que bebeste,
- a «Carne» e o «Sangue» que me deram a Vida!

Ecos da Meadela, 9 (12), Novembro 1992

(1) Epistémia é nome grego que quer dizer «sabedoria». Significa o poema a constante conversão que é a vida cristã, sem nunca olhar para trás com as saudades do passado (vida juvenil cheia de afectos, vida adulta plena de êxitos) ou, ao contrário, com a indignação das frustrações - a loucura - sabedoria de S. Paulo.

OBRA POÉTICA
de
A. de Almeida Fernandes

Organização e prefácio de Alberto A. Abreu

Viana do Castelo . Junta de Freguesia da Meadela
2000