A. de Almeida Fernandes
Alguns sonetos cristãos
SANTA BÁRBARA
Virgem mártir de Nicomédia (Bitinia, hoje Ismid, na Turquia, parte asiática), imperador Maximino, ano de 235. Festa a 4 de Dezembro. Seu pai, sectário pagão, em tão alto grau a amava, que a encerrou numa torre, para que ninguém, vendo-a, a amasse mais que ele. Relacionada daí com Orígenes, a jovem tornou-se cristã. Soube-o o pai e resolveu casá-la, ao que esta se recusou: cego de ira, denunciou-a como infiel à fé imperial. Foi então atormentada até ao horror: queimada com tochas, corte dos seios, etc. Condenada à degolação, quis o pai encarregar-se do acto. Findo ele, ao descer do monte onde o realizou, foi fulminado por um raio, com o céu limpo.

DA TORRE O CARCEREIRO ENCARCERADO...

O seu nome fundiu-se em meus terrores
quando o céu ribombava "repreensivo"...
Rezava o Magnificat mais vivo,
torvado de trovões atroadores...

Mas ligou-se também aos meus "amores"
esta lembrança do verão festivo...
Se o negro ar lampeja, convulsivo,
na festa vão anjinhos, vão andores...

Ó dias dessa infância bela e santa
em que eu, em tal torrinha, que me encanta,
sonhei viver, com Bárbara «mandado»!

Anos passados... tanta coisa, tanta
me foi tirada à porta que me espanta
- de outra e carcereiro encarcerado!...

Ecos da Meadela, 14 (2), Fevereiro 1997

O sentido do poema é claro: uma evocação da ingénua crença de infância "realizada" numa paixão esponsalícia (Bárbara esposa de Cristo), e do alarme quase escatológico de um fim do mundo ao som de travões e luz de relâmpagos espantosos.

OBRA POÉTICA
de
A. de Almeida Fernandes

Organização e prefácio de Alberto A. Abreu

Viana do Castelo . Junta de Freguesia da Meadela
2000