Nasceu em Britiande,
freguesia do concelho de Lamego, a 26 de Novembro de 1917. Um dos filhos
mais novos do Comendador Prof. João de Almeida Fernandes e da Senhora D.
Aurora da Conceição Rodrigues – eram nove os seus irmãos -, e foi
baptizado na Igreja Paroquial de Britiande com o nome de Armando.
Seu Pai foi um homem
culto, votado aos livros e à História Greco-romana. Era filho do General
Ramsey e da senhora D. Maria Josefa de Castro Fernandes de Almeida e
foi, mais tarde, perfilhado por um primo desta Senhora, com quem ela
casou, após o falecimento do General Ramsey, ocorrido durante as
Invasões Francesas.
Desde muito jovem, a
ligação afectiva entre Pai e filho era reconhecida. Sabe-se que A. de
Almeida Fernandes passava todo o seu tempo livre na Biblioteca de seu
Pai e existem trabalhos que realizou com a idade de 14 anos. Estes,
versando, embora, várias temáticas, denunciavam o seu especial interesse
pelos primórdios da História de Portugal.
O Comendador João de
Almeida Fernandes, reconhecendo no filho características que apreciava,
cuidadoso como sempre fora com a educação dos filhos, não deixou de
proporcionar àquele aulas particulares de Música, Latim e Inglês. Daí
que cedo se tivesse dedicado à Música, compondo e tocando vários
instrumentos musicais: órgão, banjo, clarinete e piano, este não muito
do seu agrado. O Latim viria a tornar-se, pela profundidade do seu
conhecimento, um instrumento de trabalho eficaz e imprescindível; o
Inglês e, mais tarde, o Alemão tornar-se-iam também essenciais para o
estudo da Toponímia e Antroponímia germânica, o mesmo vindo a acontecer
com o estudo do Grego e do Árabe.
Armando de Almeida
Fernandes foi aluno do Colégio de Lamego, que frequentou, tal como seu
Pai e seus Irmãos, até ao 5.º ano, tendo depois ido para Coimbra,
completando aí o 6.º e o 7.º ano e, depois, tirando os Preparatórios de
Engenharia Civil. No Porto, continuou os estudos do 4.º ano deste Curso,
abandonando-o, posteriormente, para se licenciar em Engenharia
Geográfica e em Ciências Pedagógicas.
Desde os vinte e dois
anos até ao final da sua vida, devotou-se ao estudo da História de
Portugal (dos séculos V-XIII). As primeiras obras versam primordialmente
figuras de grande importância, ligadas à sua região de nascimento – Egas
Moniz, Conde D. Henrique, D. Pedro, Conde de Barcelos e ainda as grandes
famílias medievais. Leite de Vasconcelos e o Abade Vasco Moreira, amigos
de seu Pai, foram influências marcantes no seu percurso como
historiador. E nesta sua actividade, escolheu, ao longo dos anos da sua
prática, não diminuir o papel e o contributo de outras ciências para a
construção historiográfica: a Geografia, a Filologia, a Etimologia, a
Onomástica (Toponímia e Antroponímia). O profundíssimo conhecimento do
Latim tornou-o um paleógrafo de excepção. Como referiu António Sérgio,
“os seus estudos da especialidade (são) particularmente apreciados pelo
que revelam de vastíssima cultura, ponderação, agudo espírito crítico,
solidez de argumentação e brilho de forma, constituindo, no seu
conjunto, um verdadeiro monumento de história medieval da nação
portuguesa, em que abundam as novas e justas interpretações, as
correcções a inexactas suposições tradicionais, a redução a estreitos de
verdade de fantasiosas teses de historiadores sem bases nem senso
interpretativo”.
Como escreveu Joaquim
António Santos Simões, anterior Presidente da Sociedade Martins
Sarmento, em Guimarães, A. de Almeida Fernandes era uma “personalidade
generosa, lúcida e manifestamente importante para esta Sociedade”. Ou
como Alberto Abreu disse “no silêncio do seu gabinete construiu sólido
edifício da nossa história alti-mediévica […] com rigor epistémico […].
A. de Almeida Fernandes soube conjugar o rigor de uma historiografia
herculaniana com a sua formação de Engenheiro Geógrafo”.
Ou como José Hermano
Saraiva referiu “a total independência de catequeses, ou apologias,
sejam elas quais forem, a desvinculação de escolas históricas, uma
liberdade nua e total nas perscrutações de uma verdade, acerca da qual
só lhe merecem fé as informações coevas”.
Ou como Joaquim
Veríssimo Serrão que regista “o valor e extensão da sua pesquisa
histórica, que se traduziu em trabalhos de feitura original e que são de
consulta imprescindível para o melhor conhecimento da Idade Média
Portuguesa”.
Foi na biblioteca de
seu pai que recebeu os seus primeiros conhecimentos. A sua terra natal
das mais ricas na História Medieval Portuguesa, teve, seguramente, uma
influência inegável. No entanto, é na sua luta pela verdade histórica,
no seu sentido de liberdade total, na minúcia do seu trabalho, no seu
carácter e nas suas virtudes humanas, que ao não aceitar uma só traição
a si próprio e aos seus princípios morais e éticos, que A. de Almeida
Fernandes construiu a sua obra.
Ainda a Poesia de que
constam, ainda não toda, mas grande parte coligida e publicada, alguns
outros interesses surpreenderão: o seu jeito para o retrato e para a
gravura, a autoria de músicas de cânticos religiosos à Virgem Maria,
poemas sinfónicos, missas e uma ópera.
Em 1947, a de 23 de
Agosto, Armando de Almeida Fernandes casa-se, na Capela de Nossa Senhora
das Necessidades, em Tarouca, com Elda dos Santos Carvalho, natural
desta cidade, de que vem a ter dois filhos: Flávia Domitila e Adalberto
José.
Por opção de vida,
decidiu passar a maior parte do seu tempo entre os familiares mais
próximos, a quem proporcionou um enorme conforto espiritual e material,
e em cuja presença encontrava ambiente propício ao seu trabalho.
Em novo, reuniu-se de
quanto precisava, deslocando-se, com frequência à Torre do Tombo, a
outros Arquivos e Bibliotecas, como a então designada Biblioteca
Nacional. Existem, em grande número, documentos, até hoje inéditos que
copiou por sua própria mão, num tempo em que ainda se não pensava nem
sequer em fotocópias nem microfilmes, bem como todo um conjunto de
apontamentos, anotações, inventários, …
À data da sua morte,
ficaram publicadas cerca de 70 obras, embora exista um número de
inéditos considerável, dois dos quais prontos para publicação. Seu
último manuscrito acha-se em fase de composição e consiste numa
Geografia Documental, que contém umas boas centenas de documentos
tratados no que interessa à Toponímia, às estirpes medievais e às
delimitações das terras, através da morfologia do terreno em que tudo se
insere e com que tudo se relaciona. Prevê-se a sua conclusão em 2012.
Além de todas
estas publicadas e por publicar, destacam-se inúmeras colaborações em
edições da especialidade e ainda na Grande Enciclopédia Portuguesa e
Brasileira, cujos artigos de sua autoria, sem fossem publicados, em
separado, dariam cerca de 100 volumes médios, dado que contamos com um
milhar de entradas.
Em coerência com a
sua opção de vida junto da Família, recusou várias bolsas de estudo,
entre elas uma na Sorbonne, outra no Centro de Estudos Históricos de
Coimbra, ainda para a Academia Portuguesa da História e convites para
universidades, entre outros.
O seu espólio
pessoal, bibliográfico e documental foi doado pela Filha à Santa Casa da
Misericórdia de Tarouca, com o objectivo de perpetuar o nome de seu Pai
e de dotar a cidade com o Centro de Estudos A. de Almeida Fernandes.
Em 2004, a 20 de
Fevereiro, dois anos após o falecimento de Armando de Almeida Fernandes,
a Fundação Dona Mariana Seixas, instituiu o Prémio “A. de Almeida
Fernandes – História Medieval Portuguesa”, com o objectivo de homenagear
este Historiador Medievalista e incentivar a novos estudos sobre as
temáticas desta longa e complexa época que é a Idade Média, pré e
pós-nacional.
O Prémio foi
atribuído todos os anos a estudos inéditos e a obras publicadas de
reconhecida qualidade científica, até ao ano de 2009.
Por motivos alheios
ao Prémio, este foi cedido pela Fundação Dona Mariana Seixas às Câmaras
Municipais de Ponte de Lima e de Lamego, com a autorização da Filha do
Historiador. Assim, em 1 de Julho de 2010, as duas edilidades
estabeleceram, em cerimónia pública, realizada em Ponte de Lima, a
parceria entre ambas e assinaram o respectivo protocolo.
O Prémio “A. de
Almeida Fernandes – História Medieval Portuguesa” é o único existente
sobre a Idade Média.
Embora pouco
interessassem a A. de Almeida Fernandes honrarias e publicidades, é
facto que dava importância às manifestações de reconhecimento da solidez
dos seus estudos e da sua honestidade intelectual. Tal nem sempre
aconteceu e houve casos em que se pretendeu ignorar as suas teses,
deliberadamente, não citando este Autor ou, mesmo, abordando as matérias
tratadas por ele, como se nada existisse sobre elas, numa atitude que
sentia de apoderação do que era seu.
Facto é que alguns
casos o feriram de sobremaneira, sobretudo vindos de quem tinha
obrigações morais e intelectuais e que, alguma vez, anteriormente, o
havia considerado como seu mestre, ao mesmo tempo que aconselhava
reservas sobre trabalhos pioneiros que até hoje se mantêm únicos.
Quanto às
“pachouchadas” (sic) de “pigmeus” (sic), ignorantes, atrevidos e
insultuosos, respondia na medida da ignorância e do insulto.
Não dando crédito a
lendas nem a tradições, nem a fontes menores discordantes,
contraditórias e muito lacunares, como Hagiografias, por exemplo, cujo
único objectivo é o de relevar o decurso da vida e os milagres dos
Santos, nem as invenções que desde as Guerras da Restauração foram
propositadamente inventadas, como as tão faladas cortes de Lamego, uma
das poucas cidades portuguesas onde nunca as houve, Almeida Fernandes
colocou na mesa os principais acontecimentos que posicionavam D.
Henrique e D. Teresa em Viseu, no ano da morte de Afonso VI, de Leão,
aquando da traditio para a Sé de Coimbra do Mosteiro de Lorvão, a
presença do Arcebispo de Toledo em Viseu… tudo por Julho/Agosto de 1109,
tendo originado uma constante presença de D. Teresa em Viseu e uma
movimentação inesperada de D. Henrique, entre Toledo, Sintra, Viseu,
Coimbra, regressando a Viseu, onde muito provavelmente o referido
Arcebispo baptizou o Infante. Ainda a ausência da rainha em Azurara
aquando da outorga do foral, no mesmo ano, e as recompensas à Catedral
Viseense, nessa mesma altura e nos meses mais próximos por D. Teresa com
a outorga de direitos reais, e por D. Henrique com uma importante
confirmação que havia sido feita à dita sé por Fernando I, bisavô de
Afonso Henriques, como formas de recompensa por serviços prestados.
Digamos que, entre finais de Julho e princípios de Agosto, todos os
caminhos iam dar a Viseu.
A sua grandeza, como
historiador e como Homem, é cada vez mais reconhecida.
Entre algumas das
homenagens mais significativas contam-se:
1- A atribuição da Medalha de Ouro do Município de Tarouca. Na
Toponímia desta cidade, passou a figurar a Rua Dr. Armando de Almeida
Fernandes, onde morou.
2- Atribuição da Medalha de Cidadão Honorário do Município de
Lamego. Na Toponímia local, existe a Alameda Dr. Almeida Fernandes e um
Monumento votivo oferecido e colocado pela Câmara Municipal de Lamego,
onde está uma coroa de reconhecimento por parte da Fundação Dona Mariana
Seixas.
3- A Freguesia de Britiande, sua terra natal, distinguiu-o com duas
placas colocadas na casa onde nasceu, uma delas oferecida pela Fundação
Dona Mariana Seixas.
4- Academia Portuguesa da História: “Colóquio A. de Almeida
Fernandes”, organizado por sugestão da Ex.ma Senhora Presidente, Prof.
Doutora Manuela Mendonça, a que se seguiu, um dia depois, na mesma
Instituição e sob a Presidência da mesma Senhora, a atribuição do Prémio
de História Medieval, na sua 6.ª edição. Estiveram presentes Amigos,
Conhecidos e Membros da Academia.
5- Condecoração com a Ordem do Mérito, honras e insígnias, grau de
Comendador por Sua Excelência o Presidente da República, Dr. Jorge
Sampaio, em 2003, e entregue por Sua Excelência o Senhor Presidente da
República, Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva, em 2007, no Salão Nobre
da Câmara Municipal de Lamego.
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