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II BIENAL DE POESIA
SILVES. 2005
SANDRO WILLIAM JUNQUEIRA
POEMAS

São de pedra os teus cabelos

e siameses os riachos:

as tuas mãos.

Não conheço ainda assim o rosto

que quis conhecer um dia.

Nem o sal da palavra adeus.

Espero amar algum dia

uma estrela atenta

nas profundezas da luz;

aguardando o amor

com o amor com que me amaste.

Um peixe sobe o rio

contra a corrente;

ódio: chora:

lutam nos teus olhos as lágrimas frias

desta despedida inevitável.

As palavras não escrevem.

Estão fechadas: dentro das emoções que ardem aos poucos pela casa.

Lá fora o mundo foge pela noite;

a chuva estala.

Lembra-nos o sangue

que ninguém abraça:

o muro alto;

a mão, clausura de si

e movimento.

A mão não escreve para Deus:

tortura.

A mão morre para dentro:

amputada.

As mãos têm fome.

O sol nasce e vem comer as mãos.

 

Os animais lutam entre si:

a luz e a carne.

As sombras orquestram o silêncio.

 

As mãos apanham todo o sólido e todo o líquido;

a luz é mera impressão digital.

 

As mãos têm fome como as crianças

mas não agarram a palavra mão,

nem a palavra mãe.

 

As crianças são mais fortes que as palavras.

porque abraçam.

As palavras são mais fortes que as mãos.

porque mentem.

Sandro William Junqueira

Nasceu em 1974.

Fundador do Grupo de Teatro "A Gaveta".

Em 2002 publicou o seu primeiro livro "É preciso este silêncio" pela editora "Amores Perfeitos".

Tem publicados, nas revistas "Emcena" e "Storm-magazine", poemas e contos.

Faz parte do projecto "Ode".

SILVES, CAPITAL DA PALAVRA ARDENTE