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II BIENAL DE POESIA
SILVES. 2005
MARIA GOMES

POEMAS

 
Talharam a Terra

talharam a terra o mar encheu-se de surpresa

e o sétimo sol nasceu insone

levaram o vento a letra da caneta infante

enfeitiçaram a fome a fome intransmissível do amor

na loucura no sorriso do instante sobre a mesa

sobre a leveza de um instinto branco

ardeu tudo imaculadamente

no espaço acessível à sombra do anseio numa pomba

e a melodia veio como um manto como um meio.

 
A Lira a Noite a Lógica

eu sei que as cigarras tangem o sono levíssimo

das pedras que se detêm

nos nossos dedos de escarpas e solidão.

sulco adormecido pó do meu sentido

arco insuportável e o sul a apetecer sempre.

eu sei que se confundem cantos numa ternura gritante

eles são a lira a noite a lógica rente às nossas mãos.

 
Entre Palavras

encontras-me no silêncio das esquinas

entre palavras que nos escrevem.

encontras-me nas flechas que se atravessam

nos açoites mínimos nos gestos de destino

estarei na primavera com um cravo lúcido na boca

a gritar o nome da praia nómada em que me perdi.

serei a flor violenta ausente o vento o sangue

serei a espuma que por ti rebenta

e se mais não for diz ao mundo

que ninguém ouve

o que se sente é escuro humana é a noite

onde há sempre uma palavra pronta a acariciar um punho.

 

Directório de Maria Gomes no TriploV

SILVES, CAPITAL DA PALAVRA ARDENTE

 



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