Ao Poeta José Correia Tavares

JÚLIO CONRADO


Ao Poeta José Correia Tavares, na sua morte (1938-2018)

Foi a escritora Júlia Nery quem, por telefone, me transmitiu a notícia esperada. Após o falecimento de sua mulher, na passada sexta-feira, hoje, quinta-feira, despediu-se de nós José Correia Tavares, Escritor, Poeta, Amigo do peito,  que enquanto Director da Associação Portuguesa de Escritores deu a esta Instituição – ultimamente em sacrifício –  o melhor do seu entusiasmo e da qualidade humana que esbanjou por todos aqueles que tiveram o privilégio de com ele privar. Homem de uma só palavra, de um só rosto, de uma só postura relativamente a um sentimento – a Amizade – que militantemente honrou e só afrouxou com aqueles que manifestamente não estiveram à altura do seu apreço e da sua solidariedade, partiu numa manhã clara de Janeiro deixando uma sensação de vazio que cedo não será ultrapassada.

No que me respeita, uma vez que me foi permitido beneficiar da sua experiência em mais do que uma ocasião como impecável revisor de alguns dos meus textos, sempre num quadro de descontraída e sã camaradagem, vou estranhar a falta da anedota súbita, da caricatura demolidora, das controvérsias respeitantes às oscilações do Grande Prémio de Romance e Novela que ambos ajudámos a fundar no já remoto ano de 1982, das intermináveis descrições que com a sua memória prodigiosa alimentava sem descanso as nossas conversas telefónicas (obrigando-me, por vezes, a cortar-lhe o discurso quando a conta do telefone já ia por aí fora), da quadra chamada ao diálogo que eu depois acabava por ver “repetida” em livro, lembro-me da sua queda no interior da carrinha que em 2006 nos levou de Maputo ao Kruger Park, que deixou todos os seus companheiros de viagem em pânico até recuperar o equilíbrio, felizmente sem mazelas graves a registar, e também recordo a ida à minha casa de Pragança (Montejunto), onde a Maria Celeste e eu convivemos com a família Tavares, adiandopara outra data a subida à Fábrica do Gelo, no topo da serra, num local conhecido por Senhora das Neves, e sem esquecer a apresentação que fiz do livro Leitura dos Actos no Palácio das Galveias, em Lisboa, no ano de 1999.

Foto da APE, em: http://www.apescritores.pt

Seria exaustivo, nesta hora do adeus, ir mais além na evocação de coisas em que estivemos juntos, mas guardo muita pena das palavras que ficaram por trocar com vista ao esclarecimento de algumas peripécias para posterior aproveitamento em livro de memórias que tenho a presunção de deixar escrito.

Que pena  José Correia Tavares, por teres partido sem que tenhamos aclarado algumas situações que sem a tua colaboração vão, talvez, ficar na penumbra ou mal recordadas.

Contava contigo!, meu Caro. Tiveste de dizer já adeus à Vida, logo tu, que gostavas tanto de viver. Adeus, Amigo. Grande abraço. Júlio Conrado