2º episódio
Callithrix humeralifer chrysoleuca (Wagner, 1842)
Mico sericeus Gray, 1868

Sclater (1869) comparou Micos dos museus da Europa, viu quais se pareciam e quais se diferenciavam mais. Chegou à triste conclusão de que o Mico da estampa afinal não é um Mico, sim Hapale chrysoleucos Wagner, 1842, que habita as vizinhanças de Borba, Rio Madeira (Brasil).

O conjunto dos nomes das espécies constitui a sua sinonímia; a nomenclatura transmuta-se e a sistemática também. Mas muito mais ainda se transmutam os seres vivos: foi assim, de transmutação em transmutação, e sem culpa nenhuma, que os micos acabaram filhos da sua mãe.

Sua Ascendência, o Chico, aproveita para esclarecer que só por milagre os nomes das espéces representadas pelos animais das estampas se mantêm: hoje todos eles devem ter nomes diferentes, os originais já cairam em sinonímia, dadas as revisões sistemáticas na sequência das transmutações animais. Em 1977, Hershkovitz publicava a desta espécie, com 15 diversos nomes, a evidenciarem as pelo menos 15 transmutações de geração para geração. Em Hershkovitz, o Mico deixou de ser espécie para se transmutar em subespécie, aquilo a que no século XIX se chamava raça, mulato ou variedade (seres gerados por selecção artificial ou humana, como toda a humanidade, e não só os mulatos) e por isso ganhou de presente novo nome em três apelidos - Callithrix humeralifer chrysoleuca (Wagner, 1842). Esta nova raça é afinal descendente da espécie reclamada por Sclater cem anos antes - Hapale chrysoleucos Wagner, 1842 - contra a classificação de Gray, que está na origem da miscigenação.

3º episódio
Michoella sericeus Gray

Graças a Gray, diz Sclater em novo artigo (Sclater, 1871), fingindo-se cada vez mais indignado, o pequeno Mico da estampa, que tinha deixado de ser Mico, passou a ser o tipo de um novo género, Michoella. Fora a resposta de Gray à crítica do seu colega: não gostas do Mico? Porquê? Preferes um parceiro cuja origem desconheces, sem pais registados em cartório, a um mulatinho procriado por mim? Pois toma lá @ Mico+ela! Foi assim que o mulato Mico se transmutou n@ andrógin@ ou híbrid@ Michoella sericeus Gray, e agora com muito mais pedigree: o exemplar, entretanto falecido, que vivera no zoo da Zoological Society, tinha sido enviado do Brasil por Natterer. Mostrando a sua teatral e cada vez maior indignação, Sclater faz uma errata: impossível o Mico ter sido enviado por Natterer, pois Natterer tinha morrido muito antes de 1868, ano em que @ Micoela vivera no zoo londrino!...

Sua Ascª, o Chico, desconfia que @ híbrid@ MicoMicoela nasceu no Jardim Zoológico da Royal Society of London, tendo como ascendentes directos, pelo lado do pai, Hapale=Callithrix, e Gray pelo lado da mãe, mas pede paciência até mais pormenores confirmarem a sua hermenêutica da história.

Sclater, fingindo-se sempre horrorizado com as travessuras de Gray, continua a tratar @ MicoMicoela como Hapale chrysoleucos Wagner, sem saber que mais 13 ou mais de 33 transmutações sofreria ainda a espécie antes de ser rebaptizada como Callithrix etal. Não parece nada, mas o rebaptismo é um preito de concordância da posteridade com a classificação de Sclater, apesar de Gray ter ainda mais razão.

Sua Ascendência, o Chico, acha todos os naturalistas mais parecidos com o Mico do que com a Micoela, embora anote as semelhanças entre eles e a doce família Callithrx, a seguir, antes de entre a sua descendência terem emergido mulatos brancos e não albinos.