Yugo Mabe – A luz das coisas e os cenários do mundo

JACOB KLINTOWITZ


Mais do que imaginar e pretender concretizar a beleza absoluta, o mito da perfeição, o pintor Yugo Mabe quando jovem aprendeu que a beleza possível tem a medida do ser humano. Ela é imperfeita e a sua natureza, dissonante ou harmônica, nasce desta ausência, consiste nela mesmo e na sua tentativa de ser uma forma encantatória, uma espécie de duende expectante prestes a levitar, E a beleza é perecível, impermanente, como é próprio da condição humana. E ela deseja ser eterna, fora do tempo, o que também é da condição humana. O que enleva, o que seduz, o encantamento da forma, nasce do fato de nos fazer pressentir e sonhar com esse voo livre de amarras. Yugo Mabe, um artista de obra suave e reflexiva, foi marcado por este embate inicial entre o desejo mítico do infinito e o percurso do herói. A tarefa do herói é sempre humana e temporal, ela é um caminho. O homem transita no tempo e constrói a sua legenda; a perfeição é atributo dos deuses e está no além do tempo.

Yugo Mabe no início de seu percurso pintava com alegria, entusiasmo e persistência. Numa destas sessões intermináveis em busca da expressão percebeu que a sua pintura, inesperadamente, estava de acordo com o seu desejo: harmônica, as cores crepitavam, a composição equilibrada, o assunto bem definido, as relações cromáticas exaltadas. Entusiasmado pensou em melhorar ainda mais a pintura. Poderia desenvolver cada um destes elementos, as relações internas, e não deixaria escapar a oportunidade de tornar a pintura mais densa, profunda, marcante. Trabalhou com alta concentração, intensamente, sem intervalos, sem cuidado com o tempo e o esgotamento perceptivo. Entretanto, ao contrário de sua expectativa, a tela parecia perder alguma coisa, a harmonia diminuía e havia conflitos espaciais, o brilho esmaecia e as cores não estavam mais ajustadas, mas independentes umas das outras. E quanto mais se esforçava, já angustiado por ver escapar de suas mãos o controle da obra, mais distante ficava a qualidade.

Era surpreendente, pois o que acrescia, diminuía. O novo pigmento amortecia o brilho. As formas tornavam-se pesadas. E o esforço que pretendia elevar a pintura para um momento único e apoteótico, a rebaixava a um tipo de esgotamento. Nunca imaginara que a forma pudesse ficar cansada.

Procurou a opinião de Manabu Mabe, seu pai, pintor de larga experiência, conhecido justamente pela expressividade pictórica ousada e refinada, fruto de extrema sensibilidade cromática e espacial. Mabe costumava observar a atividade artística do filho, mas intervinha pouco, era comedido em conselhos e observações. Mabe não se adiantava, a sua relação com os eventos era a mesma que tinha com a natureza: tudo tem a sua medida e amadurecimento próprios. Desta vez explicou para o jovem pintor.

– “A pintura é um ser. A obra tem vida própria. Você deve senti-la. Ela lhe diz a hora de parar, o momento em que está pronta. Nada mais o artista deve fazer. Pintar demais estraga a pintura. Continuar a pintar depois que a pintura está pronta estraga o que já está feito. O que não foi feito, o sentimento não expresso, a sensação de que alguma coisa escapou, pode ser tentado na próxima pintura.”

Sem perceber, de maneira espontânea, Yugo Mabe repetiu uma questão essencial da pintura e da arte. Trata-se do seu caráter experimental: a obra nunca é definitiva. Os seus temas e propostas podem ser retomados num próximo trabalho. Ela jamais se esgota. E a segunda parte desta questão, sequencial em relação à primeira, é que a concepção – intuição, percepção, vislumbre, iluminação – é sempre superior ao realizado, como se fossem habitantes de mundos diferentes, ou de realidades diferentes. Intuição e realização são complementares e faces diferentes do mesmo projeto, mas nunca são correspondências idênticas.

Este é o tema de um conto clássico e premonitório de Honoré De Balzac, “A obra-prima desconhecida” (Le chef d’oeuvre inconnu). Balzac previu o futuro. Talvez, na verdade, seja uma novela e não um conto, como costuma ser classificado, pois tem uma sequência de episódios unificados por um ou dois personagens. Entretanto, para o nosso ensaio, isto não tem importância fundamental e, de resto, é controvérsia infindável e tediosa a definição do que seja um conto.

Em 1832 Honoré de Balzac escreveu a história de um jovem pintor em busca de um mestre. O encontro com este mestre pintor o conduziu a outro mestre pintor ainda maior, o paradigma do grande artista. A ação é localizada no século XVII, em 1632, e é feita de uma série de momentos supremos, espécie de teatro de êxtases. É o segredo do suspense e do deslumbramento que ela causa. Há o jovem pintor de talento, Nicolas Poussin (é ficcional, não é o pintor real, histórico), há o Mestre Porbus, reconhecido por todos devido a sua extrema excelência e há o pintor maior, Mestre Frenhover, que, em rápida intervenção diante dos dois pintores, torna sublime uma pintura de Porbus. E há uma belíssima jovem, Gillette, apaixonada amante do jovem. A trama se passa em rápidas sucessões em que se discute a arte e a perfeição. Frenhover pinta há muitos anos uma tela que não mostra para ninguém e que será a sua obra máxima, a pintura mais sublime da história. Finalmente, após várias tentativas, Frenhover permite a observação da sua tela, desde que em troca a jovem de beleza extraordinária pose para ele. Troca Gillette, uma beleza extraordinária, mas humana, pela visão de uma extraordinária beleza pictórica humana, mas divina.

Mestre Frenhover descreve as figuras na sua pintura, mas os observadores só enxergam, com exceção de um pé maravilhosamente pintado, borrões e empastelamento de pigmentos. Balzac antecipa a ausência da figura na pintura, a pintura não-objetiva, a abstração lírica.

Suspeita-se que o pintor Eugéne Delacroix, grande amigo do autor, tenha sido a fonte onde bebeu Balzac tanto conhecimento específico. O que é certo é que esta história antecipou o abstracionismo e nos ofereceu um exemplo de fantasia da perfeição e, igualmente, a distância entre o delírio e a obra concretizada. Entre a enunciação do desejo e a arte há um abismo. A mitologia grega já advertia que os Deuses puniam os humanos que ultrapassavam a medida, o Métron. A Hybris é esta desmedida.

O saber na pintura e sobre a arte da pintura é profundo, imenso e, de certo modo, sempre incompleto; a cada vez, para o artista, é um vir a ser. Nela converge a física das cores, a química dos pigmentos, a biologia do olho, a ciência ótica, a psicologia dos personagens e das cenas, a anatomia e o comportamento corporal dos seres, a sociologia e a antropologia sobre o conhecimento do social e do ser humano, a história e a revelação do percurso das civilizações, entre outras coisas. E nela incidem as especificidades humanas da qualidade do desenho, a sensibilidade sobre o comportamento dos pigmentos, a percepção das proximidades cromáticas, o senso de composição das formas no espaço.

E na criação pictórica e na pintura resultante incide e preside o imponderável, alguma coisa, um elemento oculto, que transforma uma percepção do mundo em originalidade. E torna elementos tão materiais como pigmento, telas, aglutinantes, secantes, madeiras, em significação. É o que diferencia um artista de outro artista.

Contemplar as centenas de estudos gráficos que Leonardo da Vinci fez de animais, seres humanos e objetos, dá uma ideia do seu esforço, habilidade e persistência. Mas não é suficiente para explicar o encantamento de sua “Dama com arminho”, de 1490, o retrato de Cecilia Gallerani, encomenda de Ludovico Sforza. É um suporte de 54,8 x 40,3 cm, um espaço reduzido e, neste espaço quase mínimo, está a história psíquica de sua época, os sinais que identificam o estágio de desenvolvimento artístico, intelectual e moral desde a Renascença até os nossos dias. E esta sutilíssima “Dama com arminho”, pintada com óleo sobre madeira, tem uma característica que deve ser irritante para os idólatras da tecnologia de comunicação e para os crentes na aplicação mecânica do darwinismo na arte e na cultura, a “Dama…” é permanente, é para sempre, está lá como ícone da humanidade, como marco sublime do ser humano, como inspiração para os que pretendem alcançar um nível superior, para os que desejam a transcendência, para os que acreditam na beleza. Ela é eterna. Ela existe e nos indica a altura que um ser pode alcançar. Enfim, ela nos diz onde esta a grandeza,

É certamente possível elencar outras determinantes e componentes, e outros exemplos estéticos da qualidade possível da forma artística, mas o que foi citado já é suficiente para dimensionar o quanto a pintura e as artes plásticas são um reino do saber.

Este é o contexto psicológico, pictórico e artístico de Yugo Mabe É neste campo que ele está situado, onde trabalha, onde pensa e no qual tem as referências culturais, humanas e históricas.

Um dado a ser observado na pintura de Yugo Mabe é a capacidade do artista de estar em si mesmo, a manifesta visualidade expressiva do tema escolhido. Em nenhum momento a sua pintura mistifica a sua proposta. Ela é límpida, clara e objetiva, no sentido de que se completa na sua intenção e não promete ilusões visuais ou constrói falsas narrativas. E não procura elementos fora da pintura para justificar a pintura. Ela não se compraz em parecer o que não é. É a sua claridade. E a sua coerência. Ela opta por buscar a luminosidade e a carnalidade do mundo e não se afasta disto em nenhum momento e nem tenta parecer que faz uma reflexão sobre a própria pintura. Esta é a sua objetividade. A pintura de Yugo Mabe não discursa sobre a natureza da pintura, mas organiza a semântica do entendimento da percepção da luz do mundo. É uma pintura de glorificação do entendimento.

A luz e os cenários do mundo são o tema e o assunto de Yugo Mabe.

Para Yugo Mabe pintar os cenários do mundo, captar a luz que incide e revela os objetos, é tornar o mundo humano, pois registrado e demonstrado pela linguagem. O vazio torna-se forma devido à articulação da linguagem. Um retrato. O mundo é a representação humana do mundo. O silêncio não está substituído pela balburdia, mas é o que é subjacente à forma. Desta maneira, o universo incompreensível, o vazio despido de linguagem, ganha significação através da criação que estabelece para a relação entre o homem e o mundo, não a compreensão, pois isto seria pretensão exagerada, mas o reconhecimento através da linguagem. O universo e entorno não se torna compreensível e lógico, permanece uma equação da qual não conhecemos o significado dos termos, mas se torna reconhecível. Pintar para Yugo Mabe é tornar o universo reconhecível.

A paisagem, a cidade, o corpo humano, torna o mundo reconhecível.

“… Creio no corpo feminino
nas formas nuas
que me salvam
Do silêncio”
Marco Lucchesi (Meridiano celeste & Bestiário)

 

“… Em sonhos
Nos toca
O corpo,
Em pensamentos
constrói
Um milagre,
Na imaginação
Aflige-se
Até tornar-se
humano …”
“…sim, sim
é isso que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar
ao corpo
em que nasci.”
Allen Ginsberg (“Canção”, tradução de Claudio Willer)

 

Este apelo em favor da fixação do mundo, em torná-lo corpo e ser este corpo a representação da própria figura humana, é a recusa da generalidade, de uma espécie de percepção neutra do cosmo, O que representa este apelo, esta fixação no mundo, este querer ser terra e a sua própria terra e não a terra distante? Significa a nostalgia, o desejo de singularidade, de existência coletiva e individual, de estabelecer o espaço e o tempo do humano. A singularidade versus a hegemonia e a homogeneização. O corpo como linguagem. O corpo versus o silêncio absoluto do universo. A não resposta do universo. O retorno ao corpo em que nasci como uma afirmação do princípio. À volta a casa.

A vida intima do pintor Yugo Mabe: ele olha e sente os objetos, as pessoas, a paisagem por onde caminha, a contemplação do bosque, o casario entre duas colinas, a luz que incide na copa da árvore, o raio solar que incide no estrito ramo de flores que descansará no estreito vaso, o sólido corpo feminino que nu insinua a terra fértil e tudo isto, este encontro permanente com o existente e que é também a sua conformação interior do entendimento que poderá se cristalizar em visualidades. Tudo tem a força do sentimento e a certeza de que isto é a sua própria existência, este mutável caleidoscópio que cintila nos seus olhos, que brilha além e aquém do seu olhar e que preenche o seu movimento como uma nuvem que o envolve inteiramente e esta disposição de para sempre ser prisioneiro e amante do que entra por seus olhos. Modo de ser.

A arte de pintar em Yugo Mabe é a arte de ver. O marcante é que nele este credo de sua vida é exercido com absoluta tranquilidade. Sempre se trata disto, da capacidade de ver. É possível, como querem relatos de iluminados, de santos, de  várias escrituras sagradas, que o nosso mundo, aquele que nós vemos, o que nos vivenciamos, seja um mundo de ilusão. É a aparência de alguma coisa. Talvez exista esta diferença entre a essência e a aparência, entre o real e a ilusória aparência do real. O pintor, como Yugo Mabe, é aquele que vê alguma coisa e dá corporeidade ao que vê. Ele torna o que vê não em carne e sangue, mas em signo e símbolo. Olhamos e, muitas vezes, vemos apenas o signo. Olhamos mais, e vemos no lugar dos signos, símbolos. É esta a relação, ele vê o mundo, nós vemos a pintura. A pintura não é um simulacro do mundo, mas um entendimento do mundo. Claro, um entendimento parcial, já que tudo é parcial e nos é vedada a visão do todo, do absoluto. Exatamente pela nossa perecibilidade nós vemos parte do mundo. E a nossa trilha, o nosso percurso até o ver, até a visão, é uma formidável aventura. É a emocionante viagem do pesquisador. O explorador de infinitos. Talvez, ao final, esta seja a vitória, enxergar como os anjos.

Yugo Mabe não pede desculpas por preferir a beleza, a imagem clássica, o modelo ancestral, o sublime, a percepção do gozo supremo.

Nem o preocupa que a sua pintura tenha um tema e, às vezes, um assunto tão forte que pode ser confundido com o tema. O assunto na arte: ora, sempre a pintura fala de outra coisa.

A respiração da vida. O sentimento. Sempre é o que está ali, e sempre é outra coisa.

 

DA ARTE PURA

“Dizem eles, os pintores, que o assunto não passa de uma falta de assunto: tudo é apenas um jogo de cores e volumes. Mas eu, humanamente, continuo desconfiando que deve haver alguma diferença entre uma mulher nua e uma abóbora.” Mario Quintana (Caderno H)

A pintura de Yugo Mabe declara a sua proximidade com a permanente inquirição sobre o real. O peso do amor às coisas, ao jardim, aos objetos, ao corpo feminino, ao odor da floresta, ao movimento do mar, ao céu azul, à chuva, ao céu, ao movimento dos corpos. O homem avança e evolui, mas sente esta ligação acendrada e visceral com o mundo que o cerca e com ele próprio como ser no mundo.

Aubade
Nem mesmo céu.
Mas memória do céu,
e do azul do planeta
em teus pulmões.
Paul Auster

 

Aubade
Not even the sky.
But a memory of sky.
and the blue of the earth
in your lungs.
Paul Auster

 

Sempre teremos pintores que registram a terra. É uma forte ligação com o existente, melhor, com a descoberta do existente, melhor ainda, com a intuição do existente, com uma fresta de luz que revela uma face pálida do existente, uma tênue face da realidade. Talvez um lívido vestígio do rosto de Deus. Fulguração e um momento em que não se desvenda o mundo, mas se identifica o mundo.

Por que meu coração
Ainda abriga
Esta paixão por flores de cerejeira –
Eu que pensava
Tivesse tudo isto deixado para trás
Saigyõ . “Poemas da cabana montanhesa”.Séc. XII (1.118-1.190). Tradução Nissim Cohen. Editora Hedra.

 

O enigma da arte consiste em que nenhum entendimento é definitivo e, no entanto, o entendimento é sempre absoluto.

 

RITOS DE PASSAGEM

Introspectivo. Severo. Auto exigente. Visual, bebe o mundo com os olhos. Suave. Delicado. Convicto na defesa de suas ideias.

Reverente, tem os mestres como referência e paradigma, especialmente o pai, Manabu Mabe e o “tio”, Aldemir Martins.

Tem um código de conduta ético em relação à pintura, procedimentos, a busca da beleza, a procura da harmonia, a preocupação com a perenidade física do trabalho, o devido  cuidado preparativo, a restauração, ao armazenamento.

“Pensam, as pessoas me falam, que a minha cor vem do meu pai, Manabu Mabe. Mas vem de Aldemir Martins. Fiquei um mês com Aldemir no Ceará. E foi uma experiência maravilhosa. Tudo era diferente. Eu nunca havia visto um lugar tão luminoso. As cores eram fortes, como tudo o mais. Quando voltei para São Paulo eu não era mais o mesmo. A cor do nordeste, a cor do Ceará, já fazia parte de mim. É esta luminosidade que me acompanha.”

Na galeria Realidade, da marchande Nilda Araripe, Rio de Janeiro.

Manabu Mabe nega a autoria de uma obra.

“Olha o chassis, olha a pintura, é tudo bonito demais. Não é meu. A obra deve ser como a vida, como o ser humano, imperfeita”.

“Aproveitei uma viagem ao Japão, com meu pai, para conversarmos. Foram 30 horas dentro do avião. Já tinha me formado na faculdade de comunicação. Contei que desejava ser artista, ser pintor. Meu pai me advertiu das dificuldades da carreira, das incertezas do mercado de arte, Da intermitência das vendas, da falta de segurança para uma família. Enquanto isto, em comparação, a vida na iniciativa privada tinha o salário certo todos os meses, a segurança da previsão. Depois desta aula sobre a vida do artista, eu reafirmei o meu desejo de ser artista, mesmo com todas estas dificuldades”.

“Então o meu pai me explicou a responsabilidade do artista e a responsabilidade com os colecionadores e os investidores. E me disse que sempre percebeu que eu era um artista, ao contrário dos meus dois irmãos que não tinham esta vocação. E a responsabilidade está condicionada à qualidade. É possível fazer pinturas comerciais, mas a que é realmente boa, esta dura para sempre. O colecionador pode vê-la durantes anos e sempre terá uma relação de sentimento, ela sempre dirá alguma coisa. E quando ela não for vendida, quando ficar no ateliê, um dia ela encontrará o seu público, um dia ela encontrará a pessoa certa.”

A herança de uma época, de um tipo de arte, de um tipo de artista. Texto de Aldemir Martins. 1992. Bahiarte. Londrina. Paraná.

Aldemir faz questão de demonstrar e mostrar a filiação, a ligação, o “enraizamento” e termina afirmando que o Yugo é seu sobrinho. Ele sempre se dizia irmão do Mabe.

O olhar para o exterior. O olhar para dentro. Exterior, interior. Uma característica, segundo o autor, do nissei, metade brasileiro, metade japonês.

Jayme Mauricio. Galeria Realidade. 1988.

“Uma vez, eu ainda era muito jovem, fiz uma pintura que me agradou muito. Levei para o meu pai ver. Ele a observou cuidadosamente e me disse:

“… é tão bonito que nem sei para onde olhar”.

“Pensei muito neste enigma e retornei ao meu pai e ele me disse que a pintura é como a vida, não é perfeita, que não é totalmente limpa, que em cada uma tem que haver um coração.”

Reunimos para discutir as oficinas que o Yugo daria. Foi explicado o tempo do público alvo, a preparação minuciosa das classes de alunos com deficiência intelectual e foi apresentada uma lista de locais de associações dedicadas a eles, inclusive algumas que estariam próximas de seu ateliê. Ele me surpreendeu com a sua disponibilidade em ajudar, em fazer este trabalho tão meritório, de ajudar na inclusão destes jovens. Yugo nos disse: “Pode ser em qualquer lugar, pode ser nos locais em que ninguém foi até agora, nos locais mais difíceis.”

Disponibilidade total, bondade aflorada, tão espontânea, despojada, sem exigir nada em troca, inclusive admiração.