MAR-POESIA DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN:
POÉTICA DO ESPAÇO E DA VIAGEM - II
HELENA CONCEIÇÃO LANGROUVA


2. CATÁBASE MARINHA DO SUJEITO LÍRICO

2.1. A rara presença do naufrágio e o imaginário clássico

Uma das primeiras imagens do fundo do mar que aparecem na obra de Sophia de Mello Breyner é a do poema Navio Naufragado, no livro Dia do Mar, poema incluído na antologia Mar- Poesia. Foi dos primeiros poemas que apenas ouvi gravado em disco, pela própria poetisa. Em toda esta antologia, apenas três poemas breves sobre naufrágios: Navio Naufragado, Navegações III ( naufrágios nas tempestades- “outros se perderam no repentino azul dos temporais”)(p.58); Navegações IV (naufrágio de Bartolomeu Dias sintetizado em dois versos – “Ele porém dobrou o cabo e não achou a Índia/ E o mar o devorou com o instinto de destino que há no mar”-) (p.59). A poesia de Sophia não valoriza nem desenvolve o naufrágio nem o negativo do mar e das viagens marítimas.

O poema Navio Naufragado exprime o post-naufrágio, no fundo do mar, numa visão experimentada da vida e da morte, em que o negativo é acompanhado de positivo. Apesar de o capitão do navio ser “um esqueleto branco”, a mão está visualisada em duas conchas, as veias como algas e o coração como uma medusa, o monstro inevitável, detonador da consciência do sujeito lírico sobre o que é inevitável, potencialmente terrível, escolhido com regularidade e quase diríamos com naturalidade no imaginário clássico do mar, na poesia se Sophia de Mello Breyner. O que acresce a positividade do espaço do fundo do mar que rodeia o navio naufragado são as formas “incertas, quase ausentes” das grutas “de mil cores”, a cor das flores, a transparência das águas e dos animais. A gruta como local de passagem difícil não existe, porque o próprio desenho das grutas se esbate e não há sombra. Tudo está impregnado pela apoteose das “mil cores”, combinada com a transparência da água e dos animais.

Esse mesmo espaço do fundo do mar é atravessado pelas “sereias”,monstros cantantes, metade mulher e metade ave que habitavam numa ilha, perto de Cila e Caríbdes e posteriormente terão percorrido o Mediterrâneo, segundo o imaginário clássico. Neste poema de Sophia, as sereias fazem tremer os corpos dos presumíveis náufragos, espalhados sobre as areias do fundo do mar, retomando ainda o imaginário clássico segundo o qual as sereias poderiam ter uma origem terrestre, acompanhavam e carpiam as sombras dos mortos, no Hades, ou teriam a sua origem na sombra dos mortos. No poema de Sophia, conjuga-se o medo do post mortem, na metáfora de “tremem”, com o acompanhamento, de passagem, no post mortem,no mundo a um tempo da superfície aquática – as sereias passam à superfície e podem hiperbolicamente fazer tremer os corpos no fundo do mar – e subaquático, por aproximação semântica do mundo subterrâneo, numa expressão que converte o medo e a morte em beleza, enigma e vazio, na metáfora da leveza das sereias, na cor roxa dos seus cabelos, e sobretudo na vacuidade do seu olhar hiperbolizado na enigmática comparação com os olhos dos videntes, que vêm o que ninguém vê, neste caso, para além da morte, retomando implicitamente a metáfora do vidente do post mortem que, no contexto da cultura grega, se identifica com Tirésias. Para além da beleza subaquática, presente neste poema, permanece o enigma: que futuro para os naúfragos, para além da morte?:

E os corpos espalhados nas areias
Tremem à passagem das sereias,
As sereias leves de cabelos roxos
Que têm olhos vagos e ausentes
E verdes como os olhos dos videntes.
Navio Naufragado, p. 18

É clara a funcionalidade estética e retórica das sereias, num espaço poético que combina a sombra do naufrágio com a própria luminosidade e transparência do fundo mar. Essa mesma luminosidade e a cor do mundo subaquático, a um tempo real – “anémonas e corais”- e imaginário – “medusas”- do fundo do mar é não só objecto do desejo do olhar do sujeito lírico, no momento em que nasce ou emerge do mar, como vimos acima, em particular no brevíssimo poema Mostrai-me as anémonas (p. 21); mas também o espaço metafórico da viagem de catábase ao fundo do próprio sujeito lírico, assumida de um modo raro na nossa literatura.

2.2. Nascimento e renovação

Na antologia Mar-Poesia figuram poemas dos mais significativos da catábase marinha do sujeito lírico. O mar é espaço de nascimento, de renovação e de descida às profundezas – o fundo do mar é o fundo mais fundo que o próprio pensamento do sujeito lírico (16) que, por desejo, se põe à prova desde o momento do seu nascimento e ao longo da travessia da sua vida, nos poemas Mostrai-me as anémonas (p. 21), Gruta do Leão (p. 36), no texto poético As Grutas (p.p. 38-39) e no poema Minotauro (p.p.52-54), com os quais caminharemos ao longo do presente capítulo,desde:

Mostrai-me as anémonas, as medusas e os corais
Do fundo do mar.
Eu nasci há um instante.
p.21

É clara a opção poética e vivencial de enfrentar desde a primeira hora o que é profundo, metaforizado no elemento marinho. Constitui também uma idiossincrasia poética da obra de Sophia de Mello Breyner, tomando como eixos possíveis de leitura da sua obra o verso nunca se distingue bem o vivido do não-vivido e a “Balança misteriosa” do equilíbrio do homem com “as coisas”.


2.3. Modulações do labirinto

2.3.1. A travessia do labirinto subaquático

A escolha da gruta era inevitável para o percurso do espaço subaquático, assumido não como horror, impedimento ou provação num local de passagem, mas como um encontro progressivo com o fascínio da reentrância submarina e do progressivo espanto subaquático luminoso e transparente, até à gruta mais recôndita e escura mas não terrífica do interior do mar. A medusa, como temos vindo a comentar, pertence ao imaginário clássico do mar, o monstro como a inevitabilidade do desconhecido, do inesperado, como desafio das forças anímicas do sujeito lírico. O adjectivo “rouco”, relacionado com o som cavo, repete-se nestes poemas, assim como a cor “roxa”, o escuro e colorido da gruta, a sua essência de “puro interior”, a presença simultânea da sombra e da luz -“e brilho”-, enfim uma acumulação de metáforas do mais recôndito da alma do sujeito lírico:


Para além da terra pobre e desflorida
Mostra-me o mar a gruta roxa e rouca
Feita de puro interior
E povoada
De cava ressonância e sombra e brillho
A Gruta do Leão, p. 36


O texto poético As Grutas (pp.38-39) é uma síntese perfeita de uma viagem imaginária de catábase, do imaginário clássico, assumida pelo sujeito lírico que, partindo do esplendor da superfície aquática, se deixa diluir nas águas, como se aceitasse a sua própria metamorfose em água, ou em olhar da própria água, depois de ter deixado o que, em sua expressão, considera perfeito, como perfeita é a metáfora do equilíbrio do homem com “as coisas” – “ A Balança onde o equilíbrio do homem com as coisas é medido”(p. 38). O olhar do sujeito diluído na água é corroborado pela metáfora do mergulho – “Mas logo as águas verdes em sua transparência me diluem e eu mergulho tocando o silêncio azul e rápido dos peixes” (ibidem).

No início e no fim desta sua travessia subaquática, há, neste mesmo texto, uma correspondência semântica entre o “encostar da cara na superfície das águas claras como um chão”, a seguir à diluição e ao mergulho (p. 38), e, após o seu regresso à superfície, o desejo de “chorar de gratidão com a cara encostada contra as pedras” (fim do texto, p. 39). É raro que o nobre sentimento da gratidão termine de maneira tão clara um texto poético. Na lógica interna deste texto, trata-se da gratidão pela positividade e a beleza da viagem do olhar catabático do sujeito lírico no interior do mar e suas metáforas, a gratidão pelo esplendor do mundo no cimo das águas, pela luz da “balança”, metáfora da relação perfeita do homem com “as coisas”.

As próprias imagens atravessam o olhar do sujeito lírico e ultrapassam-no (2º§, 1-2,p.38). Daí a ideia da metamorfose transitória e positiva do sujeito lírico em água, não perdendo a memória -ao contrário de Glauco que perdeu a memória ao fundir-se com as águas, nas Metamorfoses de Ovídio (17)-, mantendo a consciência dessa conversão como num “sonho” do inconsciente – “talvez eu vá ficando igual à almadilha da qual os pescadores dizem ser apenas água”(ibidem)- sabendo que é apenas transitória, pois voltará à superfície das águas com a sua identidade intacta. Permanece, todavia, o mistério e a interrogação sobre o espanto do real – “estarão as coisas deslumbradas de ser elas?” (3º §, p.38) - e a dúvida se a vinda do sujeito lírico foi voluntária ou provocada – “Quem me trouxe finalmente a este lugar? (3º§, p. 38))-. Em simultâneo, no mesmo parágrafo, no plano subaquático, o som do mar no interior da gruta, o brilho das concavidades – “ressoa a vaga no interior da gruta rouca e a maré retirando deixou redondo e doirado o quarto de areia e pedra”-, enquanto o sujeito lírico mantém a vigília e a atenção consciente, da superfície- no “centro da manhã, no centro do círculo do ar e do mar, no alto do penedo, no alto da coluna”-, numa correspondência perfeita em altura do eixo do labirinto aquático. É na cúpula desse eixo que “está poisada a rola branca do mar”, uma rara metáfora para a paz e serenidade do mar da superfície, numa expressão leve e meditativa - “está poisada”-, situada a um tempo numa cúpula envolvente de um eixo e “ no centro do círculo do ar e do mar”(2º§, p. 38).

Na acumulação de metáforas em alegoria, poderíamos dizer que esta alegoria do olhar simultâneo para o superfície e o fundo do mar, por parte do sujeito lírico, é aproximável da alegoria do peixe “quatro-olhos” que olha “direitamente para baixo de água e direitamente para o cimo da água” de Padre António Vieira, no Sermão de Santo António aos Peixes (18) ,desprovida da funcionalidade parenética de Vieira, valorizada na poética do espaço assumida pelo sujeito lírico.

A segunda parte deste notável texto As Grutas, desenvolve, no plano dos olhos, a experiência de atravessar o medo de enfrentar a beleza em profundidade, o desconhecido, o mais íntimo de si própria, mais íntimo que o seu pensamento, identificado com a metáfora do fundo do mar :

Eis o mar e a luz vistos por dentro. Terror de penetração na habitação secreta da beleza, terror de ver o que nem em sonhos eu ousara ver, terror de olhar de frente as imagens mais interiores a mim do que o meu próprio pensamento.

As Grutas, pp.38-39

Para além dos olhos, a metáfora prolonga-se por todo o corpo do sujeito lírico a percorrer o espaço do labirinto aquático em que o medo a vencer é o medo do monstro conotado com o desconhecido exterior e interior. Trata-se da metáfora do labirinto aquático, assumida com a quase naturalidade da linguagem poética depurada, a visão das colunas que equilibram a sombra e a luz, as quais, como a Balança, mantêm o equilíbrio do céu e da terra, sendo o mar o gerador do equilíbrio cósmico. Uma vez vencido o medo, a travessia do mundo subaquático é possível como um espectáculo de arquitectura perfeita e geométrica - “ a arquitectura do labirinto”-, incluindo a metáfora dos palácios subaquáticos luminosos- “palácios do rei do mar escorrem luz e água”-, aproximável da apoteose luminosa e aquática do palácio de Neptuno, em Os Lusíadas (19):

Atravesso gargantas de pedra e a arquitectura do labirinto paira roída sobre o verde. Colunas de sombra e luz suportam céu e terra. As anémonas rodeiam a grande sala de água onde os meus dedos tocam a areia rosada do fundo. E abro bem os olhos no silêncio líquido e verde onde rápidos, rápidos fogem de mim os peixes. Arcos e rosáceas suportam e desenham a claridade dos espaços matutinos. Os palácios do rei do mar escorrem luz e água. Esta manhã e igual ao princípio do mundo e aqui eu venho ver o que jamais se viu.

As Grutas,1º §, p. 39

Ao invés do sombrio labirinto de Creta,é a beleza de origem do mundo e o espanto do nunca visto que se enraíza nesta visão poética da “arquitectura do labirinto” do fundo do mar, filtrada pelo olhar do sujeito lírico que se torna “liso como um vidro” (2º§, p. 39) como a própria “linha das águas” (4º §, p. 39).

A expressão “sirvo para que as coisas se vejam” é detonadora da funcionalidade do sujeito lírico como filtro da visão do mundo, o que é raro como expressão poética e enriquece o universo de funcionalidade e organização da palavra poética de Sophia.

Na parte final do texto, o olhar e o corpo do sujeito lírico atinge a “gruta mais interior e mais cavada” onde a sombra e a cor azul se adensam. O amor secreto e profundo é desejado neste espaço de “círculo de espanto e de medusas”, metáfora que aglutina a perfeição geométrica e globalizante do círculo, da beleza poética – “espanto”- e a consciência da inevitabilidade do monstro, como metáfora do medo, do desconhecido, do inesperado a vencer – “medusas”- onde se adensa também a inesperada luz hiperbolizada na expressão “sol fosforescente” dos abismos:

Eu quereria poisar como uma rosa sobre o mar o meu amor neste silêncio. Quereria que o contivesse para sempre o círculo de espanto e de medusas. Aqui um líquido sol fosforescente e verde irrompe dos abismos e surge em suas portas.

As Grutas, 3º§, p. 39

A este universo luminoso dos abismos labirínticos subaquáticos corresponde a luz que “rodeia a Balança” no “mar exterior”, construindo um eixo perfeito e geométrico da metáfora do labirinto como arquitectura do mundo, conciliando catábase que é a própria entrada no labirinto e anábase, a subida realizada com êxito por Dédalo , com as asas que conseguiu fabricar, para dele se libertar, depois de nele ter sido aprisionado pelo rei Minos, por ter facilitado Pasifaé, sua esposa, nos seus amores degradados por um touro. No texto Grutas de Sophia, o eixo catabático e anabático da metáfora do labirinto é perfeito e o fio de Ariana ou Ariadne que libertou Teseu do labirinto é transposto para a metáfora do “fio de linho da palavra”, o qual, vencido o medo, atravessa de luz as grutas e abismos do fundo da alma do sujeito lírico, sem esquecer a sombra da gruta mais interior, reservada ao mais fundo.


2.3.2. A travessia da vaga e o desafio do Minotauro

Uma das modulações da geometria da poesia de Sophia é a perfeição da arquitectura do labirinto, com o fio da palavra, ou o “fio de linho da palavra”, expressão que fecha o poema O Minotauro (pp. 52-54) que, em nosso entender, constitui um dos fulcros da poesia de Sophia de Mello Breyner, pela sua arquitectura e autenticidade da vivência do sujeito lírico. O espaço percorrido pelo sujeito lírico, no poema O Minotauro não é apenas metafórico como o mar dos poemas A Gruta do Leão e As Grutas, mas é também o espaço do mar Mediterrânico que rodeia a ilha de Creta, o mar que o sujeito lírico vai ver “por dentro”, na sua viagem catabática ao labirinto subaquático, enquanto, na superfície de Creta, está o antiquíssimo labirinto, um palácio imenso, arquitectado por Dédalo, por ordem do rei Minos, para nele aprisionar o Minotauro, monstro com corpo de homem e cabeça de touro, filho de Pasifaé e de um touro. No poema de Sophia, o Minotauro é transposto do labirinto de Creta para a superfície do mar, ao longo do poema - “onde o Minotauro reina” (v.2, p.32; penúltimo v., p. 53),“onde o sombrio Minotauro navega” (v. 5, p.53).

O sujeito lírico também percorre o espaço telúrico dos palácios, do “palácio dual de combate e confronto”, este último, como metáfora possível do próprio labirinto de Creta onde o Minotauro estava aprisionado e no qual foi enfrentado por Teseu que o matou . Teseu conseguiu sair do labirinto com um fio de um novelo que Ariana ou Ariadne, filha do rei Minos lhe dera. No poema de Sophia, o espaço do combate ao medo e ao monstro como detonador do medo é convertido em beleza luminosa das flores e da luz da manhã, pois o monstro, “na palácio dual de combate e confronto” converte-se ou sofre a metamorfose poética em “Príncipe dos Lírios” - “ onde o Príncipe dos Lírios ergue os seus gestos matinais” (2ª estr., último verso, p. 53).

O sujeito lírico, no poema O Minotauro, percorre ainda brevemente o espaço das planícies e da “cidade minóica”, concluindo a sua viagem com a sua travessia da vaga, em simetria com o seu banho inicial de abertura do poema (v.3, p.52).

Neste poema, a sombra e a escuridão paira apenas no Minotauro como monstro- “o sombrio Minotauro navega” ( 1ª estr., p.53) - e no interior dos palácios “roucos” como as grutas, palácios cuja sombra é imanente à luz:

E caminhei no interior dos palácios veementes e vermelhos
Palácios sucessivos e roucos
Onde se ergue o respirar de sussurrada treva
E nos fitam pupilas semi-azuis de penumbra e terror
Imanentes ao dia
O Minotauro, 2ª estr.,p. 53

O banho inicial – “Banhei-me no mar”,v. 3,p. 52) e a travessia final da vaga – “atravessei a vaga” (fim da p. 53), o ritual de beijar o chão “como Ulisses” (p.52) é como que uma preparação e o fecho da dança do sujeito lírico no interior do mar, a dança da sua catábase marinha, como metáfora do que desde o início, na introdução do presente trabalho, designámos como dança interior e que, na expressão de Sophia que poderia ser também nossa é 𠇊 dança do ser “, o fulcro dos fulcros deste poema e de toda a poesia de Sophia de Mello Breyner.

São claras as etapas do sujeito lírico destruído como “cidade em ruína/ que ninguém construiu”, no risco de caminhar para o vazio, consciente de que mantém uma força interior, uma qeia moira ,enqousiasmos, ou furor, “fúria” de energia interior para com ela penetrar no interior do mar, para enfrentar e reconhecer os abismos, o fundo do mar, a cor azul e a alegria da origem do mundo no interior do mar, mesmo navegado à superfície pelo “sombrio Minotauro”. O sujeito lírico reitera ao longo do poema a sua identidade e atitude de quem caminha “de olhos abertos”, “inteiramente acordada”, sem droga, mantendo a sua lucidez:

Nenhuma droga me embriagou me escondeu me protegeu
Só bebi retzina tendo derramado na terra a parte que pertence aos deuses
(pp. 52 e 53)

... sem drogas e sem filtro (p. 54)

Apenas bebeu retzina, um vinho grego cujo sabor é “misto de vinho e de resina, que parecia inventado pelo próprio Dionysos”, como Byron explica na parte final da peça de teatro de Sophia O Colar (p.74). A resina e o sabor a resina coincide com a metáfora de um ritual pagão da bebida de resina, da seiva da vida, para a imortalidade, como aspiração legítima de todo o ser humano; por isso, o sujeito lírico diz ter derramado na terra

na terra a parte de retzina que pertence aos deuses, como gesto remanescente do ritual inevitável de imortalidade que pertence aos deuses. Também não recorreu a comple xos rituais de magia, tendo apenas recorrido ao adorno do seu corpo com

flores e a mastigar “o amargo vivo das ervas”:
Enfeitei-me de flores e mastiguei o amargo vivo das ervas (p. 52)

O sujeito lírico ultrapassa a repetição do ritual do banho, das flores e das ervas, respeitando rituais de ancestralidade ligados a Creta, reiterando o seu respeito pela ancestralidade ao longo de toda a sua obra, para recorrer sobretudo à sua “fúria” interior:

Devastada era eu própria como cidade em ruína
Que ninguém reconstruiu
Mas no sol dos meus pátios vazios
A fúria reina intacta
E penetra comigo no interior do mar
Porque pertenço à raça daqueles que mergulham de olhos abertos
E reconhecem o abismo pedra a pedra anémona a anémona flor a flor
E o mar de Creta por dentro é todo azul
Oferenda incrível de primordial alegria
Onde o sombrio Minotauro navega
O Minotauro, pp. 52-53

Trata-se de uma vivência profunda de recorrer à energia de vida interior que acaba por enfrentar o fundo de si própria que é belo e luminoso, mesmo que à superfície paire a sombra do monstro, como metáfora do desconhecido, do diferente, do inesperado, do medo, que não pode alterar a cor, a alegria, a positividade das profundezas do mar – sujeito lírico. É a experiência do desafio das suas próprias forças, filtradas pela vigília, a lucidez, a coragem de enfrentar o que é profundo. A catábase marinha é corroborada pela procura de si próprio, com a consciência de que quem se procura terá momentos de perdição e de desunião interiores para depois reatar e reunir as suas forças interiores. Esta experiência e vivência é a “dança do ser” que atravessa toda a poesia de Sophia. O companheiro desta “dança do ser” do sujeito lírico na vaga do mar , de todos os que mantêm essa procura de si próprio, é Dioniso, metáfora da força da vida, sem drogas nem filtros, “só vinho bebido em frente da solenidade das coisas”(p. 54), no caminho do sujeito lírico na travessia da vaga da vida que se integra na abrangente e ritmada “dança do ser”:

O Dionysos que dança comigo na vaga não se vende em nenhum
mercado negro
Mas cresce como flor daqueles cujo ser
Sem cessar se busca e se perde se desune e se reúne
E esta é a dança do ser
O Minotauro, p. 53

O poema O Minotauro, apesar de se desenvolver no espaço que rodeia e na própria ilha de Creta, não incide sobre o próprio labirinto de Creta e a metáfora do Minotauro aprisionado nesse mesmo labirinto, mas transfere-o para a metáfora do labirinto subaquático e a catábase marinha do sujeito lírico, a viagem às profundezas do sujeito lírico,,,para enfrentar não o monstro profundo, mas a cor azul, a luminosidade e a positividade das suas profundezas,que de modo algum serão afectadas pelo monstro que não está aprisionado mas navega e paira sobre o mar, ou seja, sobre a vida, nas suas multímodas conotações. O monstro não aprisionado pode significar ainda maior risco na travessia da vida, o que se coaduna com a intrepidez do itinerário global do sujeito lírico, na poesia de Sophia, e a consequente valorização da sua constante procura de luz O sujeito lírico percorre esse labirinto aquático, sempre com o fio mágico não de Ariana, mas da palavra:

Porque pertenço à raça daqueles que percorrem o labirinto
Sem jamais perderem o fio de linho da palavra
O Minotauro, p. 54

3.TOPOLOGIA INSULAR, NOSTALGIA DA EPOPEIA E POÉTICA DA VIAGEM

3.1. Prolegómenos da topologia insular

É vasta a topologia insular na poesia de Sophia de Mello Breyner. Para o presente trabalho, cingimo-nos ao espaço insular seleccionado em Mar-Poesia.

Retomamos o poema Minotauro, para nele discernirmos a topologia da ilha mediterrânica de Creta, como lugar real de existência de um labirinto ao qual se associou desde a Antiguidade o mito do monstro Minotauro nele aprisionado. Vimos como o sujeito lírico transferiu a realidade topológica do labirinto de Creta para a metáfora do labirinto subaquático onde penetra e atravessa com o “fio de linho da palavra”. Vimos também como transferiu a metáfora do monstro aprisionado para a metáfora do monstro em liberdade, a navegar sobre o mar, o que significa um perigo ainda maior para quem atravessa a vida – metáfora “atravessei a vaga”-, pois pode irromper a qualquer momento. No plano poético e da vida, o monstro não paralisa o sujeito lírico, mas segue o seu caminho sem poder interferir no sujeito lírico cuja intrepidez interior neutraliza a força do monstro e atravessa a luz e transparências subaquáticas. Nem sequer as “medusas”, monstros com serpentes sobre a cabeça, os quais povoam o imaginário clássico do mar de Sophia, se encontram no labirinto aquático que o sujeito lírico percorre, no poema Minotauro. A transferência do labirinto e do monstro veio adensar a positividade do mar da ilha, sem esquecer o espaço sombrio dos palácios, na terra de Creta.

A idiossincrasia poética insular de Sophia corrobora e adensa a luminosidade, a amplidão e a liberdade, no poema Minotauro que acabámos de ler e reler, nos poemas Itaca e Hydra do espaço mediterrânico e no poema Açores, no espaço Atlântico, para se desenvolver no livro Navegações - em particular na primeira parte (As Ilhas) e no livro Ilhas, em novas dimensões e vivências globalmente libertadoras que convergem, no livro Ilhas, na expressão da alegria de estar vivo e no fulgor da vida, mais liberta da sombra, da nostalgia e da melancolia.

Em todos estes poemas é clara a relação de equilíbrio do sujeito lírico com o real do mar e da ilha, a sedução do próprio real, num movimento de quase crescendo, na antologia Mar-Poesia, a ponto de considerar o real como divino – “onde tudo é divino como convém ao real” (final do poema Hydra, p.51). Na antologia Mar-Poesia é muito subtil a ligação entre o divino, o sagrado, com uma fronteira difícil de definir para o religioso, raro no universo poético de Sophia, muito embora a sua concepção de poesia como moral (20) e “arte de ser” (21), o universo dos Contos Exemplares esteja ligada ao humanismo cristão.

Veremos como se articula a positividade das ilhas mediterrânicas com a ideia de rito de passagem e renovação; com a visão do real como divino, para se caminhar para a presença do divino pagão –dos deuses pagãos- que, segundo o sujeito lírico, não conseguiu apagar a ideia de morte. A funcionalidade da prece cristã e a procura de outro deus contribui para que o homem acredite que pode ultrapassar a sua própria condição mortal. Assim, passaremos de Ítaca, com a esperança do renascer, em uníssono com o renascer de um “tu” que pode ser o próprio sujeito lírico; para Hydra, como espaço de luz, de liberdade e de evocação de Fernando Pessoa, onde o real é “divino”, para articularmos o divino e a prece cristã no poema Senhora da Rocha. Regressaremos ao universo pagão, na visão do espaço como espaço sagrado, no poema Promontório, em gradação crescente até à convicção, por parte do sujeito lírico, de que a terra é sagrada e tem um centro que se situa no oráculo de Delfos, perto do Parnaso e acima do golfo de Corinto, retomando o mito segundo o qual aí se encontrava uma pedra- omfalos- , o umbigo ou centro da terra – “acreditei que o mundo era sagrado e tinha um centro” (Delphica, p. 45)-. O sujeito lírico viaja para Delfos, mas sofre uma decepção, como se decepcionou noutro poema Delphica VII, in Dual, com a presença da serpente- monstro Python que será destruída por Apolo, no mito de Apolo e Python, mas que, no poema Delphica VII, in Dual, reemerge e não há sinais de nenhum deus para a poder vencer.

Neste universo denso de viagens no espaço mediterrânico e grego, na poesia de Sophia, parecia inesperada a decepção no lugar sagrado de Delfos. Veremos como a poética da viagem no espaço mediterrânico se equilibra com a poética da viagem, o entusiasmo e o espanto da navegação no Atlântico e no Índico, nos poemas Açores (p.55) , Navegações III (p.58) ,IV (p.59),VI (p.60),I (p. 61),II (p. 62) , VIII (p. 65), XI (p. 66), XIV (p.67) , XVII (p. 68) e Os Navegadores (p. 69), antecipada pela nostalgia da epopeia presente em poemas dos primeiros livros e escolhidos para a antologia Mar-Poesia – Espero (p.12), Espera (p. 17), Lusitânia (p. 48),Cais (p. 31), Poema inspirado nos painéis de Júlio Resende (p. 30), e Praia (p. 23). Todo este capíulo articula a topologia insular mediterrânica e atlântica com a nostalgia da epopeia e a poética da viagem do sujeito lírico e dos navegadores portugueses do século XV, nas suas rotas e errâncias.

3.2. Ítaca, Hydra e Açores

Começando pela topologia insular mediterrânica, Ítaca tem todas as conotações que convêm ao imaginário clássico da poesia de Sophia de Mello Breyner. É a ilha de origem e do retorno de Ulisses cuja errância, no Mediterrâneo, culmina com o seu regresso a Ítaca. Muito embora Homero não tenha desenvolvido o que se seguiu ao seu retorno, sabemos da relação da epopeia homérica e das viagens no mundo clássico com os ritos de passagem. Ulisses regressa ao fim de vinte anos de errância para voltar a partir para outro ciclo de viagens.

O poema Ítaca sintetiza de maneira ímpar uma expressão contemporânea do renascer do viajante mediterrânico, do sul de Itália - Brindisi-, na sua viagem de barco de Brindisi para Ítaca, como metáfora do renascer cíclico de quem procura sempre regressar às origens e sempre renovar-se. A primeira estrofe concentra-se sobre o (a) viajante que à noite partirá, como promessa de futuro, no plano da viagem e da renovação, do “cais confuso” de Brindisi, metáfora da confusão de palavras, gestos e sons-“palavras passos remos e guindastes”-, para fazer o percurso na proa do barco, sem vento nem brisa, em silêncio, apenas “com o sussurrar do búzio no silêncio” até se sentir perdido(a) na noite. Como a promessa é feita a um “tu “ feminino, na lógica interna do poema, e da obra poética de Sophia, parece tratar-se do próprio sujeito lírico, assumido na sua feminidade, que a si próprio(a) promete ou espera a sua renovação sintetizada na metáfora do “segundo nascimento” – “Porque esta é a vigília de um segundo nascimento”. No universo de Sophia, trata-se da aglutinação da sua própria viagem ao espaço do Mediterrâneo que povoa a sua obra, do mito do eterno retorno e do rito de passagem, liberto da fatalidade do tempo cíclico, apenas aberto à renovação, sem expressão de ritual puro, mas de uma via que poderíamos chamar natural, no espaço geográfico de origem do mundo helénico antigo, assumido ao longo de toda a sua obra poética.

Na segunda e última parte do poema Ítaca, é clara e possível, embora enigmática, a fusão do sujeito lírico feminino com a própria ilha de Ítaca, no seu “acordar”, no seu movimento de emersão do espaço exterior e interior unificado, com o espanto de uma nova juventude, de harmonização do emergir com o subir que se processa na renovação profunda e interior que atinge o segredo – metáfora do selo- e o saber unificador e unificante que permite uma visão clara do mundo, do alto – a sabedoria-, incorporando ainda a comparação desta esperança com a ideia de ressurreição, esta última aproximável de toda a esperança que atravessa a poesia de Sophia e muito em particular no poema Ressurgiremos (22).

Com toda a mestria da acumulação de metáforas neste texto raro de poética da viagem, parece-nos rigoroso afirmar que se trata da renovação como processo da viagem interior do sujeito lírico, sintonizada com a viagem exterior de Brindisi à pátria de Ulisses, o que é inteiramente possível no universo poético de Sophia de Mello Breyner:

O sol rente ao mar te acordará no intenso azul
Subirás devagar como os ressuscitados
Terás recuperado o teu selo, a tua sabedoria inicial
Emergirás confirmada e reunida
Espantada e jovem com as estátuas arcaicas
Com os gestos enrolados ainda nas dobras do teu manto
Ítaca, p. 43

Ainda no espaço mediterrânico, a presença de Ulisses como evocação que se cruza com a evocação de Fernando Pessoa, na viagem do sujeito lírico à ilha de Hydra, no poema Em Hydra, evocando Fernando Pessoa (pp. 49-51), numa aproximação possível das viagens metafóricas de Ulisses e Fernando Pessoa, na “máscara” do “nome” Odysseus-Persona (p.49) , num ambiente em que de novo o real ultrapassa o imaginado- “ o rosto do real – mais preciso e mais novo que o imaginado”(p.49). Começa por evocar a sombra transparente de Fernando Pessoa, sentindo simultaneamente a sua ausência, evocando a sua visualidade – “porque a tua alma foi visual até aos ossos” (p.49) -, o seu percurso de todo o seu espaço interior – “Pois de ilha em ilha todo te percorreste”(p.49) -, a sua atenção “à rápida alegria dos golfinhos”(p.50).

A meio do poema, entrecruza-se a evocação-presença de Odysseus (“ele estava”) “nas ruínas de Epheso”, as suas longas viagens e a sua recusa de imortalidade- na ilha de Ogígia, não explícita no texto- (p.50), para retomar a evocação de Fernando Pessoa, de novo na sua visualidade, claridade (mais do que clareza), na sua identificação com a “disponibilidade transparente e nua” “na manhã de Hydra” (p.50), onde reina a impessoalidade, a liberdade, onde o divino é identificado com o real:

Onde tudo se torna impessoal e livre
Onde tudo é divino como convém ao real
Em Hydra, evocando Fernando Pessoa, p. 50

A evocação de Fernando Pessoa ocorre noutros poemas da obra de Sophia que não desenvolveremos no nosso trabalho, em particular no poema Fernando Pessoa ou Poeta em Lisboa ( 23), no poema Lisboa, de abertura do livro Navegações (24). Na antologia Mar-Poesia, a nitidez, a luz, a amplidão, “a palavra pura” de Fernando Pessoa é também evocada na parte final do poema Açores, a propósito da topologia insular do nascimento da “mãe do poeta Pessoa”- “ na Terceira” (p. 56) - . O poema de Pessoa, na palavra de Sophia, permite que o povo português se reconheça e procure acordar ou renovar-se (amanhecer):

Poema onde está
A palavra extrema
Que une e reconhece –
Pois só no poema

Um povo amanhece
Açores, p. 57

3.3. Topologia do promontório como espaço sagrado

Retomando a expressão do real como “divino” (final do poema Em Hydra, evocando Fernando Pessoa), como um modo de identificar o real com a divindade, na poesia de Sophia, há questões que com essa expressão se relacionam e são complexas, na poesia de Sophia, como a presença e ausência dos deuses, em momentos de luz e de sombra, a procura de “um deus que vença connosco a nossa morte”(Senhora da Rocha, p. 41); a identificacão de um promontório como um espaço sagrado (p.70) ou de um oráculo como um centro do mundo sagrado (Delphica, pp. 45-46).

O poema Senhora da Rocha (pp. 41-42) integra-se na ideia de que os deuses pagãos não venceram a lei da morte para os homens e houve que procurar um deus cristão – “outro deus”- que consiga vencer a morte pela ressureição (implícita, no poema), pedida pelos seres humanos com permanência de oração, para que se possa vencer o tempo pelo sabor (implícito) de eternidade da oração-prece ,sobre a qual a Senhora, - Mãe de Jesus Cristo- inclina o seu rosto, recolhida numa pequena capela, no extremo do promontório, num espaço reservado à oração pelo post mortem, sabendo que o espaço do mar, do vento e da luz é o espaço dos deuses pagãos, o espaço onde a caducidade humana se sujeita ao tempo e à morte, metaforizada na expressão “o instante em que se quebra a aliança do homem com as coisas” (p. 41). Há pois uma distinção entre o espaço da prece da Senhora e o espaço da vida e da morte; entre a prece como um espaço estreito - a “porta estreita”, na expressão dos evangelhos do Novo Testamento -, o espaço da oração cristã, e o espaço do mar, do vento e da luz onde existe a lei da morte e se espraia a metáfora dos deuses pagãos como esplendor e espanto do centro do mar –“nem habitas no centro de exaltação marinha /o antigo círculo dos deuses deslumbrados” . A Senhora está em prece “até ao fim do mundo” (p. 41), “imóvel muda atenta como antena” (p.42) porque sabe que o tempo traz a morte:

O reino dos antigos deuses não resgatou a morte
E buscamos um deus que vença connosco a nossa morte
É por isso que tu estás em prece até ao fim do mundo
Pois sabes que nós caminhamos nos cadafalsos do tempo
Senhora da Rocha, p. 41

Este é o único poema conotado com a religião cristã e com a prece cristã, na antologia Mar-Poesia e muito raro na poesia de Sophia de Mello Breyner, relacionado com a topologia do promontório como lugar de pausa para oração, como acontece com frequência ao longo dos litorais portugueses e mediterrânicos.

3.4. O espaço de Delfos, a nostalgia do divino e do sagrado

Na antologia Mar-Poesia, a topologia do promontório atinge também o estatuto de lugar não do religioso, conotado com uma religião, mas do sagrado como aliança do homem com a luz cósmica sobre o mar:

O mar ergue o seu radioso sorrir de estátua arcaica
Toda a luz se azula.
Reconhecemos nossa inata alegria:
A evidência do lugar sagrado.
Promontório, p. 70

A ideia de espaço sagrado, no sentido que acabamos de definir e de outros implícitos, é ampliado para toda a terra, “todo o mundo”, o qual, segundo um mito ancestral teria um centro ou um umbigo, identificado com a topologia do oráculo de Delfos, como atrás referimos. Sophia dedicou sete poemas a Delfos – Delphica – no livro Dual (25) , dos quais figura nesta antologia o IV. No seu conjunto, diríamos que se trata de uma global decepção, pois a comunicação com o divino, com Apolo como deus da harmonia deixou de ser possível e é a presença dos monstros que vai vencendo – a da serpente Python que vence Apolo (II),ao inverso do mito de Apolo vencedor de Python; a de Antínoos - homónimo do violento chefe dos pretendentes de Penélope, morto por Ulisses -o monstro pesado, feroz, com fronte taurina que traz a sombra ao meio-dia (IV e VI), o qual, na expressão do Antigo Testamento, em particular nos Salmos, seria “o demónio do meio-dia”; de Python que volta a emergir, como metáfora do crescimento do monstruoso –o excessivo, a degradação e anulação do divino-, no mundo actual, invadido pelas máquinas que perturbam a terra onde reina a maior instabilidade, onde nada é construído “em pedra”:

De novo cresce o poder do monstruoso
De novo cresce o poder do “Apodrecido”
De novo o corpo de Python é reunido
Nenhum deus respira no respirar das coisas
As máquinas crescem e Python emerge
Sob o húmido interior da terra movem-se devagar os seus anéis
Ventos da Ásia em sua boca trazem
O estridente clamor da fúria tantra
Tudo vai rolar na violência do instante
Nenhuma coisa é construída em pedra
Delphica VII, in Dual

A profecia deixa de ser sibilina para estabelecer a comunicação com Apolo, no oráculo de Delfos, para se tornar em profecia de infelicidade, num mundo ameaçado pela sua própria ruína. Trata-se de uma inevitável transposição, no universo de consciência, não raro de “consciência múltipla” (p. 45) do sujeito lírico – “ e onde aceitei em meu ser o eco e a dança da consciência múltipla” (Delphica, p. 45). O poema Delphica, inserido nesta antologia (pp. 45-46), é um poema de decepção sobre a ausência do sagrado e o desaparecimento do divino, em oposição à viagem poética do sujeito lírico no espaço do mar, com os “olhos abertos”, sem medo, na sua viagem de catábase marinha, para desde as profundezas, na transparência das águas, tentar “fundar no sal, na pedra e no eixo recto”, metáforas de solidez e equilíbrio, a “construção do possível” (p.45). Foi com essa preparação e esse caminho, “desde a orla do mar” que chegou ao oráculo de Delfos, para apenas encontrar a ruína do palácio, a ocultação das aves reais – as águias -, a língua de Sibila alterada e torcida, sem interpretar a comunicação de nenhum deus, a ausência da água primordial, metáfora da inocência ou da pureza; a única presença visível é a do monstro Antínoos que traz a sombra ao meio-dia, que rouba a luz, metáfora da destruição da luz no mundo actual, por uma força monstruosa que a própria humanidade cria para si própria e que a arruinará:

Porém quando cheguei o palácio jazia disperso e destruído
As águias tinham-se ocultado no lugar da sombra mais antiga
A língua torceu-se na boca de Sibila
A água que primeiro eu escutei já não se ouvia

Só Antínoos mostrou o seu corpo assombrado
Seu nocturno meio-dia
Delphica, p. 46

A topologia de Delfos é atravessada pela nostalgia do divino e do sagrado. Alguns poemas de Mar-Poesia são detonadores de outra nostalgia que é a nostalgia da epopeia, em particular em certa natureza de espera –Espera (p. 17), Espero (p.12), nos poemas Lusitânia (p.32), Cais (p.31), Poema inspirado nos painéis de Júlio de Resende (p.30) e Praia (p.23). Todos estes poemas pertencem aos primeiros livros de Sophia, nas décadas de 50 e 60, numa época em que se aspirava a uma renovação de construção colectiva, por que não a uma epopeia interior, para emergir das Grades.

3.5. A Nostalgia da epopeia

Os poemas Espera e Espero são muito próximos, na solidão da praia, na longa espera – do dia inteiro- do sujeito lírico que aguarda que alguém apareça no nevoeiro, sem evidência de que tenha aparecido, possível metáfora sebastianista, no poema Espera 8 (p. 17); com grande esperança de uma vinda, no poema Espero (p.12):

E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
Espero, p. 12


A consciência de que Portugal vivia de “pouco pão e de luar” (Lusitânia, p. 32), e de que o cais “destruído entre poemas pasma”, metáfora do português que já não partia e passava longo tempo a olhar os cais, é clara e corrobora o “nocturno mar” para onde partem os navios ( Cais, p. 31). O “mar nocturno” é metáfora da não-viagem ou da viagem para a noite, metáfora provável da guerra colonial ou da paralisação da vida e da luz, em Portugal dos anos 60 e de um modo geral, na época contemporânea.

Os painéis de Júlio Resende inspiraram um poema que sintetiza o sonho de partir sem nostalgia, de entrar no mar como “na plenitude do tempo”, “na hora luminosa/ Do Lusíada que parte para o universo puro/ sem nenhum peso morto, sem nenhum obscuro/Prenúncio de traição sob os seus passos”.Os painéis destinavam-se a um monumento que devia ser construído em Sagres, um modo de apagar a nostalgia da epopeia marítima dos portugueses em séculos passados.

O poema Praia acumula metáforas subtis de nostalgia da epopeia que culminam nos dois últimos versos:

E uma antiquíssima nostalgia de ser mastro
Baloiça nos pinheiros.
Praia
, p. 23

Sophia vai recorrer, neste poema, ao ambiente de luz excessiva no ar, na terra e no mar, à acumulação de “deuses fantásticos do mar” que “brilham como peixes” para compensar o vazio da própria nostalgia. O sol acaba por ser excessivo e fulmina os pássaros “selvagens”. Os deuses povoam o mar porque é grande a efabulação sobre a viagem que parou ou se sonha fazer; é forte a “nostalgia de ser mastro”, de navegar; é excessivo o sol da partida fantástica e não real que mata quem quer voar para longe e está habituado à terra – metáfora dos “pássaros

selvagens de repente,/ Atirados contra a luz como pedradas/ Sobem e morrem no céu verticalmente/ E o seu corpo é tomado nos espaços” (p.23). Quem resiste com a solidez das colunas é o próprio mar: “As ondas marram quebrando contra a luz/ A sua fronte ornada de colunas” (p.23). O mar como força da natureza, como energia cósmica que por enquanto resiste, como um toiro; ou como eventual metáfora da energia interior do sujeito lírico ou de cada ser humano.

3.6. Poética do espanto: as navegações intercontinentais

Como já observámos neste trabalho, a topologia insular, na obra de Sophia, para além da sua complexidade, caminha para conotações cada vez mais positivas, deixando diluir, ao longo do itinerário do sujeito lírico, a tristeza, a melancolia, para, em particular no livro Ilhas, dar lugar a uma outra expressão da alegria de estar vivo. No mesmo itinerário do sujeito lírico, a nostalgia da epopeia conotada, em parte, com a agonia de Portugal dos anos 50 e 60, evoluirá para o prolongamento do “ritual do espanto” na visão das navegações como o espanto de o real ultrapassar de novo o imaginado; da construção e “inteireza” do possível; de viajar sem mapa e atravessar o “inavegável” (Navegações VI, p.60); da experiência de ficar em suspenso, a contemplar nas costas, à distância, “um imóvel silêncio de palmares” (Navegações I, p.61); sem esquecer o “ oiro”, como determinante da rota (- “era a rota do oiro”, Navegações II, p. 62),e para encher as igrejas ( - “Por isso ao longo das escalas/ Cobrimos de oiro o interior sombrio das igrejas”, Navegadores, in Ilhas,Mar-Poesia,p. 69); a errância ou descobrimento ; o sonho, na metáfora do barco no coração – “Através do teu coração passou um barco/ que não pára de seguir sem ti o seu caminho” – Navegações XIV, p. 67); até atingir o requinte das safiras do Oriente:

E sob as altas nuvens brancas liras
Os olhos viram verdadeiramente
O doce azul de Oriente e de safiras
Navegações IV, p. 59

O poema Açores (pp. 55-57) abriu caminho para a poética da viagem de navegação como espanto de amplidão, luz, “o brilho de bruma e clareza”, o deslumbramento de encontrar nove ilhas. A viagem de navegação, síntese sobre o essencial da beleza do percurso do real e do encontro com o Outro, atravessa o livro Navegações:

O rosto real de todas as figuras
E ousaram – aventura mais incrível-
Viver a inteireza do possível
Navegações III, p. 58

O olhar do navegador - “olhos abertos” -,como o olhar do sujeito lírico na viagem catabática, é de espanto perante o Outro, o diferente, “as elaboradas estranhezas”. O próprio mar é diferente, numa visão que engloba o imaginário e o fantástico do “dragão”, para ritmar o mar-Outro, desconhecido e deslumbrante, que inspira respeito:

Olhos abertos do navegador
Mudam aqui a luz, a sombra, a cor
E também faces e gestos se modulam
Segundo elaboradas esranhezas
Outro o recorte da vaga e do penedo
Caudas de dragões seguem os barcos
Navegações XI, p. 66

O poema Navegações VIII (p.65) desenvolve o essencial de um testemunho perante o novo de um navegante , assumido na primeira pessoa, que viajou sem cumprir “ordens que levava” . Limita-se a contar o que viu, sem estar seguro sobre a fronteira entre o erro, a errância e o descobrimento. É possível que se trate de uma alusão a Vasco da Gama que tinha, como outros – Bartolomeu Dias, Pedro Álvares Cabral -, ordens do Rei para ir em demanda do Preste João das Índias e procurar rotas para o Oriente, mas não as cumpriu, porque não encontrou o rastro do Preste João. O espaço que filtra pelo seu olhar de navegante, integrado num grupo ou capitão – implícito na expressão “nenhum de nós entendeu mais”-, e narrador, numa breve síntese poética da narração de Vasco da Gama ao Rei de Melinde e da sua própria visão do Oriente, em Os Lusíadas, é o espaço do Outro das costas e mares de África – “cabos “, “ilhas”, “baloiçar dos coqueirais”, “homens nus bailando nos areais” e Ásia – “lagunas azuis como safiras”, “oiro também à flor das ondas finas “. É o espaço da dificuldade do entendimento das línguas locais – “as suas falas/ que nenhum de nós entendeu mais”- , da presença de armas locais: “vi ferros e vi setas e vi lanças”, do deslumbramento perante o Outro. Na anáfora de “vi”, na maioria dos versos, ecoa a narração da tromba marítima e do fogo de santelmo de Os Lusíadas, sem esquecer a metáfora de ver quase o impossível, do imaginário clássico - não era possível ver Eurídice na catábase de Orfeu - “Vi o rosto de Eurydice das neblinas”-, para conferir ao texto uma marca do narrador e protagonista ocidental, aproximável do sujeito lírico, no texto de Mar-Poesia, que, como Camões, assume e actualiza os mitos e o imaginário clássico.

Navegações VIII é um poema de errância, de rara acutilância da palavra poética que fecha o presente trabalho, sem nos alongarmos numa leitura mais extensa, porque se trata do olhar para a dança do mundo do Outro, porque é um olhar de deslumbramento e respeito pelo diferente, o rigor de um testemunho de beleza e prodígio, de global fascínio do real que espraia a poética do espanto e da viagem. Porém antes de o transcrevermos, lembremos que é a beleza da arte arquitectónica do estilo manuelino, que fecha o livro Navegações e exprime, na palavra de Sophia, o essencial da errância: “ a flor dos acasos que a errância/ em sua deriva agrega”, Navegações XVII, p. 68.

Vi as águas, os cabos, vi as ilhas
E o longo baloiçar dos coqueirais
Vi lagunas azuis como safiras
Rápidas aves furtivos animais
Vi prodígios espantos maravilhas
Vi homens nus bailando nos areais
E ouvi o fundo som de suas falas
Que já nenhum de nós entendeu mais
Vi ferros e vi setas e vi lanças
Oiro também à flor das ondas finas
E o diverso fulgor de outros metais
Vi pérolas e conchas e corais
Desertos fonte trémulas campinas
Vi o rosto de Eurydice das neblinas
Vi o frescor das coisas naturais
Só do Preste João não vi sinais

As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri
Navegações VII, p. 65

Nesta última parte, estudámos sucintamente a topologia mediterrânica das ilhas de Ítaca e Hydra, do oráculo de Delfos, o espaço da prece, da ausência de deus, a presença perigosa do monstro, a nostalgia do sagrado, a nostalgia da epopeia, para, acompanhando o ritmo e a sequência de Mar-Poesia que por sua vez sintetiza fulcros do ritmo e da sequência da obra poética de Sophia, concluirmos com a poética do espanto das viagens portuguesas intercontinentais do século XV, o fascínio do real e a dança do Outro, na poesia de Sophia.

CONCLUSÕES

Tomando como dois eixos possíveis de leitura da poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen um dos seus versos Nunca se distingue bem o vivido do não-vivido; a sua multímoda procura de relação de equilíbrio com o real, sintetizada na metáfora da Balança misteriosa, este nosso caminho de leitura de Mar-Poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen permitiu-nos percorrer e analisar idiossincrasias poéticas do itinerário do sujeito lírico, a sua solidão valorizada e valorizante, a sua identidade e identificação com o mar, como procura de renovação, de ritmo do seu “bailar secreto”, sensível à dança cósmica, atenta ao devir do mar como espectáculo de luz cantante e erotisante; ao milagre do mar e ao silêncio dos seus milagres interiores; como metáfora de liberdade, não expressa como pessoal, embora implicitamente pessoal; como liberdade para o “tempo dividido”, metáfora da civilização actual; para as mulheres; nas metáforas do pescador e do marinheiro real, na alegoria do pirata, como metáforas de “inteireza do ser”, de paz e auto-domínio para a aventura. O mar como reino de “círculo de luz” , “coluna de sal”, “Balança misteriosa”, metáforas de procura de equilíbrio do sujeito lírico com o cosmos que lhe permite percorrer, com “ o fio de linho da palavra”, sem medo, de “olhos abertos”, na viagem de catábase às suas profundezas, as grutas e abismos luminosos até à gruta mais interior e única sombria, reservada ao amor, no labirinto aquático de luz, cor e transparência; lhe permite aceitar a presença do monstro aquático- “as medusas”- que não o atemoriza, mas é o desafio para as suas energias anímicas e vitais. Todavia permanece o enigma da morte, na alegoria do Navio Naufragado.

Vimos como o sujeito lírico transferiu a realidade topológica do labirinto de Creta e da metáfora do monstro Minotauro nele aprisionado, para as metáforas da sua travessia do labirinto aquático e da presença do monstro Minotauro em liberdade, a navegar sobre o mar, o que constiui um maior perigo e desafio para quem atravessa o mar da vida. O eixo do labirinto subaquático e da coluna de sal do próprio mar, o eixo em cujo topo o mar se torna calmo e meditativo, porque nele “poisa a rola do mar”, cumpre a geometria perfeita da metáfora do labirinto, na poesia de Sophia de Mello Breyner – como na Divina Comédia de Dante -, na viagem catabática, metáfora da viagem às profundezas do sujeito lírico, e na viagem anabática de travessia da superfície do mar, em paz, no topo do eixo onde “poisa a rola do mar”. O seu companheiro de travessia da onda, como metáfora da travessia da vida é Dioniso, por sua vez metáfora de energia de vida e do risco de o seu ser se encontrar, se perder, se desunir e se unir ,que é a “dança do ser”.

A fabula dos deuses confere-lhes uma presença vivificante, no texto de Mar-Poesia, em momentos de luz e de nostalgia. As esferas apolíneas estão implícitas no real como “divino”, na luz e no espanto do real. A topologia insular mediterrânica e atlântica em Mar-Poesia permitiu caminhar das origens e da renovação cíclica, à evocação de Pessoa, à ausência do divino na vida actual, à degradação do sagrado e à invasão da monstruosidade, do monstro como excesso que se expõe ao homem dos nossos dias e o arruína. Tendo o sujeito lírico consciência de que a fabula dos deuses pagãos não apagou a morte, procura ou encontra um espaço, sobre a rocha, de prece a “outro deus” pelo nosso post mortem, para que a nossa morte possa ser ultrapassada pela esperança.

A nostalgia da epopeia atravessa a poesia de Sophia e está patente em alguns poemas de Mar-Poesia. Ao longo do itinerário do sujeito lírico, a nostalgia e a melancolia evolui para o prolongamento do que designamos como poética do espanto das viagens intercontinentais dos navegantes portugueses do século XV, em África e na Ásia; o espanto de o real ultrapassar o imaginado, a errância e o descobrimento, o fascínio do real e da dança do Outro que de certo modo completa e espraia a dança cósmica e a “dança do ser”.


NOTAS

1. Andresen, Sophia, Arte Poética II, in Obra Poética II, p. 95. Vide, a propósito deste texto, Mourão, José Augusto, Arte poética de Sophia, in Poéticas do século XX, Livros Horizonte, Lisboa, 1984

2. Mar-Poesia, Nota, pp 7- 8

3. Andresen, Sophia, “Poesia e Realidade”, in Colóquio Artes e Letras, nº 8, Abril, 1960

________________Arte poética II , in Obra poética II, p. 95

________________Arte Poética III, in Antologia,4ª edição, Morais, Lisboa, 1978, pp.233-235

4. Andresen, Sophia, As Grutas, in Mar-Poesia, p.p 38-39

Reino, in Mar-Poesia, p. 35

5. Andresen, Sophia, ȁPoesia e Realidade”, Colóquio Letras e Artes,nº8,Abril,1960

Arte poética III, in Antologia, 4ª edição, Morais, Lisboa,1978, pp. 233-235

6.Andresen, Sophia, As Grutas, in Mar-Poesia, pp. 38-39

Reino, in Mar-Poesia, p. 35

7. Andresen, Sophia, Arte Poética V, in Obra Poética III, pp. 349-350

8. Andresen, Sophia, Arte Poética IV,in Obra Poética III, p. 167

9. Andresen, Sophia, Obra Poética III, p. 298

10. Vide Ceia, Carlos, Introdução aos Mistérios da Poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen, Vega, Lisboa, 1996, capítulo III, A via elemental, pp.39-154

Vide Bachelard, Gaston, L’Eau et les Rêves, Corti, Paris, 1942; Bachelard, Gaston, Poétique de l’Espace, P.U.F., Paris, 1957

11. Andresen, Sophia, Arte poética II, in Obra Poética II, p. 95

12 . Andresen, Sophia, Obra Poética II, pp. 50-52

13. Vide a este propósito Auden, W.H., The Enchafed Flood, Faber and Faber,London

14. Vide Cahiers de Recherche sur l’Imaginaire, dirigée par Jean Burgos, Lettres Modernes, Paris, 1975

15. Andresen, Sophia, Obra Poética III, p. 298

16.Andresen Sophia, As Grutas, in Mar-Poesia, p. 39

17. Ovid, Metamorphoses, XIII, 930-968

18. Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes

19. Camões, Luís de, Os Lusíadas,VI, 6-13

20. Andresen, Sophia, Arte Poética III, in Antologia, 4ª edição, Morais, 1978,pp.233-235

21. Andresen, Sophia, Arte Poética II, in Obra Poética III, p. 95

22. Andresen, Sophia Livro Sexto, in Obra Poética II, p. 109

23. Andresen, Sophia, O Nome das Coisas, in Obra Poética III, p. 186

24. Andresen, Sophia, Navegações, in Obra poética III, p. 247

25. Andresen, Sophia, Obra Poética III, pp. 109-116


BIBLIOGRAFIA

1. TEXTOS DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Mar-Poesia, Caminho, Lisboa, 3ª edição, 2001

Obra Poética I,II e III, Caminho, Lisboa, 1990,1991

“Poesia e Realidade”, in Colóquio Artes e Letras, nº 8, Lisboa, Abril,1960

Arte Poética III, in Antologia, 4ª edição, Morais, Lisboa, 1978, pp. 233-235

O Colar- Teatro, Caminho, Lisboa, 2001

2. BIBLIOGRAFIA PASSIVA

ANTUNES, Manuel, “Criticar: discernir ou condenar?”, in Educação e Sociedade, Sampedro, Lisboa, 1973

_________________” Da crítica Literária”, in Ao Encontro da Palavra (I), Morais, Lisboa, 1960

AUDEN,W.H., The Enchafed Flood, Faber and Faber, London

BACHELARD, Gaston, L’Eau et les Rêves, Corti, Paris, 1942

___________________ Poétique de l’Espace,P.U.F., Paris, 1957

CEIA, Carlos, Iniciação aos Mistérios da Poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen, III, pp 39-154 Vega, Lisboa, 1996

DURAND, Gilbert, Les Sructures Anthropologiques de l’ Imaginaire, Bordas, Paris, 1979

GRIMAL, Pierre, Dictionnaire de la Mythologie Grecque et Romaine, 6e édition, P.U.F., Paris, 1979

HEIDEGGER, Martin, Qu’est-ce que la philosophie?, Gallimard, Paris, 1957

LIMA DE FREITAS, O Labirinto, Arcádia, 1975

LOPES, Silvina Rodrigues, Poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen. Apresentação crítica, selecção e sugestões para análise literária, Comunicação, Lisboa, 1990

__________”Sophia de Mello Breyner Andresen: uma poética da navegação”, in Aprendizagem do Incerto, Litoral, Lisboa, 1990

LOURENÇO,Eduardo, “Retrato de Sophia”, prefácio a Antologia,Morais,4ªedição Lisboa , 1978

MERLEAU-PONTY, Maurice, L’Oeil et l’Esprit, Gallimard, Paris,1985

MOURÃO, José Augusto, “ Semiótica do espaço- O Anjo de Sophia”, in revista Colóquio-Letras, nº 74, 1985

_________”Arte Poética de Sophia de Mello Breyner Andresen”, in Poéticas do Século XX, Livros Horizonte, Lisboa, 1984

_________A sedução do real, pp. 13-100, Vega, Lisboa,1998

SANTOS, Helena, “Sophia de Mello Breyner Andresen: uma leitura de Grades”, revista Brotéria, vol, 114, nº2, Lisboa, Fevereiro de 1982

The Oxford Classical Dctionary,edited by M. CARY [et alteri]. Oxford Clarendon Press, Oxford, 1966

WEIL, Simone, Attente de Dieu, La Colombe, Paris, 1960