Tarok Burutu

ZUCA SARDAN & FLORIANO MARTINS

Tarok Burutu
https://drive.google.com/file/d/1d-GjZItXlGAGT7N3iioyNlvb3Bfsjgj6/view

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ZUCA SARDAN | Nasci no Rio de Janeiro, atrás do Aqueduto da Lapa. Pequenino, vi o Zeppelin indo pro Pão de Açúcar. Encontrei as Walkyrias num bambuzal de cervejaria em Petrópolis. E surgiu a Lua em meu quarto. Comecei a desenhar pra gravar essas fortes impressões. Tenho, assim, de metiê de desenhista, uns já quase oitenta anos. Em poesia me iniciei mais tarde, já rapazola. Comprei o livro Les Fleurs du Mal, de Baudelaire, e foi um deslumbramento! Passei a escrever Les Fleurs d’Étoffe (quisera  fossem Flores de Estufa, mas não encontrei o vocábulo em meu dicionário escolar, e decidi fazê-las de Estofo). Um dia minha mãe descobriu o caderno secreto e o trouxe pra sala, e mostrou ao Paulo Bello, um tipo extraordinário, elegantíssimo, colete, com relógio de corrente, gravata Coco Chanel, e um charutão puro Habana, voz roufenha, e que passara a juventude em Paris, no Champs Elysées, no Moulin Rouge, na Opera Garnier, no Louvre,  nas peças de Sarah Bernhard. Adorava o theatro, e com essa autoridade de grande parisardo, tomou do livro, e começou a recitar com máxima dramaticidade. Minha mãe chorou, meu pai manteve, correto marxista, um silêncio distinto. Mas eu, desde então, tornei-me um Poeta! Surrealista, bien sûr.


FLORIANO MARTINS | Conforme indica a página encontrada no livro de registros, eu nasci em 1957, na província menor de Fracaleza Drinks. Insisto nisto porque a minha avó materna nasceu um ano antes da data que consta em cartório. Nos primeiros anos de vida, quando dei pela conta, já me havia invadido a casa o Gato Félix, graças à pirotecnia de tubos e válvulas então conhecida como a primeira televisão. Tive uma infância assessorada pela dupla Laurel & Hardy e a magia encantatória do Circo Tihany, mais inesquecíveis momentos de convívio com meu pai. Na primeira adolescência topei com uma pilha de livros, extensa coleção de obras teatrais, onde sobretudo a tragédia e o teatro do absurdo me enriqueceram a imaginação. Vieram também ajustar seus compassos a música, o romance, a pintura e finalmente o poema, porém eu já estava marcado pelo fascínio que o ambiente cênico havia impresso em meu horizonte. Desde então o que tenho feito, ao criar, é por a dialogar meu espírito com os diversos cenários em que fui me revelando a mim mesmo. E sigo nisto.