ANTOLOGIA 2007
Poetas na Surrealidade em Estremoz
Organização de Nicolau Saião
Edição da Câmara Municipal de Estremoz, 2007

Algumas palavras

 Há livros que não se organizam. Ou antes, não carecem de organização. Organização? Antes lhe chamaria simples arrolamento, simples juntura – como se os textos tivessem caído da cauda de um cometa, a nós chegassem projectados por um impulso tão natural como um aceno, um relancear de cabeça, uma expressão do rosto.

 Assim sendo, apenas me coube o papel de receptor. De receptor após mínima sugestão de companhia. E, pronunciando esta palavra, chega até mim como eco dum vento salutar a frase de António Maria Lisboa “Aqui já ninguém procura um séquito; quer-se companhia”. Companhia feita de um simples assentimento – que é o que melhor quadra nesta antologia que agora se deixa aqui proposta a uma viagem sem fronteiras.

 Um puro lugar de afectos? Também, claramente. Mas afectos cifrados numa qualidade sem jaça – diria da sua alma própria, que é o espírito absoluto de quem os articulou em palavras, em frases, em poemas criados mediante o apelo do sonho, da realidade que intimamente a ele se liga e que já não é norte, nem sul, nem inverno, nem verão – mas a figura absoluta de quem através deles nega a morte que tantos desejam para a Poesia, aquela entidade que visa a plenitude. “Sobre os telhados da casa cresce uma excrescência carnosa”… A frase contém ainda a sua verdade amaldiçoada, mas cabe aos poetas iluminar a cena e, dessa maneira, possibilitar moradias mais livres, mais salubres, um ambiente de logradouro, de jardim ou de palácio encantado onde os monstros não tenham efectivo poder.

  Estes poemas, esta junção de poemas na surrealidade, vindos de autores vogando expressa ou impressamente na imanência surrealista, não são uma celebração. Apenas propõem um íntimo, um pequeno fulgor. Uma pequena pedra brilhando na escuridão de um tempo a que alguns, sem que jamais o consigam, querem retirar a dignidade que lhe é própria, que lhes é íntegra pertença – e que de algum modo será o seu seguro perfil nos anos que pelos tempos irão chegar.

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Imagens do lançamento
Nicolau Saião, organizador da antologia, primeiro à esquerda; José Alberto Fateixa, Presidente da Câmara de Estremoz, João Carlos Chouriço, Vereador da Cultura, e Hugo Guerreiro, director do Museu Joaquim Vermelho, durante a cerimónia de lançamento da antologia, na Biblioteca Pública.
Nicolau Saião e Maria Estela Guedes

Acaso objectivo? Por surrealista que pareça, na Biblioteca Pública, Câmara Municipal de Estremoz, estava um placard alusivo ao Dia dos Namorados. Uma das fotos, a da esquerda, no plano inferior, com a jovem de blusa branca encostada ao namorado, pertence à família de Maria Estela Guedes e mostra os seus pais. A foto foi apanhada no Google, pois está em linha no TriploV, em: http://www.triplov.com/estela_guedes/lordes/pages/namoro.htm