SOPHIA DE MELLO BREYNER:TRANSMUTAÇÃO DA PALAVRA EM POESIA
ARTES POÉTICAS, AEDOS E CIDADES* (1)
HELENA S. C. LANGROUVA

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Meditar sobre a palavra e a sua transmutação em poesia, procurar a palavra perdida, transformada no metal mais nobre, pode transformar a literatura e as nossas vidas. Para escrever poesia, é preciso encontrar caminhos e práticas conducentes à alquimia das palavras, procurando a nobreza do espírito e do estar poético. A obra de Sophia de Mello Breyner Andresen constitui um inequívoco corpus de alquimia da palavra escutada, dita, escrita e ouvida, em livro e disco, a procura da palavra perdida, reencontrada, transmutada em poesia.


1. AS ARTES POÉTICAS

No conjunto das suas cinco sínteses meditativas sobre a arte poética que constituem as suas Artes Poéticas I, II, III, IV e V, Sophia, na Arte Poética I (2), traça as linhas fulcrais do seu “estar poético” que respira a “aliança das coisas”, ou seja, a aliança conducente à construção de um “reino”, que o sujeito lírico procura e encontra, e que considera extensivo à procura e conquista de cada um de nós, no agora da passagem desta vida – “o reino que com paixão encontro, reúno e edifico”;”o reino agora é só aquele que cada um por si mesmo encontra e conquista, a aliança que cada um tece” - que se opõe ao “ mundo onde a aliança é quebrada”, como veremos adiante.

Na Arte Poética II (3), retoma o discurso da relação com o universo, prolongado na evidência da poesia como “arte de ser”, exigindo integridade no plano mais profundo, englobante e religador do ser humano -“inteireza do ser”- um modo de ser nobre que nada tem a ver com a relação do sujeito poético com as exigências de especialização, trabalho, ciência, estética ou teoria. A escolha das palavras corresponde à visão do mundo e à aliança do sujeito lírico com o que chama “realidade” (4), na sua materialidade e visibilidade aliada à ontologia, numa ligação profunda à própria vivência de tensões e de exactidão de actos, o que torna possível reconhecer, no poema, o caminho profundo do sujeito lírico, o encontro com o “reino”que procura e constrói como seu, a sua vida:

“O verso é denso, tenso como o arco, exactamente dito, porque os dias foram densos, tensos como arcos, exactamente vividos”: “no quadro sensível do poema vejo para onde vou, reconheço o meu caminho, o meu reino, a minha vida”.

A procura do que o sujeito lírico chama “Objectividade do olhar” corrobora a sua procura de relação justa com a natureza, o homem e o mundo, no seu “esplendor” e “sofrimento”(5). Daí, na Arte Poética III (6), a expressão da união destes fulcros com a concepção da poesia como “perseguição do real”, como “uma moral”, como “procura de tomada de consciência”, como “busca de justiça”. Segundo Sophia, poesia confunde-se com “o equilíbrio das coisas”, com a “ordem do mundo”, com o “Amor” que, na expressão de Dante,” move o sol e os outros astros”(7); a poesia confunde-se com “a nossa fé no universo”(8). Daí a inevitabilidade da concepção do poema como o “o círculo onde o pássaro do real fica preso”, na imagem de geometria perfeita e englobante do círculo que inclui, prendendo, a própria realidade; do poema cuja estrutura é modelada pelo “desejo de rigor” e de “verdade”(9). O poema como desejo de rigor e verdade instaura a dignidade e nobreza da palavra poética, a qual por sua vez, pelo seu poder de transmutação, pelo seu poder poético, instaura e é, na sua essencialidade, a “dignidade do ser”.

Na Arte poética IV e na Arte Poética V, Sophia recorre à expressão do ser e do fazer do poema como escuta do que concebe como “nome deste mundo dito por ele próprio”(10), expressão enigmática onde o próprio mundo se diz a si próprio como nome, palavra, logos que a si próprio se anuncia e se exprime. Nas referidas Artes Poéticas IV e V, Sophia assume o estatuto do poeta como “escutador”(11) cujo esforço consiste em “conseguir ouvir o poema todo”, para que ele não se quebre, na tradição da poesia como escuta de uma musa, de um deus, neste caso do próprio poema.

O que se nos afigura a um tempo inesperado e coerente, no universo poético de Sophia, é a sua meditação sobre a dificuldade de saber como, onde e por quem se faz o poema, interrogando-se se vem do mundo onírico e/ou inconsciente – “não sei se é feito por mim em zonas sonâmbulas de mim”- ou do mundo imanente e/ou transcendente que venha ao encontro do seu ser, através da palavra que se transmuta em poesia – “ou se é feito por aquilo que em mim se inscreve” (12). Parece clara a necessidade de, seja donde venha a palavra transmutada em poesia, criar, no sujeito escrevente poético, um modo de ser, estar e viver, pleno de atenção (13), concentração e silêncio que lhe permita criar um “estado de escrita”, no qual terá de vigorar a paixão pelo que é essencial e se desoculta mostrando-se – “paixão...pelo ser e o aparecer das coisas” (14).Daí a concepção da poesia como encontro com uma epifania, desocultação ou revelação do mundo, na sua essencialidade, um estado de sensibilidade “como a película de um filme” (15). Recorrendo a palavras do universo fílmico, escolhe a palavra “ montagem” para a ordenação de versos, por vezes a partir de um caos, de “ uma sucessão incoerente de versos e de imagens” (16). Nota que o poema pode ser longo – o caso de O Cristo Cigano, fundamentado numa história que lhe foi contada por João Cabral Melo Neto sobre um escultor que, ao procurar o rosto de Cristo sofredor, o encontrou no rosto de um cigano- na Andaluzia, Espanha-, quer escrito a partir de vários poemas, quer a partir de uma história. Outros poemas – Fernando Pessoa, Vieira da Silva – surgiram nas pausas da escrita de textos em prosa, sobre o mesmo assunto (17).

2. POÉTICAS E AEDOS

Na Arte Poética V, Sophia sintetiza a procura de toda a sua vida: a de escrever o que designa como “poema imanente”, explicando que foi desde sempre marcada pela poesia que ouvia ler por outros na sua infância, pensava que a poesia não era escrita, mas existia por si mesmo, era imanente à natureza, à vida e ao mundo. Daí a sua atracção pelos aedos gregos, os recitadores das ruas das cidades, o mistério da poesia oral e ancestral que perpassa ao longo da sua poesia, se condensa no poema Trípoli 76 (18), de maneira única e ímpar, no conto poético e exemplar com o nome de um aedo –Homero (19) -. Segundo Sophia, na referida Arte Poética V, o requisito para “escrever esse poema imanente” é o “silêncio”, “o vazio” e a “despersonalização”.

Permito-me afirmar que partilho o pensamento poético de Sophia. O fio mágico da palavra e a sua alquimia é possível , mas podemos enganar-nos se não aceitarmos ouvir, fazer pausas, ouvir o silêncio, meditar, procurar e esperar a transmutação da palavra em poesia. A este propósito, Sophia cita, no poema A Palavra, um provérbio de Malinké sobre a necessidade de não nos enganarmos na nossa parte de palavra:

Diz o provérbio de Malinké:
Um homem pode enganar-se em sua parte de alimento
Mas não pode enganar-se na sua parte de palavra (20)

A palavra –fio mágico que nos faz sair do labirinto transforma, como a amizade, as nossas vidas. A palavra nasce, perdida entre outras palavras, para ser ordenada, decantada ao essencial, reflexo da procura do essencial, a emergir e a cultivar no quotidiano. Trata-se de um processo que designaríamos como demiúrgico-poético, como se a palavra perdida, por vezes num caos de vivências múltiplas, se transformasse em cosmos. Para se atingir esse estado demiúrgico-poético é preciso atravessar ou ter atravessado florestas do inconsciente ou subconsciente, do ego psíquico, para, na concepção de Sophia, se caminhar, no rastro de algumas místicas, para a libertação, acompanhada de vazio, como se a palavra deixasse de ser nossa, no espaço que designaríamos como espaço interior do sujeito escutador e escrevente.

Sophia conclui a Arte Poética V narrando, em síntese, uma experiência de transmutação da palavra em poesia, a partir de uma experiência vivida no teatro do Epidauro:

Um dia em Epidauro – aproveitando o sossego deixado pelo horário de almoço dos turistas - coloquei-me no centro do teatro e disse em voz alta o princípio de um poema. E ouvi, no instante seguinte, lá no alto, a minha própria palavra, desligada de mim. Tempos depois escrevi estes três versos:

A voz sobe os últimos degraus
Oiço a palavra alada impessoal
Que reconheço por não ser já minha
(21)

Em nosso entender, trata-se também de uma experiência da palavra perdida, para subir, se elevar, permitir que o sujeito escutador se deixe transcender e desligar de si próprio, como quando se canta um salmo ou um passo do evangelho, na tradição judaico-cristã. A palavra transforma-se, num processo de transmutação, filtrado pela pausa, o silêncio, a escuta, a interiorização, onde converge a imanência do poema e o acto de transcender o ego, para culminar, em fase posterior, no acto da escrita poética.

O conto Homero condensa o mistério da poesia oral na figura do Búzio, o vagabundo da terra e das praias que canta melopeias e se acompanha a si próprio “ao som de castanholas de conchas”. Nunca tem pressa, integra-se no ritmo do cosmos, deixa que a cor dos olhos mude como a do mar, tem um modo de andar “como o andar de um marinhaeiro ou de um barco”, nada possui senão a terra para viver e o mar. Fala apenas com o mar , num “longo discurso claro, irracional e nebuloso”, sintonizando a ambivalênia do discurso poético de Sophia – “claro e irracional”. É aproximável do canto dos aedos, da poesia oral que antecede a escrita. As suas palavras perdidas no vento, ao serem ouvidas pelo narrador, transformam-se, transmutam-se, identificam-se com o rigor, a densidade e o peso da palavra poética que exprime a aliança e o essencial da relação com a natureza:

Palavras que chamavam pelas coisas, que eram o nome das coisas. Palavras brilhantes como as escamas de um peixe, palavras grandes e desertas como praias. E as suas palavras reuniam os rostos dispersos da alegria da terra. Ele os invocava, os mostrava, os nomeava: vento, frescura das águas, oiro do sol, silêncio e brilho das estrelas”

O narrador segue-o na praia para o ouvir. É a escuta do narrador perante a palavra perdida do aedo-vagabundo que transmuta o discurso poético, do caos poético, a um tempo lúcido e irracional, do vagabundo, no discurso poético assumido como cósmico, de ordem, rigor e apoteose, notado pelo narrador (22).

3. CIDADES

Transitando do reino e da aliança para o “mundo onde a aliança é quebrada, Sophia escreveu bastantes poemas sobre o espaço-cidade, desde o primeiro livro- Poesia – até a dois dos últimos – Navegações e Ilhas. Percorreremos, em síntese, a expressão do espaço-cidade na poesia de Sophia, e no conto O Homem, acompanhando o itinerário do tratamento da cidade, na obra de Sophia, partindo do espaço submetido à dualidade cidade/ escatologia da alma, passando pelo labirinto que, ao invés do labirinto subaquático da poesia de Sophia, apresenta conotação negativa, e a ameaça da morte – ambos sinais do “mundo em que a aliança (com as coisas) é quebrada” (23) e de perda de união com a natureza- para, acompanhando a evolução da própria obra poética de Sophia, concluirmos com o espaço-cidade como espaço de nitidez, reencontro, projecto, esperança, com a presença de esperança da “ave do espírito” (24).

3.1. A dualidade espaço-cidade/ escatologia da alma

Nas suas primeiras obras, concentradas na procura de união consigo própria, com a Natureza e o Mar, Sophia revela o espaço-cidade como oposto à unicidade e essencialidade do ser humano, à escatologia da alma. A partir do Livro Sexto, acentua cada vez mais a consciência da negatividade do espaço-cidade, da civilização contemporânea ocidental (25).

No poema Cidade rumor e vaivém sem paz nas ruas (26), a cidade e a vida na cidade constituem um espaço fechado onde reina a perturbação, o ruído e a monotonia, a conspurcação, a hostilidade e o desperdício de energias humanas. Ainda neste poema, Sophia revela, em tom de invectiva magoada, a dupla consciência de, por um lado estar fechada, impedida de comunicar com a natureza, sentindo a sua vida sugada e a sua alma aprisionada num espaço de sombra; por outro lado, saber que existe um espaço aberto, ondulante, ritmado, enraizado e geograficamente não identificado, porque abrangente e ancestral; espaço de horizonte e de vastidão (“ e as planícies mais vastas /que o mais vasto desejo, vv.4-5), o espaço que se aproxima do infinito e se harmoniza com o destino da alma, na terra, em comunhão com a natureza. A expressão do destino primeiro da alma humana é claramente sintetizada, através de um conteúdo semântico de promessa: “a minha alma que fora prometida/ às ondas brancas e às florestas verdes. Este é um poema-chave para a expressão da conotação globalmente negativa do espaço-cidade, uma vez que é um espaço de perdição para a alma que se destina à plenitude. Optámos por não desenvolver teorias ou interpretações relativamente à alma, que neste poema tem uma conotação individual, do sujeito lírico, extensível a outros sujeitos humanos.

No poema Há cidades (27), Sophia exprime o sortilégio do magnetismo das cidades, da sua luz viva e distante que ilusoriamente lhe confere segurança – “Há cidades acesas cujo lume/ destrói a insegurança dos meus passos”). Essa força de sortilégio é ambígua, porque o sujeito caminha para a morte, expressa na metáfora ambígua dos “nardos que me matam de perfume”. Na última estrofe deste poema, a procura de libertação do sujeito é expressa pela urgência de se distanciar do espaço-cidade, alargado a Portugal – “este país” – que é negação da vida do ser. O distanciamento, uma forma de auto-exílio desse espaço possibilitar-lhe-á a tomada de consciência, no plano ontológico e existencial:

E tenho de partir para saber
Quem sou, para saber qual é o nome
Do profundo existir que me consome
Neste país de névoa e de não-ser

O poema de abertura Lisboa, no livro Navegações (28) sintetiza a visão de Lisboa não como porto de partida mas como porto de chegada do sujeito lírico que vem do Sul; o sentido de ausência perpetrada – “cruelmente construída ao longo da sua própria ausência” – na sua indefinição de ser e não-ser.

Por outro lado, no poema A pequena praça (29), essa “pequena praça” é metáfora da transformação e identificação do sujeito com um amigo que, no espaço-cidade, se condena à morte, afastando-se do essencial que é a sua “vocação” de “eterno”. Esse “amigo” é identificável com o homem português e contemporâneo cujo destino é unir-se com algo que ultrapasse as contingências e destruição do tempo, algo que, com o seu espírito, o transcende e é eterno. Assim o espaço-cidade acaba por ser assumido pelo sujeito, na esperança de “resgatar o amigo”, neutralizando, com a própria cidade e a sua gente, as duas forças negativas convergentes – a cidade e a morte. As componentes conspurcação, ruído, tristeza das ruas, não são passíveis de resgate, apesar da possibilidade de redenção e catarse pela presença da noite, dando eco a poemas de Rilke e de Novalis. Impossibilitadas de resgate e purificação, apesar do sortilégio da luz e do magnetismo que irradiam, são alegorias de seres que gritam e apelam o infinito. A procura de libertação do limitado, da união com o infinito, neste caso, pela expressão do contrário, constitui outro fulcro da obra de Sophia de Mello Breyner.

Prosseguindo, ao longo da sua obra, a negatividade da cidade como metáfora de perdição do homem português, contemporâneo, a perda da unicidade e de harmonia interior de cada homem, o afastamento do seu destino primordial, está exemplarmente expressa na alegoria que constitui o poema Marinheiro sem Mar (30). No início do poema, o destino primeiro do Homem é simbolizado num espaço marítimo, e a sua perdição, na treva das ruas da cidade31. Estar no tempo é estar perdido na cidade, na divisão, na perda de unicidade interior e na separação do “eterno”, no “tempo dividido”. A parte final do poema sintetiza a perda da unicidade interior como separação “do que era eterno” e a sua entrega à cidade, na metáfora do “tempo dividido das ruas sem piedade”.

A separação do “eterno” – o espírito, a vida, a vida divina, pressupõe uma vinculação inicial do Homem com o divino. O “tempo dividido das ruas” é a um tempo realidade e metáfora. Realidade do homem que se abandona ao desrespeito generalizado (“sem piedade”) da vida urbana, da civilização moderna, afastadas das origens profundas do ser e propícia à perda de valores essenciais, à dispersão, à perda de auto-domínio. “Tempo dividido das ruas” é também metáfora das dualidades, divisões e contradicções do homem que se afasta da sua unicidade interior. A consciência do “pecado organizado” do homem e da sociedade por ele criada constitui um dos fulcros da obra de Sophia. A consciência da ameaça de destruição tentacular provocada pela cidade, no plano individual, aparece na metáfora do estrangulamento “por grandes polvos”, no breve poema Cidade (32).

Metade do poema-alegoria Marinheiro sem Mar exprime a perdição do homem na monstruosidade tentacular e sombria da cidade -“onde os polvos da sombra o estrangulam”(3ª estr.): “ e as luzes como peixes voadores o alucinam” (6ª estr.), na sua perda de auto-domínio, ao ser levado pela sombra, num espaço labiríntico de conotação negativa – “pela própria escuridão conduzido” (5ª estr.). A causa da situação labiríntica é explicitada a meio do poema, acentuando a sua desligação da verdadeira escatologia da sua alma, inscrita nos astros, a sua perdição, ruína e ausência de rumo. A luz – “ a luz da madrugada pura”-, como metáfora de caminho, renovação e realização humana, de libertação do espírito, deixa de estar ao seu alcance; o seu futuro é categoricamente anunciado como luto, ausência de rumo, morte, entre homens mutilados (33); confundir-se-á com a podridão- “ele morrerá na podridão”

O Marinheiro sem Mar é o homem português, o homem contemporâneo sem aventura, sem futuro, desviado do seu caminho de espaço, de percurso espiritual. O seu navio já não tem mastros, metáfora da potencialidade de viagem. É o homem perdido na confusão e artifício do pensamento – “nas confusas redes do seu pensamento” -, afastado da harmonia com o cosmos. A metáfora repetida duas vezes de “ E ao Norte e ao Sul/ e ao Leste e ao Poente/ os quatro cavalos do vento sacodem as suas crinas/...o esquecerão” remete para o plano de destruição que pontos cardeais do planeta e o esquecimento ou morte do homem. Na lógica interna deste mesmo poema-alegoria, o homem será interrogado pelo “espírito do mar” sobre como deu ou não deu cumprimento à vida, ao seu ser de passagem no espaço e no tempo, convidando o leitor à consciência da construção do seu próprio destino e ao pressentimento de tempos apocalípticos, misto de destruição e de esperança. A interrogação fica suspensa: onde reconhecer o homem no seu espaço de promessa do espírito, metaforizado no “espírito” cósmico do “mar”?

3.2. Modulações da metáfora do labirinto
3.2.1. Modulações positivas: Labirinto e palavra,no espaço marinho: breve síntese

A poesia de Sophia condensa e privilegia conotações variadas da metáfora do labirinto, com modulações positivas, em particular na transposição da metáfora do labirinto para o espaço marinho34 e subaquático e no que poderemos chamar catábase marinha do sujeito lírico, em espaços de luz, mesmo entre grutas e abismos35. A essas modulações, dedicámos uma parte de um dos nossos ensaios sobre a poesia de Sophia36.

A capacidade de percorrer o labirinto sem nele se perder é fruto de uma experiência de viagem do sujeito lírico, identificado com o autor empírico- Sophia de Mello Breyner- em Creta, condensada, por exemplo, no poema Em Creta/onde o Minotauro reina/banhei-me no mar (37). A presença do Minotauro não a assusta, como realidade e metáfora, não provoca medo no sujeito lírico deste poema, porque a palavra, na sua força mágica e neutralizante do negativo é, como o fio mágico de Ariadne que lhe permite nunca perder-se, a palavra como fio condutor, linha da vida, palavra, neste caso nunca perdida:

Porque pertenço à raça daqueles que percorrem o labirinto
Sem jamais perderem o fio de linho da palavra


3.2.2. Modulações negativas: labirinto e morte, no espaço cidade - breve síntese

As modulações da metáfora do labirinto, no espaço-cidade, são negativas, como vimos em textos anteriores e veremos em textos que se vão seguir, sendo o fulcro do nosso presente trabalho fazer falar textos de Sophia.

No poema Labirinto (38), o sujeito lírico caminha, na solidão, num espaço de labirinto, procurando a luz da renovação interior. O labirinto é, neste contexto, metáfora da cidade e de Portugal dos anos 50 e 60, mergulhado na treva e na agonia conducente à morte (39):

Sozinha caminhei no labirinto
Aproximei o meu rosto do silêncio e da treva
Para buscar a luz de um dia limpo

Paralelamente, embora denunciando a violência organizada e a força negativa da cidade-mundo-tempo actual, Sophia exprime a sua não inclusão no mundo da conivência com o mal e degradação moral, no labirinto de perdição dos homens nas cidades. A cidade permanece como metáfora da vida que lhe é exterior e que atingiu o “sabor a coisa morta”:

E com sabor a coisa morta
A cidade dos outros
bate à nossa porta
(40)

O labirinto como ameaça está implícito na metáfora do Minotauro como “monstro insaciado” que “salta sobre a nossa vida” (41). Neste contexto, o Minotauro é metáfora do tempo devorador- “longo tempo latente”-, inimigo do homem.

O sujeito do poema “Busca” (42), integrado no longo poema Cristo Cigano, é um escultor que interpela a Morte, porque dela procura uma imagem. Tem a certeza da presença da morte na cidade, mas recusa aceitá-la e compreendê-la, porque o seu ser- identificável com o sujeito da poesia de Sophia- não lhe pertence, está de fora, tem um destino cósmico abrangente e harmonizante – “meu corpo é de sol/ minha alma é de terra”). A morte é por vezes assumida, noutros poemas, sem horror nem pavor; o que nunca é aceite por Sophia é a degradação e a morte lenta no tempo, como, por exemplo no poema “Camões e a tença”: “Este país te mata lentamente” (43).

No conto O Homem (44), escrito no mesmo ano que Cristo Cigano (1959), Sophia narra a agonia lenta, até à morte , de um vagabundo da cidade, roído pela miséria, abandono e solidão, com uma criança ao colo. A multidão citadina, indiferente ao seu sofrimento, só pára quando ouve uma ambulância para o socorrer. A narradora culpabiliza-se de não ter parado a tempo de o socorrer e, ao procurar identificá-lo com uma imagem é a das palavras de Cristo agonizante na cruz que lhe vem à memória - “Pai, Pai, por que me abandonaste?-, assumindo o sofrimento de todos os homens. Por isso é o Homem, sem outro nome e “continua pelas ruas”, no sofrimento de cada homem. A cidade é realidade e símbolo de uma civilização desumanizada que vai perpetrando, no quotidiano, a marginalização de todos os que são abandonados no sofrimento, agonia e morte. A cidade é um labirinto de perdição para os que sofrem, agudizando-lhes a solidão e o abandono.

Podemos afirmar que, na lógica interna da poesia de Sophia, o repúdio da degradação, da morte lenta como detonadora de violência, do abandono a que são votados os que sofrem, é a recusa da violência do que vai contra a vida, contra e o respeito pela vida. A cidade é uma metáfora de um espaço que propicia, não raro, esta forma de negatividade, contra a respeito pela vida como valor nobre a cultivar.

3.3. Cidade, nitidez, encontro e projecto

Concordamos com Eduardo Lourenço, quando afirma, no prefácio da 4ª edição de Antologia (45),”Há poucos itinerários em língua portuguesa tão impregnados de positividade original, tão de raiz canto ao rés de uma realidade aceite como esplendor efémero e eterno e por isso tão isentos de polemismo e intrínseca negatividade, como o de Sophia de Mello Breyner”.

A positividade de Sophia está implícita na sua consciência da negatividade a que a cidade dos homens se votou, pela ausência de valores humanos que se perderam e deveriam ser preservados. A sua positividade está também presente na expressão da cidade, situada no espaço português e internacional, ancestral e moderna, erguendo-se como realidade e símbolo de nitidez, encontro e projecto.

A cidade de Babilónia, nascida “de lodo e limo”, símbolo do cativeiro do povo judaico é evocada, como num reencontro, na sua perfeição arquitectónica, na hibridez ancestral dos que a povoaram e nela sofreram. Nela converge nitidez e sofrimento, detonadores de uma certa ambiguidade:

Com multidões, com gritos, com mercados
Com escribas com magos com adivinhos
Com prisioneiros com servos com escravos
... com lucidez feroz com amargura
com ciência e arte
com desprezo
nasceu de lodo e limo
(46)

Essa mesma ambiguidade está patente no poema Fernando Pessoa ou o poeta em Lisboa. A sombra de Fernando Pessoa “cruza o ângulo da praça”, “atropelado por tudo quanto passa”, “em sinal de sorte ou de desgraça”. O espaço da cidade de Lisboa inevitavelmente não acolhe bem nem sequer a sombra de Fernando Pessoa, torna-se ambíguo e imprevisível (47).

A ambiguidade do espaço-cidade vai-se diluindo ao longo da poesia de Sophia, a partir do livro O nome das coisas, coincidindo com os finais dos anos 70. No acima referido poema Trípoli 76, não há margem para a expressão da ambiguidade nem de sofrimento, mas sim da globalidade convergente de povos, raças, culturas e ritos, de tradições ancestrais. O recitador antigo, tal como o aedo grego, nela permanece na comunicação mágica e misteriosa da palavra, da palavra perdida ou transmutada em poema, modulada na sua nudez e intensidade, num espaço de fronteira misteriosa de “puro Deus e puro nada”, palavra e fronteira tão privilegiadas em toda a obra de Sophia:

Cruzam-se muitas e diversas gentes...
Vêm de muitos e diversos ritos
E cultos e culturas e paragens
O recitador encontra a palavra modulada
Rouca de deserto e imensidão
Entoa a veemência nua da palavra
Fronteira de puro Deus e puro nada

No final deste poema, é clara a preservação da ancestralidade com vigor actual e actualizável, permanecendo como um dos valores privilegidos em muitos textos de Sophia. Como vimos acima, o conto Homero desenvolve a ancestralidade do aedo metamorfoseado em vagabundo das praias, portador do mistério da palavra poética e da sua comunicação, no plano da praia e do cosmos. A aliança entre lógos e cosmos, a poesia como palavra transmutada no cosmos.

Na obra poética de Sophia, o espaço-cidade assume contornos de positividde no poema “Na cidade da realidade”, sem localização geográfica. Trata-se de um espaço que engloba experiências positivas de um sujeito que se encontra com a “realidade” profunda, individual, partilhada apenas por um “tu” -“os meus gestos e os teus”- que pode ser interpretado como realidade recôndita do eu de um ser que com ele se sintoniza, perante a harmonização do sujeito consigo próprio, com a realidade. “A cidade da realidade” transcende a geografia, alegoriza o encontro do eu com a realidade interior, num espaço de “ruas/muros brancos e janelas pintadas” (vv. 2-3), transubstanciado pela natureza harmonizante, onde o tempo não tem limite, permitindo o encontro profundo do ser, na sua mobilidade luminosa:

Eram mil e mil noites uma após outra surgindo
E o meu rosto flutuava entre a manhã e a tarde
... E o tempo veio ao meu encontro confundido
Os meus gestos e os teus nos meus (48)

Neste espaço, as cores, os cheiros, a paisagem e o desenho global está transmutado pela palavra poética, metamorfoseado pela luz e esperança de viagem, num harmonioso conjunto de metáforas e imagens. As sombras da cidade são “azuis”, abundam plantas silvestres – “madressilvas”-, árvores de fruto- limoeiros e nespereiras- , o “perfume inteiro das searas”, e “ a porta da cidade é feita de barcos”. O espaço é harmonizante, transfigurado pela natureza e livre, aberto à viagem e aventura, implícitas na metáfora dos barcos. O percurso e a viagem interior do sujeito lírico já teve início e promete ter a presença atenta dos céus e estrelas, até ao infinito, ao englobante – “e quando abri a porta as estrelas surgiram”. A “cidade da realidade” alegoriza o encontro profundo do sujeito lírico consigo próprio, na sua viagem interior para a paz e harmonia, o encontro e comunicação com o englobante.

Como é sabido, a Grécia e o espaço mediterrânico é privilegiado na obra poética de Sophia. No que respeita a cidades, é a nitidez geométrica, a cor branca das cidades mediterrânicas e do sul de Portugal que fascinam o sujeito lírico da poesia de Sophia. Por vezes não estão também geograficamente localizadas . No poema “De pedra e cal” (49), não perpassa qualquer conotação negativa do espaço-cidade, apenas a sua geometria impecável e a sua brancura – “a brancura do sal sobe pelas escadas”, como uma imagem meditativa, pictórica, parada no tempo

O poema de abertura do livro Navegações tem como título “Lisboa”. Deveria ser o ponto de partida para as navegações, se a sequência fosse lógica. É, todavia, o ponto de chegada do sujeito lírico, regressando do Sul. Lisboa é a cidade da indefinição de “ser e não-ser”, a cidade do vazio e da ausência- “cruelmente construída ao longo da ausência”-. È o dizer do poeta que a vivifica, ou seja, é a palavra transmutada em poesia que condensa a expressão do que é Lisboa. – “porque digo” (50).

No livro Ilhas, Veneza é evocada na plasticidade das suas imagens, está votada à perdição porque não vive, vai morrendo – “ o não-vivido/ que caminha destinado a ser perdido (51). Barcelona, pelo contrário, fulge e brilha com luz e cor, como “luz, sol e pintura” (52).

A poesia de Sophia, aberta a espaços da América Latina, de África e Ásia, privilegia o espaço da cidade de Brasília, a cidade jovem que concilia o rigor geométrico com o cosmopolitismo, o ecumenismo, a perfeição da arquitectura, a vibração da vida do Outro, a abertura para um futuro que, como no pensamento utópico, seja instaurador de justiça, despojo e beleza, filtrados pela alquimia da palavra de Sophia:

Brasília
Desenhada por Lúcio Costa Niemayer e Pitágoras
Lógica e lírica
Grega e brasileira
Ecuménica
Propondo aos homens de todas as raças
A essência universal das formas justas
Brasília despojada e lunar como a alma de um poeta muito jovem
(53)

A cidade de Lagos é também espaço de nitidez e brancura, nostalgia, identificação, de um projecto poético individual e colectivo – “acorda em mim a nostalgia de um projecto/ racional, limpo e poético” (54). Lagos é ainda símbolo de aprendizagem da vida próxima do concreto, do quotidiano:


Lagos onde aprendi a viver rente
Ao instante mais nítido e recente
(55)

É também simbolo de um país de espera e promessa, o espaço do dom de nascer e conhecer a luz:

Foi um país que eu encontrei de frente
Desde sempre esperado e prometido
Um puro dom total de ter nascido
E o sol reinava em Lagos transparente
(56)

A cidade de Lagos é o ponto de partida, na Arte Poética I, para a meditação sobre a limpidez, o rigor, a realização, a vivência e a beleza poética- não estética-, a da poesia.

É possível encontrarmos uma cúpula da espaço-cidade, na obra de Sophia de Mello Breyner. Cúpula porque o espaço-cidade pode ser um espaço propício ao motus animi continuus, ao movimento contínuo e ascendente do espírito, à elevação do espírito humano, identificável com a oração, a peregrinação interior, eventualmente aliada ao espaço físico de peregrinação, exigindo humildade. O poema São Tiago de Compostela condensa essa aspiração à peregrinação como procura de um sentido na viagem da vida, a aspiração suprema de que a poesia seja caminho de ascenso para o espírito – “ante o voo da ave do espírito”-:

Assim pudesse o poema
Como a pedra esculpida
Do pórtico antigo
Ter em si própria a mesma
Compacta alegria
Cereal claridade

Ante o voo da ave
Do espírito que ergue
Os pilares da nave
(57)

CONCLUINDO

Artes poéticas, aedos e cidades convergem, atravessam espaços e fazem ascender o espírito, na obra de Sophia de Mello Breyner, no processo de transmutação da palavra em poesia, quer em verso, quer em prosa poética.

O espaço-cidade é realidade e símbolo da vida do homem português e do homem contemporâneo, do mundo civilizacional, na sua agonia, nas contradicções, no afastamento de um destino primordial, da vida, do reino. Sophia cultiva a consciência da negatividade e a globalidade positiva de esperança e procura de coerência, libertação, nitidez e abertura para a realização individual e colectiva, interior e exterior, não esquecendo também a abertura e ecumenismo extensivos a outros povos e outras culturas, na sua ancestralidade e contemporaneidade. Na sua obra permanece um projecto de um futuro “limpo e poético”.

O presente e o futuro poético pode ser reactualizado, na obra de Sophia, pela escuta da palavra perdida, rouca, perdida ou reencontrada, não raro no vento ou no caos, para ser transmutada em poesia pelo sujeito lírico ou o narrador da prosa poética, atentos ao sofrimento do homem e ao esplendor e beleza do cosmos. Presente e futuro reactualizado no peregrinar da palavra, para subir transmutada, acompanhando a “ave do espírito”, palavra peregrina.

Há que continuar a escuta, a peregrinação como viagem com um sentido de renovação interior, a vida, a aliança, o reino, com pausas meditativas de silêncio, do caos para o cosmos, da divisão para a justiça e a união, preservando a unicidade interior, o respeito pela vida, o deslumbramento perante a beleza, a procura de luz, no quotidiano, no agora com sabor de eternidade.


NOTAS

(1) Este texto apresentado ao III Colóquio “Discursos e Práticas Alquímicas” inclui uma meditação sobre a transmutação da palavra em poesia, na obra de Sophia, retomando as Artes Poéticas, os aedos que figuram na sua obra e que, pela sua presença, entre outros espaços, no espaço-cidade, fizeram ponte para o nosso estudo escrito em 78-79, em Rouen e Sintra sobre “O espaço-cidade na obra de Sophia de Mello Breyner” pré-publicado, em texto policopiado, no final da antologia - Sophia de Mello Breyner - de textos de apoio a professores e alunos do 12º ano, pelo Ministério da Educação e Cultura, Lisboa,1986 (assina Helena Santos),estudo esse que aglutinámos e actualizámos na presente publicação. O leitor encontrará, neste conjunto que harmonizámos, uma experiência de leitura como caminho, encontro e reencontro com a palavra. Para não alongarmos o espaço de publicação neste volume colectivo, optámos apenas por citar textos, transcrever apenas algum verso ou frase de Sophia que considerámos imprescindível. Os textos são citados das edições de Sophia: Obra Poética I, II e III, Caminho, 1997 e 1998, Musa, Caminho, 1995 e O Búzio de Cós e outros poemas, Caminho, 1997, Contos Exemplares, Lisboa, Portugália. O nosso agradecimento aos organizadores do colóquio pela publicação deste nosso ensaio.

(2) Obra Poética III, p. 93

(3) Obra Poética III, p. 95

(4) Sophia M.B.Andresen, Poesia e Realidade, in Colóquio Letras e Artes, nº 8, Abril,1960

(5) Sophia M.B. Andresen, Arte Poética III, in Antologia, 4ª edição, Lisboa, Moraes, 1978, pp.233-235

(6) Idem, ibidem

(7) Dante, Divina Comédia, último verso

(8) Sophia M.B. Andresen, Arte Poética III, in Antologia, 4ª edição, Lisboa, Moraes, 1978, pp 233-235

(9) Idem, ibidem

(10) Sophia M.B.Andresen, Arte Poética V, Obra Poética III, p. 349

(11) Sophia M.B. Andresen Arte Poética IV, Obra Poética III, p. 166

(12) Sophia Andresen, Arte Poética IV, Obra Poética III, p. 167

(13) Recorde-se a expressão “atenta como uma antena”, in Arte Poética II, Obra poética III, p. 95

(14) Sophia Andresen, Arte Poética V, Obra Poética III, p. 349

(15) Sophia Andresen , Arte Poética IV, Obra Poética III, p. 167

(16) Sophia Andresen, Arte Poética IV, Obra poética III, p. 167

(17) Idem, ibidem.

(18) Obra poética III, p. 231

(19) Sophia M.B. Andresen, Contos Exemplares

(20) A Palavra, in Obra Poética III, p. 210

(21) Arte Poética V, in Obra Poética, p. 239

(22) Leia-se a parte final do conto Homero, in Contos Exemplares

(23) Veja-se Arte Poética I , in Obra Poética III, p. 94

(24) Poema São Tiago de Compostela, in Ilhas, Obra Poética III, p. 298 . Recordemos, a este propósito, o ensaio de José Augusto Mourão sobre semiótica do espaço, intitulado “ Semiótica do Espaço – O “Anjo” de Sophia, in Colóquio Letras, nº 74, Julho de 1983

(25) Veja-se, a este propósito, Helena Santos, “Sophia de Mello Breyner: uma leitura de Grades”, in Brotéria, Lisboa, 1982.

(26) In Obra Poética I, p. 27

(27) In Obra Poética I, p. 64

(28) In Obra Poética III, p. 247

(29) In Obra Poética III, p. 102

(30) In Obra Poética II, pp. 50-52

(31)“ Longe o marinheiro tem/uma serena praia de mãos puras/Mas perdido caminha nas obscuras/ruas da cidade sem piedade”, Marinheiro sem mar, vv.1-4, in Obra Poética II, p. 50

(32) Obra Poética II, pp. 50-52

(33) Vide Helena Santos (a mesma autora do presente ensaio), “Sophia de Mello Breyner: uma leitura de Grades”, Brotéria, Fev.82

(34) Vide, por exemplo, o poema Minotauro, Obra Poética III, p. 218

(35) Vide o texto Grutas, in Mar-Poesia, Lisboa,Caminho, 2001, pp. 38-39

(36) Vide Helena S.C. Langrouva, ȁ Mar-Poesia de Sophia de Mello Breyner : Poética do Espaço e da Viagem” , Brotéria, Lisboa,Maio-Junho e Julho de 2002

(37)

(38) Obra Poética

(39) Vide Helena Santos, “ Sophia de Mello Breyner: uma leitura de Grades", in Brotéria, Fevereiro de 1982

(40) Vide poema “ Cidade dos Outros”, in Geografia, Obra Poética

(41) Vide O nome das coisas, in Obra Poética III, p. 218.

(42) Vide Cristo Cigano, Lisboa, Moraes

(43) “Camões e a tença”, Obra Poética III, p. 162. Vide o referido artigo de Helena Santos; “Sophia de Mello Breyner: uma leitura de Grades", Brotéria, Lisboa, 1982

(44) in Contos Exemplares

(45) Lisboa, Moraes, 1978, p.II

(46) Poema “Babilónia”, Livro Sexto, Obra Poética II

(47) In O nome das coisas, Obra Poética III, p. 186

(48) Na cidade da realidade encontrada, in Mar Novo, Obra Poética II

(49) In Geografia, Obra Poética III, p. 13

(50) In Navegações, Obra Poética, Obra Poética III, p.247

(51) In Ilhas, Obra Poética III, p. 297

(52) In Ilhas, Obra Poética III, p. 301

(53) In O nome das coisas, Obra Poética III, p. 80

(54) In O nome das coisas, Obra Poética, p. 193

(55) In O nome das coisas, Obra Poética III, p. 211

(56) In O nome das coisas, ibidem

(57) In Ilhas, Obra Poética III, p. 298