Revista TriploV de Artes, Religiões e Ciências

Direção|Maria Estela Guedes & Floriano Martins

PÁGINA INDEX Número 04|Março de 2010

NÚMERO 04

Março de 2010

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Linaldo Guedes

IkaRo MaxX:

Poeta, solteiro, vagabundo, amante, cosmopolita

Nascido em um trabalho de parto doloroso o embrião do futuro poeta já mostrou pra que veio ao mundo. Desde cedo, hiperativo, rapidamente desaparecia & devorava o mundo que lhe entrava por todos os sentidos. Aos 3 anos de idade, depois de uma repreensão severa de sua mãe, subiu em cima do centro da sala & deixou uma “surpresinha” em cima. Foi seu primeiro ato de vandalismo. Desde então depois de tantas mudanças de bairro em João Pessoa começou a freqüentar uma escola na Torre onde sofreu vários tipos de perversidade entre seus semelhantes. Entre uma surra ou outra uma pequena vitória aqui ou ali. A violência dos infantes desenvolveu no poeta a susceptibilidade do jogo, da artimanha & da inteligência necessária para sua sobrevivência. Foi por essa época que começou a esboçar por desenhos & canções que inventava no violão de seu pai os caminhos por onde se perderia pra sempre. A partir daí passou a adotar uma postura errante consciente, a se sentir & ver distinto da realidade que o cercava: nasceu o poeta, dissidente divino da Criação & reprodução patológica de valores. Começou escrevendo poemas em guardanapos & contas de bar criando uma nova atitude diante dos materiais para a criação poética. Documentava vivências & discorria filosoficamente sobre tudo. Daí surgiu seu primeiro livro-sacola chamado “Diário Infame de um promissor bêbado preguiçoso & aborrecido" & vários outros diários que mais tarde consideraria como inapropriados. Vagabundeou por várias cidades sempre invocando distúrbios maravilhosos, aplicando golpes & inventando farsas. Viveu muitas paixões & amores marcantes, violentos, sufocantes até encontrar a sombra perfeita do bosque do Amor. Enfrentou as durezas da estrada, a covardia humana nos becos, levou surras, aprendeu um bocado catando as migalhas dos sonhos esgotados nas ruas. Viveu como imigrante em Paris & Londres onde trabalhou feito cão. Conseguiu a publicação de um livro “Um Cristo cuspido no espelho do século” através de edital público em 2007, mas, recusa-se a ser enterrado num Mausoléu Literário onde, orgulhosos, se dizem imortais. Continua vivo, bem vivo, em movimento, buscando uma nova presa para inspirá-lo…

ÍkaRo MaxX é estudante do curso de Filosofia e tem apenas 24 anos. Lançou um livro – Um Cristo cuspido no espelho do século -, publicado pela Fundação de Cultura do Município, em 2007. Segundo conta, começou escrevendo poemas em guardanapos e contas de bar, criando uma nova atitude diante dos materiais para a criação poética. Documentava vivências e discorria filosoficamente sobre tudo. Daí surgiu seu primeiro livro-sacola chamado "Diário Infame de um promissor bêbado preguiçoso & aborrecido". Depois desse, vieram outros diários que mais tarde consideraria como inapropriados. Viveu como imigrante em Paris e Londres.

A poesia de Ícaro é muito influenciada pelos beatniks americanos. Aliás, a respeito disso, o poeta paulista Ademir Assunção, que conheceu ÍkaRo quando esteve em João Pessoa, fez o seguinte depoimento sobre o poeta paraibano. "Roberto Piva vive dizendo que eu e Jotabê Medeiros somos os últimos beatniks. Porque gostamos de botar o pé na estrada. Piva é exagerado — como Cazuza. Beatnik é o garoto, poeta, que conheci em João Pessoa: ÍkaRo MaxX. Completamente chapado. Um vulcão de poesia. Uma mistura de Neal Cassady com Arthur Rimbaud. Naquela base: louco pra falar, louco pra viver… Numa leitura de poemas na livraria Cultura, em Recife, ele disse ao microfone que leria um poema chamado As Estupradas. Soltou uns urros terríveis. Depois se sentou na platéia e riu como um moleque endiabrado."

De fato, ÍkaRo é totalmente imprevisível no palco. Performático, sobre consegue surpreender o público em suas apresentações.

 

IkaRo MaxX

 

ponto final

Comprimo entre seus seios

reticências silenciosas

anseios

mármore quente lubrificado

regado por oceanos salivares

erodindo entre as constelações de sinais

magma branco de minha rocha

seu sorriso sacana

Nos poros meigos de teus beijos

preenchendo seu bocejo

uma tocha de veias

uma agonia dos infernos

& o prazer de mil venenos

te dá meu dardo do amor

vejo que agora jazes

película branca & nua

uma lua rasgada em minha cama

fecho meus olhos

Você acha que iríamos assim

ao paraíso

sem um ponto final?

 

querido incesto

E os cantos feridos da primavera?

não foi por aí que esquecemos nossas cabeças

entre pigarros dos pesadelos?

Ah… devassidão que me arvora em anjo!

Como nos torneios de tormentas

todos os cacos dos alarmes feitos em pó

para aspirações matinais

E diluído os cordões

as barcas apontando para a ida inabalável

e a lama seca nos calcanhares como lembranças da selva

de nossos corações entrelaçados pela boca

Sarjeta admirável… ruas escandalosas, danças, tumores

e devires renegados

numa miscelânea grande demais para nós… corpos abandonados ao vento

desestruturados de todo pensamento bondoso…

Claro… a guerra foi declarada…

e aos últimos pingos de estrelas

misturamos saliva & areia

membros eretos irrompendo os céus

como uma alucinação imprevista

palavras defeituosas escrevendo suas belas blasfêmias nas telas em branco do mundo

em carícias & delitos

dissipados

nos poros do mundo

 

procriação

a fagulha das penumbras queimam na última hora

deixando escorrer o escárnio daquelas senhoras santas

que sonharam tanto um dia serem

como a virgem Maria

pregada numa imaculada vitrine

enquanto suas saias soltam centelhas

de filhos santos abortados pelos homens

& na margem final das contas

onde os números acumulam cenas

os olhos vermelhos dos casais desconsolados

miram no filho a única iguaria leviana em todo a Eternidade

atrás das paredes batem asas os pensamentos

os talhares dispostos para mais uma ceia

o batom entalhado na face usada de uma mulher de bem

e as velas queimando um último décimo de decência

inalada juntamente aos gases horríveis

da mãe que morre em sua poltrona preferida…

 
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