Nascido
em um trabalho de parto doloroso o
embrião do futuro poeta já mostrou
pra que veio ao mundo. Desde cedo,
hiperativo, rapidamente desaparecia
& devorava o mundo que lhe entrava
por todos os sentidos. Aos 3 anos de
idade, depois de uma repreensão
severa de sua mãe, subiu em cima do
centro da sala & deixou uma
“surpresinha” em cima. Foi seu
primeiro ato de vandalismo. Desde
então depois de tantas mudanças de
bairro em João Pessoa começou a
freqüentar uma escola na Torre onde
sofreu vários tipos de perversidade
entre seus semelhantes. Entre uma
surra ou outra uma pequena vitória
aqui ou ali. A violência dos
infantes desenvolveu no poeta a
susceptibilidade do jogo, da
artimanha & da inteligência
necessária para sua sobrevivência.
Foi por essa época que começou a
esboçar por desenhos & canções que
inventava no violão de seu pai os
caminhos por onde se perderia pra
sempre. A partir daí passou a adotar
uma postura errante consciente, a se
sentir & ver distinto da realidade
que o cercava: nasceu o poeta,
dissidente divino da Criação &
reprodução patológica de valores.
Começou escrevendo poemas em
guardanapos & contas de bar criando
uma nova atitude diante dos
materiais para a criação poética.
Documentava vivências & discorria
filosoficamente sobre tudo. Daí
surgiu seu primeiro livro-sacola
chamado “Diário Infame de um
promissor bêbado preguiçoso &
aborrecido" & vários outros diários
que mais tarde consideraria como
inapropriados. Vagabundeou por
várias cidades sempre invocando
distúrbios maravilhosos, aplicando
golpes & inventando farsas. Viveu
muitas paixões & amores marcantes,
violentos, sufocantes até encontrar
a sombra perfeita do bosque do Amor.
Enfrentou as durezas da estrada, a
covardia humana nos becos, levou
surras, aprendeu um bocado catando
as migalhas dos sonhos esgotados nas
ruas. Viveu como imigrante em Paris
& Londres onde trabalhou feito cão.
Conseguiu a publicação de um livro
“Um Cristo cuspido no espelho do
século” através de edital público em
2007, mas, recusa-se a ser enterrado
num Mausoléu Literário onde,
orgulhosos, se dizem imortais.
Continua vivo, bem vivo, em
movimento, buscando uma nova presa
para inspirá-lo…
ÍkaRo MaxX é estudante do curso de
Filosofia e tem apenas 24 anos.
Lançou um livro – Um Cristo cuspido
no espelho do século -, publicado
pela Fundação de Cultura do
Município, em 2007. Segundo conta,
começou escrevendo poemas em
guardanapos e contas de bar, criando
uma nova atitude diante dos
materiais para a criação poética.
Documentava vivências e discorria
filosoficamente sobre tudo. Daí
surgiu seu primeiro livro-sacola
chamado "Diário Infame de um
promissor bêbado preguiçoso &
aborrecido". Depois desse, vieram
outros diários que mais tarde
consideraria como inapropriados.
Viveu como imigrante em Paris e
Londres.
A poesia de Ícaro é muito
influenciada pelos beatniks
americanos. Aliás, a respeito disso,
o poeta paulista Ademir Assunção,
que conheceu ÍkaRo quando esteve em
João Pessoa, fez o seguinte
depoimento sobre o poeta paraibano.
"Roberto Piva vive dizendo que eu e
Jotabê Medeiros somos os últimos
beatniks. Porque gostamos de botar o
pé na estrada. Piva é exagerado —
como Cazuza. Beatnik é o garoto,
poeta, que conheci em João Pessoa:
ÍkaRo MaxX. Completamente chapado.
Um vulcão de poesia. Uma mistura de
Neal Cassady com Arthur Rimbaud.
Naquela base: louco pra falar, louco
pra viver… Numa leitura de poemas na
livraria Cultura, em Recife, ele
disse ao microfone que leria um
poema chamado As Estupradas. Soltou
uns urros terríveis. Depois se
sentou na platéia e riu como um
moleque endiabrado."
De fato, ÍkaRo é totalmente
imprevisível no palco. Performático,
sobre consegue surpreender o público
em suas apresentações. |
Comprimo entre seus seios
reticências silenciosas
anseios
mármore quente lubrificado
regado por oceanos salivares
erodindo entre as constelações de
sinais
magma
branco de minha rocha
seu
sorriso sacana
Nos
poros meigos de teus beijos
preenchendo seu bocejo
uma
tocha de veias
uma
agonia dos infernos
& o
prazer de mil venenos
te dá
meu dardo do amor
vejo
que agora jazes
película branca & nua
uma
lua rasgada em minha cama
fecho
meus olhos
Você
acha que iríamos assim
ao
paraíso
sem
um ponto final? |
E
os cantos feridos da primavera?
não
foi por aí que esquecemos nossas
cabeças
entre
pigarros dos pesadelos?
Ah…
devassidão que me arvora em anjo!
Como
nos torneios de tormentas
todos
os cacos dos alarmes feitos em pó
para
aspirações matinais
E
diluído os cordões
as
barcas apontando para a ida
inabalável
e a
lama seca nos calcanhares como
lembranças da selva
de
nossos corações entrelaçados pela
boca
Sarjeta admirável… ruas
escandalosas, danças, tumores
e
devires renegados
numa
miscelânea grande demais para nós…
corpos abandonados ao vento
desestruturados de todo pensamento
bondoso…
Claro… a guerra foi declarada…
e aos
últimos pingos de estrelas
misturamos saliva & areia
membros eretos irrompendo os céus
como
uma alucinação imprevista
palavras defeituosas escrevendo suas
belas blasfêmias nas telas em branco
do mundo
em
carícias & delitos
dissipados
nos
poros do mundo |
a
fagulha das penumbras queimam na
última hora
deixando escorrer o escárnio
daquelas senhoras santas
que
sonharam tanto um dia serem
como
a virgem Maria
pregada numa imaculada vitrine
enquanto suas saias soltam centelhas
de
filhos santos abortados pelos homens
& na
margem final das contas
onde
os números acumulam cenas
os
olhos vermelhos dos casais
desconsolados
miram
no filho a única iguaria leviana em
todo a Eternidade
atrás
das paredes batem asas os
pensamentos
os
talhares dispostos para mais uma
ceia
o
batom entalhado na face usada de uma
mulher de bem
e as
velas queimando um último décimo de
decência
inalada juntamente aos gases
horríveis
da
mãe que morre em sua poltrona
preferida… |