Ressonância / Claudia Freire

DIMI ÉTER
Poeta e músico, autor dos livros Eróticos Anônimos, Volupia e Tripstease


Tomei contacto com a poesia de Claudia Freire em 2011, ano em que passei a publicar alguns poemas breves dela em meu blog.

Não eram necessariamente haicais, mas poemas da tradição oswaldiana, curtos, para breve deleite, com ironias e belezas que atingem em cheio o leitor mais atento, ficando assim, com vontade de quero mais.

Eis que em 2019, a Edtora Urutau, que vem revolucionando o mercado editorial na área de poesia, nos brinda com o livro “Ressonância”, desta já madura poeta, Claudia Freire, simplesmente debutando em livro.

O livro é dividido em 4 partes, onde os temas são a morte, o delírio, o cotidiano e a contemplação. Aqui, a poesia da Claudia dá um passo além, pois a poeta soube muito bem distribuir seus poemas, contribuindo para o entendimento de quem o vai ler.

Se um leitor se sente estimulado, desassossegado, emocionado, quer dizer que a poesia cumpriu sua função, pois o poeta sugere e o leitor organizando seus sentidos, sente-se também autor, apropriando-se daquelas palavras, num pertencimento daquele universo poético.

Essa, para mim, foi a lança certeira de Claudia Freire, pois “Ressonância”, com seus poemas concisos, repercute na gente, de modo a nos deixar estimulados e supresos, com a beleza e a crueza dos seus versos, atingindo num primeiro momento, olhos e ouvidos.

Suas ansiedades e apelos, desencontros e encontros, indagações e afirmações, tudinho em versos, não vieram ao livro para explicar, mas sim para explicitar suas sugestões em níveis de ambiguidade e finíssima poeticidade.

Isso é coisa de quem leu os grandes poetas dos últimos, no mínimo 150 anos, a chamada poesia moderna e contemporânea.

É coisa de quem tem paixão pelo inexplicável e envolve-se nessa complexidade, afinal, como disse Pessoa, “poesia é a arte do sonho”.

Prometi para mim, antes de começar este texto, que não iria academizar falando de anáforas, “enjambement”, aliterações, nem contar sílabas dos versos, classificá-los e etc…Prometi-me também, não dar nenhum “spoiler” e ficar tentando em vão contar o livro.

Porém, como também sou fingidor, digo que ela escreveu: “o poeta é uma mal traçada linha / que está por um fio”. Ela também nos brindou com : “a esta hora do velório / já nem me lembro quem era o morto”. Ou essa: “eu te antebraço / tu me molda / feito argila no torno”.

Mais, não falo. “Ressonância”, tem muito mais, tem gírias modernas, tem quotidianidade, tem expressões em inglês, num belíssimo português.

É livro altamente recomendável…e recomendo sua leitura, ao som de um finíssimo jazz.

Com certeza, vai repercutir!

Ressonância / Claudia Freire
Editora Urutau
Espanha / Brasil
2019


DIMI ÉTER