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::::::::::::::::::::Pedro Proença::::
O IRRECONHECÍVEL
Soneto XVII

O que é que pode interromper os olhares dos amantes?

O retorno do amor, como uma curiosidade que perturba as evidências maduras.

«No amargamento da ausência àcida...» este princípio de frase leva-me a pensar em cacau, já que não lhe encontro outro emprego barroco.

Os empregos dão vontade de abalar.

Encarar toda a demanda intelectual, com o seu rol de perguntas picantes, como umas tapas.

Os seus casos supõem um certo servilismo maroto.

Se está feliz, será que vale mesmo a pena rectificar-se?

Tolo é quem ama, pois dá um emprego bárbaro à sua vontade – diz o carrasco.

O amor renova-se nas trevas. Como quase tudo.

Vais afiando a tua capacidade de manipulação, amolando determinadas palavras para que os seus infimos cortes venham a ser precisos.

Amada sejas, e assim mereças a fome que garante a graça, e sejas a luz que recheia as insuficiências do amante.

Temo a uniformidade mais que a morte.

Somos prisioneiros da abundância, do excesso de nos termos e de nos querermos vir a ter, como um amanhã sobrepovoado de mil e uma delícias.

Acelera a tolice até que esta atinja a velocidade da sabedoria amorosa.