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::::::::::::::::::::Pedro Proença::::
O IRRECONHECÍVEL
Soneto XIV

À velocidade sobrevoada de nenhum movimento eu saberei. Mas sem porquês.

É a evidência de um ritmo, cardiaco ou não, que sustenta os desejos. Por isso só os pode combater o som grave e contínuo. De onde se deduz, como sempre, que o Eros habita sobretudo o coração.

Aperfeiçoamento do amor? Está sendo feito? Meigas impetuosidades? Teme a temperatura do congelador.

Seus olhos ociosos procuram na secagem do corpo a bulímica chave que desvendará enigmas imprevisiveis.

Quando encurralada ainda és mais doce.

Fica-se mais moreno depois da torradeira.

O brilho das joias imita o brilho dos corpos dos deuses. Por isso há criaturas que passam horas no toucador encenando a única possibilidade de imortalidade.

O que ocultamente nossa pele veste é uma comicheira que se prepara para desabroxar no ponto da dança.

Enclausuras-te representando papéis salomónicos porque sabes que o teu orgulho é apropriado para tanta soberba.

Venturoso o que apreço dá ao espaço!

Para triunfar há que, também, saber não esperar.

O lobo de que és feito busca a ovelha de que serás desfeito.

Saturamo-nos de sombras que serão madrastas de outros milhões de sombras.

Há na palavra Harpia harmónicos ácidos que tornam evidente que a harpa não é mais que uma máscara, e que todo o som dedilhado procura alvos fatais.