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::::::::::::::::::::Pedro Proença::::
O IRRECONHECÍVEL
Soneto XII
 

Quando verás a gordurosa fronha dos teus defeitos? Cativas para que te mostrem essa mediocridade que procura clemência?

O luxo do amor molda o resultado de qualquer soma, seja de carne, seja de espirito.

Respeitos recomendados, sentimentos remendados.

Era necessário livrar-se com suavidade das razões da gravidade estabelecida.

Com o tempo o abscôndito deserta de mim num desacerto de eurudição. E regressa como superação da ciência e da estupidez.

As memórias que se publicam são como as meretrizes. Nem sequer é preciso explicar porquê.

Arreia porrada pequena, arreia porrada! Que a vida é injusta porque cometeremos crimes mesmo que estes não o sejam – somos culpados de uma violência a que a natureza de todos os modos obriga. A fuga a esta culpabilidade ainda é mais criminosa?

Com mão pesada chicoteio os cavalos de corrida do destino nesta viagem em que o cansaço já está envelhecido.

Extremidades ducteis onde se encontram amigos extremosos.

Há uma besta em que me vou transformando, que é a moda (e não o modo) de me mudar no que não sou.

Devém contra qualquer fatalidade.

O dente retorse-se na boca sangrento incapaz de morder as gengivas. Durante anos roí os lábios como se este roer fora a evidência de uma sublimidade pictórica.

Cansado de meus prantos levo-os no entanto bem para lá da exaustão como se entrasse noutros espaços, que se afastam das florestas nocturnas onde nos aguardam os antepassados.

Maldita a hora em que deus fabricou, para nosso temível espanto, as pragas.