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::::::::::::::::::::Pedro Proença::::
O IRRECONHECÍVEL
Soneto V
 

A curva do cisne dá fome de licenciosidades.

Os pensamentos de amor são um excelente entretenimento.

Não quero ser iludido pelo amargo, mas não me importaria com uma pequena dose de àcido.

O que é recatado, mesmo depois de peneirado, remanesce.

Todos meus amores nada mais fizeram do que a imprudência de se deixarem engolfar numa análise soberana, mas complexamente imperfeita.

O que é que precede qualquer atracção mútua?

Somos cromos demasiado coleccionáveis para a vossa caderneta, por mais franco que seja esse amor que generosamente distribuis...

Na ambiguidade afável do teu regaço me recolheste. Embora não te possa responsabilizar pelas raias da alteridade...

Considera a anémona como uma amnésica suserana.

Acabarás sempre por te comprometer com a premeditação dos astros ou com alguma loucura de origem divina.

Se a criatura excêntrica no mais oculto dos seus sinónimos te aguça o gosto pelo intencional, entrega-te numa não-intencionalidade que te robusteça.

Com que é que a recusa ombreia?

Posso perdoar ao ladrão vil furto, se ele for delicado, mas o que és rouba-me até o espólio resumido e húmido de toda a minha pobreza.

O irreconhecível sabe-se maleita de desnaturada grandiloquência. Carrega o erro que deseja.