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Pedro Proença......

DO AMOR E MUITO MAIS OU O ASSENHORAMENTO DOS SONETOS SEGUNDO SONIANTONIA & SANDRALEXANDRA : INDEX

POLITONALIDADES VERDES

Fitas o zodiaco com ganâncias de alquimista só para enganares os anos – os signos abanam o teu orgulho – e entras numa beleza muito agitada como num refrescante barulho.

Para seres a floresta onde rejuvenescemos terás que verdamente arder.

O instante perverte a beleza porque abole os contornos da figura em favor da concentração – assim as formas se dissolvem no brilho de quem se entrega ao olhar – e tudo o mais é subterraneo ornamento.

Maquilho porque quero partilhar ilusões, como as páginas com frontões das seiscentistas iconologias – é certo que falseio o que é conceito, fazendo-o pastar sem mansidão em selvas de metáforas.

Sou idólatra, pois amo sobretudo o que se dá a ver, adoravelmente – como sumérias deusas que deixam o sexo descoberto na sombra bem fresca de uma palmeira.

Farfalhudas venturas, folhosas excelências, frases que balançam na verdura fremente de algo rocaille...

Não partilho as sádicas jouissances de Juliette – a crueldade é vertigem de um teísmo que se despe apressadamente de deus, sem se despedir dos seus recursos – e eu há muito que moro numa politonalidade hedonista.

Eu não exprimo a beleza como quem a leva a passear de coleira a uma salada poética algo hermética – quando penso nos membros desmembro-me – a mão, o pé, as unhas, o corpo venusiano, a testa que desce até ao olho, e o nariz como um pico que me muda os quereres, e as covas que se inclanam para me darem a satisfação de me querem.

A actualidade arregala-me – a moda, na sua hábil incoerência, é como uma profecia consumada – é ela que me dá uma sofreguidão membranosa.

A montanha pariu escamosos medos, e o mundo alargou-se em arredores otomanos onde posso amolecer almofadadamente em drogas arábicas.

Incertezas balsâmicas – provadas uma a uma, como aperitivos tomados nos momentos em que apetece.

A morte subscreve insultos, mas livra-nos de uma velhice em que não cessamos de repetir juvenis façanhas com uma melancolia podre.

Sítios do Autor

http://www.sandraysonia.blogspot.com/ 
http://juliorato.blogspot.com/ 
http://www.pierredelalande.blogspot.com/
http://www.tantricgangster.blogspot.com/
http://www.budonga.blogspot.com/
http://www.renatoornato.blogspot.com/
PEDRO PROENÇA. Nascido por Angola (Lubango) pouco depois de rebentar a guerra (1962), veio para Lisboa em meados do ano seguinte, isso não impedindo porém que posteriormente jornalistas lhe tenham descoberto «nostalgias» de Áfricas. Fez-se rapaz e homem por Lisboa, meteu-se nas artes e tem andado em galantes exposições um pouco por todo o mundo, com incidência particular no que lhe é mais próximo. O verdadeiro curriculum oficial mostra muita coisa acumulada com alguma glória e devota palha. Tem ilustrado livros para criancinhas e não só, não porque lhe tenha dado ganas para isso, mas porque amigos editores lhe imploraram. Também publicou uma estória entre as muitas de sua lavra (THE GREAT TANTRIC GANGSTER, Fenda, em edição que, por estranhos motivos, foi retirada de circulação), um livro muito experimental de ensaios (A ARTE AO MICROSCÓPIO, também da Fenda) e um grosso livro de poemas comentados com imagens (O HOMEM BATATA, editado pelo Parque das Nações). Compõe, mediocramente, musica no seu computador, e é um yogui quase consumado.

Pedro Proença. Born Lubango, Angola, 1962. With an exhibition in the Roma e Pavia Gallery in Oporto, at the end of the 80's he begins, a cycle of installations which have continued until today, and make up a work in progress. These works, which use such poor materials as indian ink drawings on paper, are structured according to previous architectures or constructions which emphasise the multiplication of the dynamic planes of framing. In this decade he has exhibited paintings which complement these installations, aiming at serialising the "plurality of the subject", and permanently responding to questions in the artistic field (current ones or uncurrent ones), to which he cannot remain passive. As it is known that he is also engaged in a literary activity which is beginning to be published, his works should be seen as a coming-and-going within this controversial space which confronts images with words, either as "allegorical appearances" or as "narrative possibilities".