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Pedro Proença......

DO AMOR E MUITO MAIS OU O ASSENHORAMENTO DOS SONETOS SEGUNDO SONIANTONIA & SANDRALEXANDRA : INDEX

A PROFANAÇÃO DO FEIO

Só é divina a vida que se vai fazendo profanada.

Mais do que escorraçadas escarra-nos a Fortuna. A Fortuna desampara-nos de todos os confortos para nos devolver à riqueza que é o corpo na sua rigorosa carnalidade pouco franciscana.

É mais fácil passar sem a verdade do que sem a confiança, embora se possa e até deva perder esta para a renovar de um modo insensato. Voltamos a iludir-nos como se nascessemos de novo.

A beleza procura a sua injúria, já que esta é a prova de uma inveja. A estética do feio é um momento refutativo em que o belo é cultivado numa surpreendente forma de pudor.

Ao «Feio» não é alheia nem a prostituição nem o sublime – embora pareçam polos opostos estes conjugam-se num experiência de entrega e intensidade, por mais «falsos» ou «verdadeiros» que se possam parecer. A prostituição é a aparência mercantil e necessária do sublime.

A sagacidade, mais que um dote, é uma arma e um mote.

As equações amorosas são imperfeitas – nenhuma situação nos resolve de acordo com a plenitude que promete... a não ser que esta seja uma plenitude do sofrimento.

A reciprocidade desequilibrada entre os amantes faz surgir uma sensação grotesca de ingratidão – o que não deixa de ter graça.

O tigre coxo incita à compaixão porque há nele a possibilidade de maximizar a potência.

Tentas recolher-te na sombra porque esta te dá a sensação de que há uma elasticidade das substâncias.

A abundância tornou-se uma atribulação na gestão do sujeito – numa sociedade pequena e fechada poderiamos contentar-nos com os nossos limites porque desconheciamos a capacidade de variação. A vertigem da variedade subjectiva é uma permissa que deveria ser sociológica. Embora ainda sejamos inábeis para gerir tal abundância.

A fachada encerra a glória em superfícies inacessíveis – não há glória interior que mereça o aplauso da história.

O olhar procura outro olhar no qual possa diluir o apelo narcísico – e quem sabe encontrar uma felicidade, como quem encena a negação tricotada de um deus abscôndito.

Sítios do Autor

http://www.sandraysonia.blogspot.com/ 
http://juliorato.blogspot.com/ 
http://www.pierredelalande.blogspot.com/
http://www.tantricgangster.blogspot.com/
http://www.budonga.blogspot.com/
http://www.renatoornato.blogspot.com/
PEDRO PROENÇA. Nascido por Angola (Lubango) pouco depois de rebentar a guerra (1962), veio para Lisboa em meados do ano seguinte, isso não impedindo porém que posteriormente jornalistas lhe tenham descoberto «nostalgias» de Áfricas. Fez-se rapaz e homem por Lisboa, meteu-se nas artes e tem andado em galantes exposições um pouco por todo o mundo, com incidência particular no que lhe é mais próximo. O verdadeiro curriculum oficial mostra muita coisa acumulada com alguma glória e devota palha. Tem ilustrado livros para criancinhas e não só, não porque lhe tenha dado ganas para isso, mas porque amigos editores lhe imploraram. Também publicou uma estória entre as muitas de sua lavra (THE GREAT TANTRIC GANGSTER, Fenda, em edição que, por estranhos motivos, foi retirada de circulação), um livro muito experimental de ensaios (A ARTE AO MICROSCÓPIO, também da Fenda) e um grosso livro de poemas comentados com imagens (O HOMEM BATATA, editado pelo Parque das Nações). Compõe, mediocramente, musica no seu computador, e é um yogui quase consumado.
 

Pedro Proença. Born Lubango, Angola, 1962. With an exhibition in the Roma e Pavia Gallery in Oporto, at the end of the 80's he begins, a cycle of installations which have continued until today, and make up a work in progress. These works, which use such poor materials as indian ink drawings on paper, are structured according to previous architectures or constructions which emphasise the multiplication of the dynamic planes of framing. In this decade he has exhibited paintings which complement these installations, aiming at serialising the "plurality of the subject", and permanently responding to questions in the artistic field (current ones or uncurrent ones), to which he cannot remain passive. As it is known that he is also engaged in a literary activity which is beginning to be published, his works should be seen as a coming-and-going within this controversial space which confronts images with words, either as "allegorical appearances" or as "narrative possibilities".