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ANTÓNIO RAMOS ROSA

Não preciso aproximar-me com dois passos vacilantes

Não preciso aproximar-me com dois passos vacilantes
tenho ainda tempo de vos enviar um vislumbre
do fogo do meu rio
onde os animais se desalteram
onde as estrelas da noite ainda cintilam
e os frémitos dos pássaros agitam as cinzas e as pedras

Este rio tem o suor do meu sangue
mas também a luz frágil das minhas feridas
que desce os declives verdes
e ascende pelo espaço
entrando na nebulosa do vento
e indefinidamente
como a respiração do mundo
dissemina nos bairros o seu fogo vivo

Esse vislumbre vem de um país ferido
desconhecido
vem do homem que vos escreve
porque não tem qualquer mensagem para vos dar

O meu vislumbre
não é o sinal com um sentido
é um poema
que ninguém pode soletrar
como um abecedário
podem lê-lo claramente
à luz da sua claridade indefinível
As vossas portas hão-de ficar inteiras
mas este vislumbre será para vós inesquecível

 
De: "O Sol é Todo o Espaço", Escritor, Abril de 2002
 

Poemas

Na grande confusão
deste medo 
deste não querer saber 
na falta de coragem 
ou na coragem de 
me perder me afundar 
perto de ti tão longe 
tão nu
tão evidente 
tão pobre como tu 
oh diz-me quem sou eu 
quem és tu?