JOÃO GARÇÃO

FOTO DE ABRIL

O pai chegava tarde…A mãe e os avós
(que o mano era pequeno) estavam sempre comigo.
Então o pai chegava, perguntava da escola
perguntava das coisas que a mãe lhe sussurrava.

A escola era a Escola onde eu agora andava.
E a mãe pela manhã falava devagar
arranjava-me o lanche, chamava-lhe merenda
e eu ia no autocarro (sem o mano que tinha)

Eu não sabia de anos    só sabia de meses
- o que a mãe me ensinara e que na escola aprendia –
(o mano era pequeno!) eu jogava sozinho.
O pai que vinha tarde não jogava comigo.

E o pai que vinha tarde    mesmo se era Domingo
chegou perto da porta na manhã daquele dia.
Havia gente na rua    e gente que gritava
E na televisão     muitos desconhecidos.

E o pai depois daquilo     disse-me: anda jogar
Anda jogar meu filho    pois já não há fascismo.
E o pai que vinha tarde jogou comigo à bola
na rua da Amoreira    a rua pequenina

E a mãe chorou ao ver-nos    e eu não a entendia
a mãe que era só minha (e do mano que havia)
Eu sabia de meses    mas não sabia de anos
E jogava com o pai    pois já não há fascismo

A avó não gritava    Levava-me p’la mão
até ao autocarro    E para a Escolas eu ia
Sozinho ia p’rá Escola (o mano era pequeno…)
- E eu e o pai jogávamos quando eu de lá vinha

Jogávamos jogávamos – eu e o pai jogávamos
E o mano (era pequeno!) olhava sentadinho
E a mãe também por vezes nos olhava a jogar
Pois já não há fascismo    Pois já não há fascismo!

(Publicado em antologia com o nome de F.Frazão. O garoto/personagem obviamente cresceu e é hoje o triplóvico João Garção)