PEDRO DU BOIS

Breve apontamento sobre o (meu) equilíbrio

1

Trabalho alpinismo. Desdobro

penhascos e me faço tempestade

e neve. Complico escaladas

e despenco abismos. Sou república

e reinado: rei e vassalo. Plebeu

ensinado nos riscos da planície.

 

Escuto o instante abordável

das vozes ecoando pedras.

2

Feito borracha elastecida

sou bola ultimando forças

e o abafado aro penetrado.

 

Equilibro cores profetizadas.

 

A previsão se faz futura imagem

e no descolar do olho a contribuição

empobrece o óbice: desequilibrado

                            no esquecimento

                                onde me valem

                             horas de palavras.

3

Olhos tensos

          atentam

          sobre mim: o exército desvinculado

          de provações constitucionais

          batalha. Corto

                          a formação

                              acusada

                                 na admissão

                                    de quase nada.

 

Olhos eternos

                 tensos

                 povoam a liderança

                 e o oficial em uniforme

                 se vê compelido ao convite.

 

Estou certo do que vejo

exceto pelo garoto que mantenho em mim.

4

Atrás da porta

          escuto barulhos

                           vizinhos. Espio o corredor

                                          escuro.

 

              Dentro de mim mora

              o pensamento isento.

 

                      A vizinhança desequilibra

                      em raivas meus sofrimentos.

 

Escritos parcos e a mão se contrai

contra a maçaneta:

 

              a chave gira na morte.

 

                 A porta se abre

                 na luz. Adormeço.

5

Corrompido em águas paradas

assumo o costume de transformar

em verbos roubos consequentes:

não retorno ao jardim em inços

e formigas. Minha corrupção assume

o passivo ouvir das cigarras.

 

                    Minha força

                    desprovida

                    envelhece na escolha

                    do próximo

                                    alvo. 

6

Digo

sobre o aprendizado: a luz estelar

replica o confronto. Não me identifico

no desequilíbrio onde ostento

o segredo. Desvelo em olhos

a passagem e vejo o inimigo

recuar: na arena

                  animais

                   domesticados

                     oferecem seus pescoços

                      ao cutelo.

 

Sou da submissão o desenlace

das estrelas em novas armas.

7

Não me encontro anjo.

Estou constante nas fotografias

e bebo o desgosto da descoberta:

 

               o céu aberto

               não me traz

               a dádiva

               de me fazer

               ciente

               da divindade.

8

Tomo o remédio prescrito

e me faço ao largo da cama: remo

correntes

e diferente do que é dito

embalo

sonos: o desequilíbrio combatido

            em drogas me faz

            estável em desatinos.

 

Prescrevo ações de coragem

e quedo ao olvido: escuto

                                  gritos

                                  desconsiderados.

 

Ingiro o comprimido

e me faço forte: o totem

                          desaba cabeças

                          sobre a minha pena.

9

O homem amarrado

ao pé da mesa: escravo da luxúria

obtém no rés do chão

a confirmação da loucura.

 

            Chego perto o suficiente

            para ver o louco

            amarrado

            no pouco que lhe resta.

 

entendo sobre equilíbrios

e na metamorfose

noto a perda dos sentidos:

 

                     necessidades como bicho

                     na ilógica razão da condição sincera

                     com que se entrega às amarras.

10

Às vezes me equilibram

os desencontros: ambientado

                              na morte, empresto

                              o corpo ao inocente.

 

Reajo em provocações

no estado de espírito

da criatura: homem e fera

                   espero no cantar da ave

                   a exposição do coração

                   em transe. Às vezes

fecho os olhos e percebo o tremor

das mãos. A face em resposta. 

11

Pássaros alçados

na condição etérea

                  flutuam: vazios de esperas

                  repletos de homenagens.

 

Meu desespero

escuta o grito da saliência

e tropeça: o conteúdo escorre

                 sobre a terra úmida.

 

O contrato reza cláusulas indivisíveis

no regulamento e o ódio desproporcional

ao dano. O dono ordena a recuperação

dos juros.

12

Se ao labirinto é ofertado

o monstro circulante rompo

paredes e entre tijolos

instalo a nave: bifurco

                        o tempo e revejo

                        o pai retirado à água

                        e a mãe reconduzida à terra.

 

Não creio na admissão dos pecados

e na aplicabilidade dos sortilégios:

 

                   sou expert em me mostrar

                   alheio aos acontecimentos

                   e no gesto demonstro

                                       desprezo.

 

(Brevidades, excerto; Projeto Passo Fundo, 2012)

 

 PEDRO de Quadros DU BOIS, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil, 1947. Residente em Itapema, Santa Catarina, Brasil. Poeta e contista. Vencedor do IV Prêmio Literário Livraria Asabeça, Poesias, 2005, com o livro OS OBJETOS E AS COISAS, editora Scortecci, São Paulo.

Diversos livros de poemas publicados, como editor-autor, de forma artesanal, com tiragens mínimas, sem finalidade comercial. Ainda e sempre em busca de uma editora que assuma os serviços de distribuição. Blog:
http://www.globoonliners.com.br/icox.php?mdl=pagina&op=listar&usuario=5812