Joaquim Carvalho

Edifícios de papel vazios de pessoas felizes…

(Quando as escolas foram transformadas em edifícios de papel vazios de pessoas felizes)

O que vejo é sangue... O que sinto é sangue…

O que cresço é sangue em paredes de papel…

Paredes de papel em Casa cientificamente ensombrada por luz exangue!...

─ Luz que aguça lâminas em angulosas pedras de leitosos rios de fel…

─ Luz que prende a noite à terra num baço e desenfeitado tropel…  

O que oiço é sangue… O que toco é sangue…

O que colho é sangue na Casa onde me é consentido habitar

                                                               [privado da liberdade de poder Ser…

─ Casa onde se esconde a morte por falsos Sábios intencionalmente adiada!...

─ Casa onde nem uma só flor silvestre, livre de ramo, pode medrar!...

Casa onde falsos Sábios, tonitruantes, dizem ao engano:

─ A casa está repleta de oiro! Oiro-de-lei!

Se o que queres é o que nós queremos ─ e o que nós queremos é um tesoiro! ─,

busca, para nós, o oiro: ─ só lá, por nós…, por ti…, o hás-de achar! 

Ora…,

garimpar na casa o suposto oiro ─ e tê-lo ─ ,

é o mesmo que assobiar às trevas

e esperar que o eco de volta

devolva alado

o cavalo de luz iniciática onde me sentaram

quando ─ e só por ter nascido ─

rei fui coroado. O que não é viável!...

 

─ Uma vez perdido o cavalo de luz primordial perdido, para sempre, fica! 

Tal como fica perdido para sempre o reinado se por terra a coroa real tombar…

 

Das trevas nada espero… Nada!...

─ As trevas são escuridão! Nunca foram espelho reflector de vida!...

Tudo gelam e aprisionam! Nelas só há edifícios de papel vazios de pessoas felizes…

 

Se olho com tristeza o exterior da casa ─ onde é de direito estar ─ ,

é por não ser possível arar os jardins… Por isso as flores estiolam sem mim.

O que o olhar alcança e o espírito intui, apresenta indícios de maléfica contaminação.

Raios verticais de falso sol à solta lancetam toda a espécie de vida. Matam!

─ Matam como matam dardos de fogo

que, cravados num corpo, só na morte se apagam!

─ Matam pela insistência ortogonal do sol impiedoso

que queima mastros e incendeia bandeiras …

─ Matam porque a tudo o que podia florescer

falta a genuína sombra dos meus cuidados!…

 

Seviciado com actos e palavras de enganar

dentro da casa de sanguíneas paredes de papel,

morro todos os dias um pouco…

Nesse morrer, sinto findar no espaço exterior à casa

─ onde projecto Humanos anseios de Ser com Outros! e não de Ter sobre Outros! ─ ,

actos de partilha e comunhão ─ Afinal a única possibilidade

de construir-se um mundo mais fraterno e justo.

 

Consciente de mim e dos outros por inteiro,

contrariado no sentido do que é certo Ser e Ter,

vejo rolarem por terra ideias que,

sendo concretizadas e coroadas de sucesso,

seria forçoso honrar!

Todas as realizações positivas

se reduzem à metade do que poderiam ser!...

─ São metade na metade das coisas!... E não tinha! (não tem!) de ser assim...

A vontade de ser por inteiro

o primeiro de muitos primeiros

em primeiros germinar,

esmorece...

E tudo acontece ao meio da minha vida!... Ao meio-dia!…

 

Toda a noite sempre chega ao meio-dia!...

 

Morrer sem glória dentro da casa de sanguíneas paredes de papel,

determina mortes sem conta no mundo lá fora,

onde o sol desperto deveria estar, docemente, a ancorar…

 

Impossibilitado de habitar por inteiro os espaços

onde a vida se deveria celebrar,

tudo acaba incerto antes de ser tempo de partir,

trespassado por invisível espada…

 

Ao meio da minha vida! Ao meio-dia!... 

Toda a morte acontece ao meio-dia!... 

Joaquim Carvalho, Paço de Arcos, 28 de Setembro de 2009 

JOAQUIM CARVALHO | CURRICULUM .  

Licenciado em Engenharia Química pelo Instituto Superior Técnico, Lisboa, e licenciado em Química, Ramo de Formação Educacional, pela Faculdade de Ciências de Lisboa. Frequentou as Oficinas de Pintura e Desenho do Ar.Co, Lisboa, em 1987/1988. Curso de Serigrafia organizado pela Câmara Municipal de Oeiras, em 1989. 

LIVROS DE POESIA E PINTURA

Onde os Rios Nascem (poesia e pintura), 2007

Recuperar a Claridade (poesia e pintura), 2008

Um Olhar sobre Mensagem de Fernando Pessoa (pintura), 2009

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS

1989  Palácio Anjos, Algés;

1990  Junta de Turismo da Costa do Sol, Estoril | Galeria Sabugal, Lisboa

          Galeria Alfamixta, Lisboa;

1991  Galeria da Biblioteca Nacional e do Livro, Lisboa;

1992  Union Hill Arts Gallery, Kansas City – Missouri, E.U.A. ;

1994  Galeria da Biblioteca Nacional e do Livro, Lisboa;

1995  Museu Municipal, Figueira da Foz;

1997  Museu de Aveiro, Aveiro;

1998  Casa do Marquês, Algés;

1999  Sala Damião de Góis, Bruxelas;

2001  Museu da electricidade – Central Tejo, Lisboa;

2004  Banco de Portugal, Lisboa;

2005  Museu da Água – Casa do Registo, Lisboa | Fava Rica, Baiona, Espanha

          Banco de Portugal, Lisboa | Instituto Camões, Vigo, Espanha;

2006  Saint Michael and All Angels Episcopal Church, Kansas, E.U.A I Unity Temple on the  Plaza Kansas City – Missouri, E.U.A I Grace Episcopal Cathedral,Topeka, U.S.A. I Museu Provincial de Cáceres, Cáceres, Espanha;

2007  Museu Municipal de Sátão, Sátão; Fundação D. Luís I - Centro Cultural de Cascais, Cascais;

2008  Galeria Espaço Ponto e Vírgula, Torres Vedras I Galeria Brilho e Centelha, Paço de Arcos I Exposição na Comunidade Cultural Virtual na Second life;

2009  Biblioteca Municipal de Cascais - São Domingos de Rana I Galeria Verney       

EXPOSIÇÕES COLECTIVAS

1989  Salão da Primavera da Galeria de Arte do Casino do Estoril I Estoril I Salão de Verão, Arte 89 – S.N.B.A., LisboaI I Galeria Miron arte contemporânea Portuguesa, Lisboa I Salão de  pequeno Formato da Galeria de Arte do Casino do Estoril, Estoril;

1990  Exposição Evocativa do Centenário de Mário de Sá Carneiro na Galeria da Biblioteca Nacional e do Livro, Lisboa e Centro Gulbenkian, Paris;

1991  Trovas à Morte de Inês, Galeria Soctip, Lisboa; I Bienal de Arte, Sabugal;

1992  FIAP’92, Galeria 245, Porto;

1993  II Bienal de Arte, Sabugal;

1994  Como é Diferente o Amor em Portugal, Galeria da Biblioteca Nacional e do Livro, Lisboa;

1995  III Bienal de Arte, Sabugal;

1997  Exposição da ANAP, Museu de Aveiro, Aveiro; I Fórum da Cooperação e Solidariedade AMI, Lisboa;

1998  ANJE - Exposição ANAP;

1999  Percepções perante a Doença de Alzheimer I ANJE -Exposição ANAP;

2000  Eu dei 60 minutos para os próximos 1000 anos Museu da Àgua – Patriacal, Lisboa;

2001  Porto Capital Europeia da Cultura - Instalações da Real Companhia Velha , Vila Nova de Gaia;

2002  Exposição Interdistrital de Pintura Rotary Internacional, Braga I Exposição de Pintura, 93º Convenção R.I. Barcelona;

2003  Exposição e Leilão de Obras de Arte, Galeria de Arte da Câmara Municipal, Ílhavo I  Hotel D. Inês, Coimbra | 9º Bienal Internacional de Artes Plásticas, Vendas Novas | Os Poderes da Arte, Supremo Tribunal de Justiça,Lisboa | Galeria Perve, Lisboa;

2004  10º Exposição Internacional de Artes Plásticas, Vendas Novas;

2005  11º Exposição Internacional de Artes Plásticas, Vendas Novas

2006  Acervo Galeria Perve, Lisboa

2007  Galeria Ipanema Park, Porto I Instituto Politécnico de Viseu, Viseu, etc...

2009  Visão-120 anos depois, na galeria Malaposta, Lisboa.