SEM TÍTULO
Todos os livros do Mundo me pertencem
- disponho de boas mãos e de olhos
rápidos a perseguir no escuro
as palavras ocultas -
porque é meu o subtil pé-ante-pé
de números e de nomes, cores diferentes
onde os livros sua morada encontram
e de onde nascem.
Nem cínico nem inocente - apenas deslizante
entre madeira, pedra, luzes, rastos
que de fora se chegam (caspité!).
É necessário possuir o mais extremo cuidado
e um fato singular ou então de Inverno
- que o homem calvo à espreita sempre está
a fim de caçar ora um endereço
ora uma expressão, ora um botão
- que teima! - desapertado.
(De súbito, a imagem dum frasco vazio
em que um bálsamo contra o acne se verteu
- são lá coisas dos médicos -
fornece novas argutas estratégias
e de terras distantes faz falar
com seus costumes inviolados
Lugares, é bem de ver, dos quais o perigo
também fez sua casa
e onde os frutos aguardam nas gavetas
que alguém os retalhe e desfigure)
O homem calvo ou a moça das doenças
das confusões, das rendas e dos flirts
aliás de bom tom e boa fé.
Não é pequena, entanto, a maldição:
aos outros ainda é dado contar
dos ventos, dos desânimos, dos doutores, das fechaduras
A mim somente me é lícito
dar por história a sombra de uma busca
rapinanço mais que tudo legítimo
(sacra juventude, tão alerta afinal!)
e o aperto de mão que tudo salva
como um brasão de inteireza
de quem está entre comas.
É então que o Medo às vezes vai connosco
na nossa caminhada para o lar
nestoutro continente simulado.
Todos os livros do Mundo me pertencem
- bons sustos me têm custado! -
que o sistema é só ter a relação
entre dedos e recordações de nebulosos
pedaços de matérias negras
vindas lá do começo de tardes domingueiras
ou então de nada reconhecível
a não ser de alguns minutos ao fim da vida.
Todos meus são
como por um acaso
- que todavia transborda
da rapidez de gestos e palavras.
Quem não entender que os compre
- ou que analfabeto fique...
Nicolau Saião
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