Poemas

WILSON GUANAIS


Poesia

 

antes
que
me alcance
a noite

parei
pra colher
uma
Sombra

à beira
do caminho.


Mago

 

fazia amanhecer
ou anoitecer
num abrir e fechar
de olhos

: as pálpebras
eram seus únicos
poderes.


Oferta

 

nos
açougues
da
vida


fatias
da
alma

eu
penduro
nos
ganchos

: minha
Carne
ainda
sonha.


Dorme

todo tempo
em vigília
deste lado

da distância
aprendo
a costurar

um poema
confortável

pra te cobrir
de Sonhos.

(Depois de ler um poema da Lourença Lou)


Vida

 

Paisagens
futuras
me desabrigam
inadiáveis
nem é por isso
que reescrevo
toda essa luz
infinitas vezes

e insisto
até decorar
de vez
os contornos
da sua velocidade

até descolar
dos olhos
o movimento
do horizonte –
da carne
a pele

:os ossos
desse arrepio.


Aridez

 

tudo é sol
tudo é calor
nenhuma nuvem
no céu

tão quente
aqui
onde caminho
de casa
pro trabalho

suado na ida
surrado na volta
e só

minha
sombra
me acompanha

densa
como
um incêndio.


Braçal

 

Trabalho
como
um bicho
e como
um bicho
sobrevivo

eu que
não tenho
alma
tempo
nem paciência

todo dia
afio facas
e como
um bicho
escrevo.


Registro

 

enquanto
ensino
meu filho a falar

a poesia
exausta
descansa muda

repetindo
tudo

que a gente
cala.


Instantâneo

 

O trânsito caótico
não flui. – Crianças
esmolam no farol

Um pombo decola
ou pousa e some
diluído no concreto

Enquanto impune
a sombra do edifício
engole a minha.


Alimento

 

hoje quero bocas
todas as bocas
unhas e dentes…
(depois escrevo asas
e voo…)

: decore minha alma
devore meu corpo

que hoje
só hoje
(e sempre)
o poema é minha alma

eu
sou a carne do poema.


Wilson Guanais é poeta desde sempre. Publicou mais de 10 livros, sendo os quatro últimos pela Editora Penalux, participou de mais de 150 antologias e de inúmeros saraus em São Paulo, cidade onde mora.