|
|
Hoje a sotôra Malvácea pediu-me que lhe descobrisse um artigo de Bocage sobre víboras e eu fui à Biblioteca Nacional e lá o encontrei, estava no tomo I, número 8, da Revista Medica Portugueza, que começou em 10 de Junho de 1864 e publicava dois números por mês. Comecei a bisbilhotar o volume encadernado, desde a primeira página, e não é que descobri uma grande gozação comigo logo no princípio? Fiquei pior que estragada...................... Os médicos são uns brincalhões, o que eles gostam de fazer literatura!, e até por sinal há muitos escritores médicos. E então logo no número 1, fundinho da pág. 9 e salta prà 10, apanho com este spot publicitário, relativo às novidades na Academia Real das Sciencias: |
"Por falta d'espaço não publicamos hoje o extracto das suas ultimas duas sessões em que o sr. professor Bocage fez importantes communicações sobre historia natural. No numero seguinte daremos conta do assumpto."
|
Ah! Ahhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!, comecei a antever, então o artigo que me pediu a sotôra Malvácea sobre as víboras é assim tão perigoso que é preciso avisar os leitores de que vai sair num próximo número? Bem, só se for para se afastarem das bichinhas.................... Importantes comunicações sobre História Natural em extracto de duas sessões na Academia Real?! Também podem ser híbridos introduzidos no Alfeite, que era onde morava o Costa Cabral, e é bem feito! Pus-me a folhear as páginas de vaccina, cinchona e caganeira com muito vagar, para não perder pitada. Com a mostarda a trepar cada vez mais à narina, ia anotando que os alertas continuavam............
|
|
E pra cúmulo não são víboras, são arvícolas! O extracto das duas sessões da Academia deve meter ratos e cobras na mesma frigideira e se fizerem meninos devem vir os ratos bem aviperados e as viperas bem arvicoladas, se bem entendia o burlesco da situação. Oh!, no jornal n há espaço para os arvicolas, devem ser tamanho XXXL, já se sabe que os híbridos são maiores, mais fortes, mais resistentes, e mais prolíficos, etc. & tal, do que as espécies ditas oriundas de selecção natural...... Mas têm espaço para a publicidade ao excitante artigo do senhor professor Bocage, não é verdade? Olhe para o rato em cima se não sabe o que são os arvícolas e vá ao dicionário de Houaiss porque estão lá, e lá se diz que só há 2 espécies em todo o mundo, oh!, cala-te, boca, eis o género de coisas que nunca se devem dizer, agora há duas espécies, mas ontem havia 33 e daqui a nada haverá 666, cada qual com os caracteres mais levianos, ora pois, como dizia Bedriaga dos caracteres dos tritões ou dos lagartos, é quem no álcool se fixam!........................... Aqui mesmo, no TriploV, só espécies de arvicolas criadas por Sélys, há mais de meia dúzia! Clique no ratinho da imagem, que é um Arvicola rufescens, e vai lá ter num foguete. Não me faça perguntas indiscretas sobre orthographia, pliz, tente perceber por que raio variam tanto os caracteres. Juntando-lhes a variedade Rozianus de Bocage, devem ser mais de um quarteirão, e de certezinha absoluta que o Rosa de Carvalho as deve ter bem cozinhado lá pelos paúis de Arzila, nas bandas de Coimbra, e agora me lembro do diacho do catálogo de Anthero de Seabra, porque ao artigo importante de Bocage sobre os arvicolas que não vai ser publicado na Revista Medica Portugueza, sim na Academia Real das Sciencias...................., dá um jeito hibridizador, de modo que o título fica: "Notícia ácerca das arvores de Portugal"................. Chamar árvores aos ratos, é preciso ter descaramento! Mas se pensam que gozam comigo estão bem enganados! Que frondosa Acácia não deve ser a árvore.'., e mimosa'.', eu juro que ponho o artigo à frente do planeta pra não pensarem que estou aqui a arengar sem esturjão nem arenque, calma aí................ Calma aí, a referência é
SEABRA, Anthero (1900) - Mammiferos de Portugal no Museu de Lisboa. Jornal de Sciencias Mathematicas, Physicas e Naturaes, VI (XXII):90-115, mais um mapa da "Distribuição geographica das especies mammelogicas em Portugal", sic, não é mamológicas nem mamalógicas, sim mamelógicas, ora mame!, e esta ainda não vem no Houaiss! Aí em baixo, ao contrário do que afirma Houaiss, que não tem culpa nenhuma das gozações dos médicos mamais, sim, porque Bocage era médico, todos os zoólogos eram médicos, estão as páginas 110 e 111 do artigo de Seabra com os tais arvicolas, e se ele está a criar espécies novas com um só indivíduo, como é o caso de Arvicola incertus variedade individual albina, então, pobre Houaiss!, que vai ainda apanhar com 666.000.000.000 de espécies na cabeça, porque isso quer dizer que os bichos são todos diferentes e não se podem classificar a não ser um a um, cada indivíduo é uma espécie, ai!.....................................ai!, não quero saber de mais cientistas mamelógicos pra nada, vou mas é chonar...................
|
|
|
Cheia de uma grande pachorra de Python sebae com os naturalistas e outros mamais, apanhei com cinco ou seis anúncios aos arvicolas na Revista Medica Portugueza, é que nem na televisão há tanto suspense com os glutões e telemóveis!, que raio!, ponho aqui mais um e recolho a val de lençóis............ |
|
E pronto, chega-se ao número 8 e lá está o artigo sobre as víboras e nunca mais, mas nunca mais, até ao fim do volume, com o número de 15 de Janeiro de 1866, se volta a fazer publicidade ao importante artigo sobre os arvícolas! Arbívoras! Mamelões! Ar.'. incertus de Sclys-Longchamps, um ar que vos dê! Os naturalistas são mais beras que a Vipera berus que introduziram no Porto e no Gerês, e está com os caracteres escondidos debaixo da latastei ou seoanei, pensam que eu não percebo, mas eu percebi, sim, senhores, e estou até a lembrar-me do jacavali do Rosa de Carvalho, que está por aí com as cartas a Bocage talvez em http://triplov.com/rosa, lembro-me de ele responder ao importante pedido de cobras do senhor professor: - Ah, sim - insinuou ele, cheio de trocadilhos na língua -, encomendei as víboras a uma madama que foi veranear para a Serra da Estrela!
Sardinias dilata! Gansos pachola! Pleurodeles exasperados! Pensam que eu não percebo quando falam das mulheres ao pé das víboras e dizem que não há engano possível na identificação, para distinguir as venenosas das não venenosas, basta abrir-lhes a boca, porque as venenosas só têm dois dentes em cima, recurvados para baixo! Pestes, sacripantas, que tendes muito mais do que dois dentes no maxilar superior para ferrar uma dentada nas víboras, coitadas, e todos eles estão cheiinhos de peçonha! |
|
|
|
|