AÍ É QUE BATE O PONTO
Ninguém dá ponto sem nó
– sobretudo os gabirus –;
só talvez o ponto cruz
que fazia a minha avó
fosse
apenas ele só.
Ao pôr-se os pontos nos ii
há nisso um ponto de acordo
sempre que o assunto abordo
em Lisboa ou em Paris.
Há quem seja um bom ponto
há quem faça ponto aberto
e há quem estando ou não certo
acrescente a qualquer conto
um qualquer ponto incerto.
Há quem dê ponto na boca
mostrando o seu ponto forte
e há quem mereça a sorte
de fazer orelha mouca
sem que isso nada lhe importe.
Há quem tenha o ponto fraco
de ter seu ponto de vista;
dizem logo: - “Não tem caco!”
ou que é um comunista
um ateu ou anarquista.
Mesmo que o ponto de encontro
se transforme em ponto de honra
hão-de inventar a desonra
pra instalar o confronto.
Em ponto de rebuçado
atinge-se o ponto crítico.
Nem sempre o mais ponderado
será o mais pontuado
– isto é ponto pacífico.
Quem anda de ponto em branco
pode ou não pagar a conta;
deve ter dinheiro no banco
e mais franco menos franco
não se lhe fará afronta.
Coitado do Zé Pagode,
senhor de pouco escudo:-
dão-lhe só se pagar pode,
ele todo se sacode
mas vive... em ponto agudo.
Qual o ponto de partida
(ponto de interrogação)
pra esta luta suicida
(ponto de admiração).
Qual é o ponto de apoio
de tamanha confusão
que troca o trigo plo joio
(ponto de exclamação).
Só os pontos cardiais
– é ponto assente –
indicam a toda a gente
onde as direcções reais.
Um pontapé bem assente
em quem por mal pontifica
faria tornar consciente
a cambada que se estica
pra parecer que é gente?
Pra minha consolação
tens por meta um pontinho
tema de meditação
de que se admira o tonto.
Estou contigo, Agostinho,
sem condição,
na força que adivinho
no Ponto Sem Dimensão.
Aí é que bate o ponto.
20.01.1988
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