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MANUEL RODRIGUES VAZ
Pintura colonial
e Salões de Arte em Luanda
Do naturalismo
paradisíaco à modernidade
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Conferência na Universidade
Nova, em Lisboa, a
17 de Maio de 2017. |
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Antes de entrar no tema propriamente
dito que aqui me traz, convém fazer algumas definições, pois é
um hábito meu fazer sempre isso para não haver equívocos.
O que é arte africana? O que é arte
colonial?
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Paisagem, de J. Gamboa,
obra tipo de pintura dita
africana dos anos 40
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Responder à primeira questão é quase
impossível à luz dos nossos conceitos ditos ocidentais. Sabendo
nós que a Arte – por cá, claro – tem a ver com técnica, e só
depois com fruição do belo, e, neste nosso tempo tão atribulado,
com denúncias, combate político e mesmo revolução, como é que
podemos definir o que é Arte Africana se em África os objetivos
da Arte são outros muito diferentes? Mas, na verdade, esta
descoberta, feita nos anos 30 por um historiador de arte judeu
chamado Carl Einstein, fez evoluir a arte dita ocidental de uma
maneira inesquecível. Sem o cubismo, como é que a arte ocidental
teria evoluído? Ora o cubismo, como antes o fauvismo, tem
exatamente origem na constatação de que se os africanos tinham
chegado à esquematização quase absoluta, foi porque a arte que
eles faziam era parte das suas tarefas do quotidiano, como comer
e trabalhar, por motivos mágico-religiosos essencialmente. Como
diz José António Braga Fernandes Dias, em África, «Os critérios
de autenticidade vulgarmente adotados assentam no princípio do
uso tribal; quer dizer, um objeto é considerado autêntico desde
que executado por um artista de uma sociedade tradicional,
destinado ao uso funcional ou ritual nessa sociedade (nunca para
venda) e efetivamente usado». Porque o fazem desde sempre, foram
simplificando as formas, chegando à estilização máxima. Juan
Gris, Picasso, Bracque, Léger e Joan Miró perceberam os estudos
de Carl Einstein, que, em grandes linhas, no plano teórico,
discute as categorias de "pictórico" e "escultórico", e,
independentemente do meio artístico empregado, ressalta as
características da arte negra, as soluções espaciais na
escultura encontradas pelos artistas africanos e a sua
similitude com as invenções dos artistas cubistas na pintura. Os
cubistas captaram que a figuração dos objetos, mediante signos,
produzia diversos sentidos, assim como perceberam a combinação,
transformação e reformulação de signos e de grupos de signos na
escultura africana.
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Parede pintada na Lunda
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Segundo Elena O’Neill, em A
escrita atuante de Carl Einstein, «Einstein adjudicou à arte
e à linguagem a tarefa de libertar o homem de imagens
ossificadas e modos de pensar rígidos. Em Einstein, a realidade
se constrói e se transforma sem cessar: ele defende uma arte na
qual o artista modifica a realidade e não está preso a um
excesso de racionalização, normalização ou a uma linguagem
aprendida; acredita numa arte engajada na transformação social,
na qual a forma reconfigura a subjetividade.»
Na sua tese de profissionalização,
A escultura africana e as suas máscaras – A arte moderna e
plataformas culturais de José de Guimarães, a artista
plástica Helena Justino confirma, de outros modos, este sentido:
«Na África tradicional, a arte está intimamente ligada ao
quotidiano, à vida, à energia, às ideias e às coisas, em suma, à
explicação do ser e da existência, e reflete, como é óbvio, uma
caraterística muito peculiar para os europeus, “O indivíduo não
perturba o equilíbrio, a ordem social e a cultura deixada pelos
antepassados”, sendo as figuras esculpidas como que
intermediários entre esses antepassados e o homem atual».
Quanto à arte dita colonial, é
igualmente difícil de definir, porque o que a impõe é a ausência
de conceitos, portanto é pela negativa. Na verdade, não tem nada
de africano, é uma importação, embora não se trate de um mero
transplante da Europa, pois há realmente uma fusão de elementos
europeus e africanos. Uma outra questão não menos pertinente diz
respeito ao olhar crítico que é dirigido à produção plástica
realizada em Angola por europeus ou segundo linhas europeias, o
que complica ainda mais a questão.
Como assinala Teresa Matos Pereira na
sua tese de doutoramento Uma Travessia da Colonialidade -
Intervisualidades da Pintura, Portugal e Angola, «A criação
de um conjunto de imagens de África em geral e Angola em
particular e a sua disseminação por inúmeros suportes, conheceu
nas artes plásticas, fotografia e cinema, veículos de relevo.
Estas imagens, cuja materialização contou com uma linguagem
naturalista como poderoso alicerce, conjugaram um vocabulário
que reúne o real – transfigurado pela observação de quem pinta,
desenha ou fotografa - e a ideologia que direciona e condiciona
o olhar de quem produz e de quem vê. Assim, não será de
estranhar que o discurso produzido à volta da pintura de
paisagem, de costumes, etc., provenientes e/ou acerca de África,
realce sistematicamente uma simulação do real, com traços de
veracidade indiscutível, ainda que as imagens repitam
invariavelmente as mesmas formas estereotipadas e fórmulas
compositivas».
Primeiro, na década de 30 do século
XX, eram as paisagens paradisíacas, tipo chapa modelo, com
imbondeiros gigantes, que o Dr. António Videira até erigiu como
um dos símbolos de Angola, vegetação frondosa e céus em fogo –
são célebres as queimadas que o Neves e Sousa vendia ao metro –
panoramas com rios ao fundo e barcos a vogar mansamente, com
cores delicodoces tipo tecnicolor, que fizeram o must até
à década de 60. De certo modo, tudo isto era o prolongamento
natural do que já fazia o pintor português Miguel Ângelo Lupi
(1826-1883) quando passou brevemente por Luanda entre 1851 e
1853, como Contador na Junta da Fazenda da Província de Angola,
deixando aí algumas obras que, segundo Diogo de Macedo, «levaram
sumiço e dos quais não há notícia» Porém, seguindo uma
modalidade de pintura de género desenvolvida pela geração
romântica, que aposta na captação do pitoresco e do exotismo dos
costumes, realiza um conjunto de desenhos onde são representados
os costumes locais, vistas paisagísticas e monumentos que
atestam a presença portuguesa neste território africano.
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Capa do livro
comemorativo dos
50 anos da F.T.U.,
executada por Neves e
Sousa, durante
muitos anos o pintor do regime
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São vários os termos com que podemos
classificar este tipo de arte, nomeadamente “arte colonial”,
“arte indígena”, “arte negra” ou “arte gentílica”, talhados de
modo a designar um conjunto de manifestações de índole plástica
(de onde sobressai a escultura), traçadas como expressões da
primitividade. Reiteram, na sua maioria, uma noção de
genuinidade e integridade, dependentes de um isolamento e
estagnação temporal que as remete para expressões de uma
a-temporalidade e a-historicidade, colhendo preferencialmente o
pitoresco, típico, artístico e histórico. Mas arte africana é
que não é, a não ser geograficamente falando.
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Imbondeiros, motivo
principal da arte dita angolana
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Em Portugal, uma das primeiras
referências às expressões artísticas africanas, assente numa
visão modernista, surge curiosamente pelas palavras de António
Ferro, na célebre conferência A Idade do Jazz Band,
proferida no Brasil e mais tarde publicada na revista Athena,
na década de 20.
António Ferro irá para Angola, em
1918, como oficial miliciano, sendo posteriormente nomeado
ajudante de campo de Filomeno da Câmara, quando este ali esteve
como governador-geral, em 1929, depois de ter sido
elemento principal da revolta que foi chamada dos Fifis, em
1927, por ter sido em conluio com o escritor Fidelino
Figueiredo. Este último, no prefácio à sua obra, Viagem à
Volta das Ditaduras lembra a apreensão do autor enquanto lhe
pedia «informações e conselhos com a preocupação embaraçada de
todos os que embarcam, pela primeira vez, para essas paragens
mal afamadas onde a imaginação mistura, numa vaga noção de
desconforto, coisas terríveis com outras grotescas:
antropófagos, leões, febres e macacos».
Foi exatamente em 1960 que se
realizou em Luanda o primeiro salão de artes plásticas, o I
Salão de Independentes, que apresentou 81 trabalhos de pintura,
escultura e desenho de 9 expositores: António Tavares,
Apolinário, Benúdia, Fernando Reis, Fernando Rodrigues, Henrique
Abranches, Henrique Guerra, Daniel Saraiva e Tito Vitorino, na
sua maioria figurativos, mas já aparecem trabalhos com laivos de
modernidade, e todos realçando a pujança da natureza angolana,
como era da praxe.
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Outro imbondeiro
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Há dois meses, quando falava numa das
minhas tertúlias sobre a descolonização de Angola, uma das
assistentes pôs-me a seguinte pergunta: «Nunca sentiste em
Angola que os pretos também eram racistas? Várias pessoas têm-me
dito isso».A minha resposta foi pronta: «Como é que podiam os
pretos ser racistas naquele tempo, se eles não o existiam.» Sim,
isso mesmo. Não existiam.
A terra era dos colonos, os empregos
eram dos colonos, as casas eram dos colonos. Os angolanos
pretos, fora algumas exceções (poucas) serviam os brancos e já
era bom. E tinham de arranjar dinheiro para pagar o chamado
imposto de palhota, que foi uma maneira de os obrigar mesmo a
trabalhar.
Foco esta questão para ajudar a
compreender o conceito de pintura colonial. Porque, devido
exatamente a este pressuposto, a verdade é que não havia nem
podia haver pintura angolana. Para isso, todos os cidadãos
tinham de ter uma existência real, e isso é que não havia. Como
é que, se não existiam, podiam ser racistas? Está claro que
hoje, que, de algum modo, alguns mandam no País, a situação é
outra, há realmente racismo, mas, claro, errar é humano.
A instauração e implementação dos
sistemas coloniais encontraram-se comprometidas com a criação de
uma colonialidade visual, materializada através de fotografias,
mapas, desenhos, pinturas, ou a recolha de coleções de “arte” e
“artesanato”. O conjunto destes objetos e imagens concorre para
a estruturação de uma cultura visual que desempenhou um papel de
relevo no âmbito da apresentação, descrição e justificação de
uma ordem colonial.
A imagem (desenhada, pintada,
impressa, fotografada…) surgia como um dos meios preferenciais
de divulgação de ideias e conceitos que informam as
representações e as práticas coloniais, servindo-se de processos
específicos de seleção, exclusão ou enfatismo e colaborando ou
comprovando a criação de identidades, sejam de género,
“raciais”, “tribais”, “étnicas”, nacionais, etc. .
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Administrador Ferreira do
Amaral numa pose
verdadeiramente colonial, na década de 30
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Nos anos 40 e 50 há vários apelos em
Lisboa para os artistas portugueses se inspirarem no chamado
Ultramar e até foi realizado um Cruzeiro ao Ultramar a eles
dirigido. Foram poucos os que corresponderam: apenas Jorge
Barradas, Fausto Sampaio e Cristiano Cruz. Para além destes,
houve ainda os casos de Lino António, Dórdio Gomes, ou Abel
Manta que esporadicamente realizaram algumas obras (sobretudo
encomendadas para exposições internacionais), onde são visíveis
referências aos territórios coloniais através de alegorias ou
figuras e paisagens estilizadas, que conhecem uma divulgação nas
páginas da imprensa, como por exemplo alguns desenhos de
Bernardo Marques. Na sua maior parte nunca visitaram nenhuma
colónia, mas faziam os trabalhos a partir de fotografias. Tenho
para mim que essa é que a verdadeira pintura colonial.
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É mesta altura que Eduardo Malta, que
chegou a ser conservador do Museu Nacional de Arte
Contemporânea, em Lisboa, surge como um dos exemplos
representativos de um conservadorismo estético e alinhamento
ideológico-político, que vê na perpetuação de um naturalismo de
raiz académica, a probidade da criação artística – ainda que com
mais ou menos patine, com mais ou menos simulacros de modernismo
– e a resposta cabal aos desígnios de simbolização do poder
instituído, menosprezando, pelo contrário, a arte moderna das
vanguardas, ao considerá-las uma forma de denegação das raízes
greco-latinas. Ele fará escola para uma série de artistas que se
vão dedicar aos temas coloniais e executará várias séries de
desenhos focando figuras e temas ligados às colónias.
Outros se lhe seguirão, em Angola,
como Alípio Brandão, cuja filha, Ema Brandão, ali fará uma
carreira interessante como escultora em madeira, Domingos
Teixeira Lopes, pai do Gil e do Hilário Teixeira Lopes, que,
todos os anos, de Dezembro a Abril, passava por Luanda,
apresentando em Maio uma exposição dos seus trabalhos, que
vendia totalmente, e Estevão Soares, que fez igualmente
incursões a Angola, igualmente com êxito.
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Império Colonial Português
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Haverá ainda que referir ainda
artistas como Álvaro Canelas, pintor de costumes populares
dentro de uma herança naturalista, que, à semelhança de muitos
artistas da sua geração, realiza uma experiência parisiense,
vida boémia e aventureira do que resultou, do ponto de vista da
criação artística, numa produção pictórica e gráfica
irregulares, mas que lhe valeu a passagem por África
(Moçambique, África Equatorial Francesa e Angola) e por Timor,
Preto Pacheco, que trabalhou em Angola de 1964 a 1975,
impondo-se com uma pintura naturalista muito à maneira de
Henrique Medina e como retratista oficioso, e até Marcelino
Vespeira passará por Angola muito fugidiamente, o suficiente
para fazer uma muito interessante capa do livro de Castro
Soromenho, Viragem, que, com A Chaga e Terra
Morta compõem a trilogia Camaxilo, servindo-se de um
grafismo sígnico e de manchas informais influenciado
marcadamente pela imagética africana.
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Segundo
Teresa Matos Pereira, na sua tese já referida, «Tendo
viajado pelos territórios sob domínio colonial
português, ou aí residentes, este grupo produziu um
conjunto de imagens que mesclam realidades, mitos e
estereótipos. Destinadas essencialmente a um público
burguês, as suas obras transferem para cenários
africanos ou asiáticos as modalidades da pintura
europeia, incidindo na cena de género, figura humana,
paisagem, ou temáticas animalistas, impregnadas de um
naturalismo caprichoso, que oscila entre o decorativismo
e as pretensões etnográficas e documentais. Estes
artistas irão celebrar uma África de raízes rurais e
“tradicionais”, ignorando muitas vezes os sinais de
modernização, com vista a materializar na pintura, uma
imagem pitoresca e exótica dos costumes, das pessoas, da
fauna, flora e da paisagem.
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Desenho de
Bernardo Marques
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A par destas linhas temáticas,
encontramos igualmente uma outra, que segue a via da
pintura de história onde as batalhas entre africanos e
europeus, a celebração de datas históricas ou a ação
desenvolvida pelos primeiros governadores, surgem como
modalidades de afirmação da superioridade europeia e do
seu domínio, destacando-se, algumas obras da autoria de
Martins Barata».
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É em 1944 que aparecem os relatos de
Henrique Galvão nos seus álbuns Outras Terras Outras Gentes
e Ronda d‘África, retomando a narrativa de viagem através
do território angolano, convergindo no mesmo registo discursivo
de Maria Archer, - uma figura muito interessante como feminista
e escritora colonial, - mas com a vantagem de numa segunda
edição serem acompanhados de uma abundante iconografia que
compreende fotografias de Elmano Cunha e Costa, conjugadas com
desenhos e pinturas de artistas como Eduardo Malta, Fausto
Sampaio, Roberto Silva, José de Moura, António Ayres, Rui
Filipe, Martins Barata ou Neves e Sousa. A comparação da
primeira edição – relativamente modesta quanto à utilização da
imagem e situando-se numa proximidade com os relatos editados no
século anterior – com a edição distribuída em fascículos entre
os anos de 1944 e 1948, é elucidativa quanto à importância
crescente da imagem como meio de comunicação capaz de transmitir
informação e mensagens de modo instantâneo e eficaz.
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Já na década de sessenta será ainda
de referir a presença em Angola do escultor madeirense Henrique
Pereira, deportado para Luanda por ser militante do PCP, e de
Dorindo de Carvalho, cuja atividade como gráfico será marcante
os quais desenvolvem um conjunto de linguagens, onde se cruzam
imagens de traços naturalistas marcados pela exploração da
paisagem, do retrato e dos costumes, numa linha folclorista que
manteve uma proximidade com o domínio da etnografia, - assumindo
a obra, por vezes, pretensões documentais – e algumas expressões
que se irão aproximar do neorrealismo pela dimensão sociológica
que procuram atingir.
Com toda esta movimentação, será
natural que, em Março de 1960, o Grupo Desportivo da Cuca, a
primeira fábrica cervejeira de Angola, realize, sob a égide do
empresário Manuel Vinhas, que assinou a apresentação do
catálogo, uma Exposição de Pintura Moderna, que foi o núcleo
inicial da sua coleção em Angola e que viria a doar ao Museu de
Angola. Esta mostra integrava nomes maiores da pintura
portuguesa como Pomar, Fernando Azevedo, Menez, Nikias
Skapinakis, Marcelino Vespeira, Nuno Siqueiros, Alice Jorge,
Artur Bual e Mário Eloy.
Estava preparado o terreno para
outros voos. O primeiro foi o resultado de uma conversa casual
entre o artista plástico Cruzeiro Seixas, que então trabalhava
em Luanda como delegado de propaganda médica, e a então
estudante de Belas Artes Helena Justino, a Exposição Geral de
Artes Plásticas, conhecida como Angola-63, realizada em Agosto,
no Museu de Angola, e que marcou inesperadamente uma etapa na
situação artística que em Angola era ainda muito incipiente.
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Esperando que aparecessem duas
dúzias de pintores de domingo, mais um punhado de jovens, como
era habitual noutras iniciativas culturais, a surpresa foi
geral, pois houve 51 candidatos, que apresentaram 200 trabalhos.
E participaram também figuras já minimamente consagradas a nível
local, como Carlos Ferreira, Carlos Fernandes, Cruzeiro Seixas,
Eleutério Sanches, Henrique Abranches, Henrique Pereira, Artur
Taquelim e a sua mulher, Angélica, Maria Manta, Mário Araújo,
Neves e Sousa, Roberto Silva, Rocha de Sousa, Vaz de Carvalho,
Vítor Teixeira (Viteix) e, não esquecer, o Luandino Vieira, que
ainda continua a fazer as capas dos livros da sua editora, a
NÓS, o que diz bem da importância que lhe foi dada.
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A exposição, organizada sob a égide
da Sociedade Cultural de Angola, que esteve patente no Museu de
Angola, teve o patrocínio do Grupo Desportivo da Cuca, teve a
Fundação Calouste Gulbenkian como o outro grande patrocinador,
pois até o seu presidente, Dr. Azeredo Perdigão dignou-se
presidir à inauguração e foi um motivo para entrega de subsídios
e promessa de outros, nomeadamente o apoio à criação em Luanda
de uma escola de belas-artes, que fosse, simultaneamente,
incubadora de artistas novos e instrumento de evolução dos que
já eram artistas.
A repercussão foi a vários títulos
notável, sendo que até o exigente jornalista Roby Amorim, que
viria a ser expulso pouco depois, por motivos políticos, lhe
dedicou um artigo de análise exaustiva, no jornal O Comércio,
concluindo que «o certame denuncia a existência de número
suficiente de valores para justificar iniciativas de maior
envergadura». Essa era, aliás, a sua intenção e a sua
justificação, como bem frisaram os organizadores, em que, além
do núcleo inicial, Cruzeiro Seixas e Helena Justino, se juntaram
a Denise Toussaint, Graça Neto de Miranda, Mário António e
Bobela Mota. O conhecido poeta Mário António dirá, por seu
turno, na sua Carta de Angola, para a revista Colóquio,
que a mostra foi surpreendente, pelo nível patenteado, superior
ao que a ocasional frequência das exposições abertas ao público
em Luanda, deixaria supor.
O I Salão de Arte Moderna da Cidade
de Luanda aparecerá, em 1967, como corolário de toda esta
movimentação anterior. A necessidade que se fazia sentir de uma
atividade artística mais consentânea com os novos tempos e até
as premências mais imediatas da presença portuguesa em Angola
exigiam isso.
Por isso, em 1967, a Câmara Municipal
de Luanda promove a realização do I Salão de Arte Moderna da
Cidade de Luanda, com a colaboração da Sociedade Nacional de
Belas Artes de Lisboa e do Núcleo de Arte de Lourenço Marques.
No fundo, era o que se poderia dizer um Salão de Arte à maneira
europeia, pois as exigências de rigor eram as mesmas e mesmos os
parâmetros, assim como os cânones. No núcleo inicial foi
fundamental a presença do Engº. Aníbal Fernandes, conhecido como
um dos melhores tradutores do francês em Portugal, do Arq.
Troufa Real, autor dos prédios mais emblemáticos de Angola como
o Palácio da Justiça de Luanda e da Universidade de Cabinda, e
do sociólogo José Rodrigues, que tinha sido professor numa
universidade belga.
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O júri do IV Salão de Arte Moderna da
Cidade de Luanda, em 1970, constituído por Adriano Gusmão, José
Troufa Real, Luís Jardim e José Manuel da Nóbrega, decidiu
admitir por unanimidade 64 obras. De 27 artistas, eram angolanos
apenas o António Ole, Cabral Duarte, Carlos Barradas, Duarte
Ferreira e Gracinda Candeias, sendo que o Carlos Fernandes, um
nome incontornável da pop art, também residia em Luanda. Da
Metrópole, como então se dizia, participaram nomes como Gil
Teixeira Lopes, Graça Antunes, Ilda Reis, João Vieira, Luís
Gonçalves, Mário Varela, Man, Manuel Baptista, Miguel Arruda,
Nuno Siqueira, Pires Vieira, Rocha de Sousa e Sérgio Pinhão, que
levaram à linda capital angolana um achegamento de modernidade
bastante interessante naquele momento.
O Júri de Premiação do V Salão foi
constituído por Hélder Silva Moura, José Manuel da Nóbrega, Luís
Jardim, Troufa Real, e como representante da “Metrópole”, para
dar credibilidade, foi convidado o crítico de arte Rui Mário
Gonçalves. Havia júris de seleção em Luanda, que aceitou 19
peças, em Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas Artes, que
aceitou 45, sendo que o de Lourenço Marques recusou por
unanimidade os 9 concorrentes.
De vários modos, toda esta atividade
se cruza com a minha própria, naturalmente. Umas iniciativas
levam às outras. Exatamente, em 1969, eu estarei ligado à
fundação do Círculo Universitário de Cinema de Luanda, o que me
leva mais tarde a fazer crítica de cinema no vespertino
Diário de Luanda, para onde entrarei como redator efetivo em
1971.
No ano anterior integrei a redação da
revista de cultura e espetáculos Noite e Dia, da
Neográfica, que pertencia ao Grupo da Cuca, do Manuel Vinhas.
Uma noite sonhei em fazer um salão de novíssimos à maneira de
Lisboa. Apresentei a ideia ao coordenador da redação, que por
sua vez a apresentou ao Vinhas. No dia seguinte estava a fazer o
projeto e depois foi realizá-lo. Foi entusiasmante. Em Junho de
1971 foi inaugurado, nos salões do Palácio do Comércio. O
primeiro quadro que se vendeu foi da Helena Trindade, que foi
até há pouco tempo a conservadora do Museu da Música de Lisboa,
ao Raul Solnado, que estava na altura em Luanda a apresentar,
com a Io Apoloni, O vison voador.
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Os participantes eram todos jovens e
na sua maior parte angolanos: Carlos Ferrão, Eduardo Dias, Costa
Araújo, Filipe Henriques, Duarte Ferreira, Carlos Barradas,
António Santiago, António Trindade, Rui Garção, Gui, que acabava
de vir de Moçambique e apresentou batiques, uma novidade para
Angola, João Serra, Álvaro, Maria José Furtado, Helena Trindade,
Pombinho, Travanca da Costa. De uma maneira geral, as
participações primavam por uma frescura real, registando-se uma
vontade de estar up-to-date, na onda em que o mundo
ocidental mergulhava no momento. De vários modos, a maior parte
dos trabalhos apresentados poderia ser mostrada em Londres ou
Paris, as capitais culturais de então, sem qualquer rebuço.
Na verdade, como já disse, era um
salão à maneira de Lisboa, da Europa, a África era só o local
geográfico. O artista plástico português Luís Jardim, que
trabalhava no Museu de Angola e que assinou a apresentação do
catálogo, salientou perentoriamente que esta exposição «É uma
pesquisa e não a codificação das regras da pintura do passado.
Situa-se na linha de evolução que parte de Cézanne, Duchamp,
Fontana, Wesselmann, Rosenquist, Rauschenberg e Vasarely». E
acrescentará: «A arte do nosso tempo interessa-se pelo homem, e
pela sua situação no mundo. Dirige-se aos homens de boa fé e
solicita-lhes a sua participação definitiva. Esta exposição
propõe um diálogo direto entre os jovens artistas angolanos e o
público. A arte é um facto social. Saibamos inteirar-nos da sua
significação, da sua importância na cultura de Angola.
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Por
várias vezes Cruzeiro Seixas levantou algumas questões
respeitantes ao desenvolvimento de uma arte angolana que
englobe o diálogo entre um domínio das expressões
autóctones e da expressão plástica, segundo moldes da
academia europeia. Num primeiro momento é abordada a
pertinência de uma aprendizagem de moldes académicos no
contexto de uma arte angolana, que desta maneira
transformar-se-ia numa pálida imitação que não responde
às questões intrínsecas à sociedade que a produz. Esta
ambiguidade, a que se acrescenta uma debilidade quanto a
um conhecimento aprofundado do sistema de representação
clássico, conduz, na sua perspetiva, a graves equívocos
que inviabilizam o desenvolvimento de uma identidade
artística.
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Como contrapartida, defende que os
artistas deveriam voltar-se para um fundo popular e genuíno,
aquilo que designa por «arte naïf» como fonte de referências
estruturantes de uma arte baseada em valores endógenos e
integrada num contexto (social e cultural) específico, que assim
se concretiza num plano de identidade não só individual, como
coletiva. Assim, a propósito da obra de alguns pintores
que desenvolvem uma pintura de moldes naturalistas, pontuada
pelo retrato, pela paisagem ou pelo apontamento etnográfico,
como Manuel Castelo, Roberto Silva ou Mário Araújo, Cruzeiro
Seixas afirma categoricamente: «Esses pintores, aliás como
outros do mesmo estofo, só poderiam fazer obra válida se,
abandonando os cânones académicos se integrassem numa arte
«naif», a única que lhes permitiria uma visão plástica pessoal
e, naturalmente, autêntica. (…) o equívoco é patente, pois não
possuindo uma aprendizagem académica profunda, eliminaram
qualquer possibilidade de pintura (académica) ―a sério‖. (...)
Sendo embora africanos, nunca se encontraram no mesmo caminho da
África!»
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E conclui, «A atitude «naif», de
resto, é aquela que reputo mais capaz de devolver aos pintores
de Angola, neste momento, uma visão genuína da sua própria
terra, fugindo assim aos estereótipos académicos, de matriz
europeia. De outro modo continuar-se-á no equívoco de servir um
prato requentadíssimo de que cada vez mais raros ou menos
expressivos provarão»
De algum modo, tem razão o escritor
angolano Luís Mascarenhas Gaivão, quando diz: «A identidade
angolana traduz na expressão plástica as suas raízes mergulhadas
maioritariamente nas etnias bantu, mas também em outras que
compõem o puzzle nacional. O colonialismo, sobretudo durante o
século XX, produziu o apagamento das culturas nativas. As
línguas foram proibidas e as manifestações culturais entraram em
categorias de subalternidade, e “arte selvagem” ou “arte
primitiva” eram conceitos que o colonizador criava sobre aquilo
que desconhecia. O colonialismo suporta-se construindo uma
imagem distorcida do “outro” colonizado, incutindo-lhe
inferioridade: o preconceito, o estereótipo foram armas eficazes
deste procedimento. E a África, perante o colonizador europeu,
ficou “parada no tempo”, como ele próprio programara.
Mas a África tinha outra visão da
natureza, da vida e da arte, e, ao acordar, vem reencontrando as
raízes. Neste texto pretendo trazer reflexões em torno desta
história angolana, por um prisma menos vulgar: as travessias
plásticas que molduram a construção permanente da angolanidade,
onde, volto a mencionar, cabem as culturas bantu, não-bantu e
portuguesa.»
Outra opinião tem o colecionador e
galerista angolano Vítor Pinto da Fonseca, diretor de três
organizações dedicadas ao colecionismo e comércio de arte em
Lisboa - a VPF Cream Art, quase clássica, a Plataforma Revólver,
de tendência mista, e a Rock Art, de vanguarda e para situações
de provocação – que alega que, para ele, «não havia arte
africana, nem europeia, nem americana, nem portuguesa, claro,
porque a arte é universal e é por aí que temos de caminhar no
futuro», embora uma boa parte dos seus artistas sejam africanos,
como Tiago Borges e Gustavo Sumpta, entre outros.
Como tudo, embora esta seja uma
opinião muito respeitável, é relativa. Mas que lança o debate,
lança, sim senhor, e pode agora ser o momento de pôr outras
coisas a claro.
Por exemplo, até que ponto podem ser
considerados como africanos artistas de origem europeia que só
nasceram por acidente em África e, por outro lado, cidadãos de
origem africana que por acaso vieram nascer na Europa? O que é
que define africanidade? E valerá a pena fazer esta pergunta num
momento em que a globalização está a homogeneizar tudo e se está
a caminhar para uma crescente universalização?
De qualquer maneira, vale a pena
lembrar uma afirmação bastante conhecida e justamente
considerada: a arte, quanto mais genuína, portanto quanto mais
expressão autêntica de uma região ou de um país, mais universal
será.
Dizia recentemente Cristina Pratas
Cruzeiro que «Boa parte da arte atualmente produzida, também em
Portugal, é apátrida e representa exatamente o espaço indefinido
que ocupa, muito embora os artistas não o sejam e continuem
vinculados a um país demasiado pequeno, não no que respeita ao
território mas no que respeita às iniciativas e atividades
culturais e artísticas. Não basta por isso a ambição de expor
ocasionalmente no estrangeiro nem a pretensão sumária de
organizar exposições por “pátria” ou “nação”, modelo duvidoso
que por regra propõe uma homogeneização que atualmente não
existe nem se pode pretender como proposta de uma condição
global do país ou do mundo».
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De vários modos isto aplica-se, ainda
com mais razão, ao que se está a fazer a nível de artes
plásticas nos vários países africanos de expressão portuguesa,
se bem que o seu estádio de desenvolvimento tenha outras
circunstâncias e determinantes.
Fiquemo-nos por aqui. Como devem ter
percebido, embora tenha prometido fazer definições, acabei por
andar à volta delas, mas não dei nenhuma, pois estas questões
são mais complexas, não cabem em espartilhos. Depois de tudo
isto, sabe bem ver o que o historiador de arte angolano Adriano
Mixinge, que tem tido um papel muito importante na identificação
e dinâmica da arte angolana, diz: «Um ambiente trepidante e
libertário parece ter-se apoderado do melhor e do mais polémico
da Arte Contemporânea angolana que se vai fazendo, nas suas mais
diferentes manifestações: de Dog Murras a Lulendo, passando por
Paulo Flores, Gabriel Tchiema até ao Buraka Som Sistema, na
música. De Orlando Fortunato ou Maria João Nganga, no cinema.
António Ole, Miguel Petchkowsky, Franck Lundangi, Yonamine
Miguel, Helga Gamboa, Van, Chikukuango Cuxima Zwa, Osvaldo
Fonseca, Álvaro Macieira e Nástio Mosquito, nas artes visuais e
plásticas: todos eles estão na vanguarda de algumas das mais
interessantes propostas estéticas e experimentações do momento».
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Por isso, conclui que o que
resultará destes pressupostos, «num mundo cada vez mais
globalizado, a reinvenção das iconografias da
Angolanidade o saberemos, com certeza e propriedade mais
tarde. A celebração da origem, da travessia e da
ubiquidade talvez seja a melhor estratégia na
redefinição do lugar que a cultura angolana ocupa no
contexto africano e internacional, mas vai ser
necessário modernizar a gestão das instituições
culturais, de forma a permitir que na renegociação
identitária, simbólica e comercial dos produtos
culturais angolanos, no mundo de hoje, sejamos tão
vendedores, como já somos consumidores dos produtos
culturais de outros».
Visto de Portugal, e
atendendo ao que por aqui vamos constatando e
conhecendo, eu expendi há três anos o seguinte
comentário sobre o estado atual da arte angolana:
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«O grande nome de arte angolana é
indiscutivelmente António Ole, com um percurso laboriosa e
persistentemente conseguido e senhor de uma obra consistente
como criador artístico. Em Portugal é representado desde há dois
anos pela Galeria 111, que também trabalha com o reputado
Francisco Vidal, de origem cabo-verdiana.
Na década de 80 foi a vez de Viteix
se apresentar com grande êxito em Lisboa, mas a sua morte
prematura cortou-lhe cerce os voos de internacionalização,
embora continue a ser em Angola considerado como um mestre.
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O escultor António Magina e os
pintores Ana Silva e Zan foram, nos últimos anos, presença
constante em galerias portuguesas assim como Dília Fraguito,
Gustavo Sumpta, Yonamine, Kiluanje Liberdade, Osvaldo da Fonseca
e António Alonso, todos em franca ascensão, não devendo
esquecermo-nos de Gracinda Candeias, uma artista já consagrada,
e Arlette Marques, com uma carreira discreta mas segura».
RODRIGUES VAZ
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Rodrigues
Vaz nasceu em 1944, em Beira Valente, concelho de
Moimenta da Beira, onde fez os estudos primários e
secundários. Depois de ter concluído o curso do
Magistério Primário em Lisboa, em 1962, seguiu para
Angola, onde trabalhou como formador de professores do
ensino primário rural até 1966, ano em que foi chamado a
cumprir o serviço militar, o que decorreu até 1971, no
Centro de Instrução de Comandos, na Secção de Acção
Psicológica e Mentalização. Desde o início da sua estada
em Angola colaborou nos diários A Província de Angola e
Diário de Luanda e nas revistas Noite e Dia, Semana
Ilustrada e EF. Em 1972 entrou como
redactor no Diário de Luanda, tendo sido promovido a
sub-chefe de Redacção em 1973, ao mesmo tempo que fazia
a coordenação do suplemento Artes e Letras. Após o 25 de
Abril fez parte da equipa que reabriu o matutino O
Comércio de Luanda, onde esteve até Setembro de 1974. A
seguir entrou nos quadros da Emissora Oficial de Angola
e depois integra o quadro fundador da Televisão Popular
de Angola, TPA, com o escritor Luandino Vieira, de que
foi adjunto até Maio de 1977, regressando à Rádio
Nacional de Angola com o cargo de Chefe do Serviço
Internacional. Em Portugal exerceu, de 1982 a 2000, o
cargo de chefe da Secretaria da Redacção do Correio da
Manhã, onde, ao mesmo tempo, manteve uma vasta
colaboração no âmbito cultural, designadamente no sector
de divulgação de Artes Plásticas. Actualmente é editor,
sócio-gerente da Pangeia Editora, continuando a
colaborar nas revistas Tempo Livre e África 21, e é
editor da revista Cadernos Culturais de Telheiras. Em
Luanda, além de ter trabalhado durante vários anos como
assistente de programação da Angola Filmes, publicou o
livro O Alvorecer do Cinema, edição do Círculo
Universitário de Cinema de Luanda, 1969, de que foi
co-fundador e responsável pela execução dos programas.
Em Portugal, além de ter elaborado textos para mais de
uma centena de catálogos de exposição de artes
plásticas, e de fazer tradução literária para as
editoras Vega e Hugin, publicou Albino Moura – A Cor do
Imaginário, Universitária Editora, 1994; À Roda da
Fogueira, Universitária Editora, 1996; Albino Moura – O
Inventado Olhar, Inquisição, 1997; João Patrício, Um
Poeta em Paço de Arcos, Câmara Municipal de Oeiras,
1997; A Simbólica nos Desenhos de Troufa Real, Galeria
Hexalfa, 2001; Angola, Estórias Esquecidas, Hugin
Editora, 2003; Os Galegos nas Letras Portuguesas,
Pangeia Editora, 2008. |
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