Se existe Auschwitz, não pode
existir Deus.
(Primo Levi)
O caminho do homem autêntico
passa pelo homem louco.
(segundo
Foucault)
Se existe Auschwitz, não existe a
loucura.
(Luís Costa)
Alguém deve ter difamado José K. pois
uma bela manhã
foi preso, sem ter cometido qualquer
crime.
(Franz Kafka)
Leite negro da madrugada bebemo-lo
ao entardecer
bebemo-lo ao meio-dia e pela manhã
bebemo-lo de noite
bebemos e bebemos
(Paul Celan)
Se hoje ergo a
taça é para dizer
Que já nada existe: os astros
Afundaram-se nos buracos negros
O sol é uma sombra de si mesma
E há alguém que fala de inumanidade
E loucura
Fala procurando expurgar
A brutalidade e monstruosidade
Humana
Amaldiçoa a loucura
Porém esquece
Esquece que as atrocidades
Mais monstruosas sempre foram humanas
Demasiado humanas
Organizadas e ponderadas
Sob o estame da razão
Terá sido Auschwitz uma obra inumana,
Uma obra de loucos?
Não! os homens nunca estiveram
Loucos, os homens
Agem segundo o método da lucidez
A Grande Lucidez
Oh humana iluminação!
Difamaste a loucura
Depois encarceraste-a
Encarceraste o que de mais puro havia
Assim apagaste o horizonte…
A luz mais autêntica.
(Auschwitz-Birkenau, setembro de 2015)
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