REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


NS | número 65 | junho-julho | 2017

 

Júlio Conrado  (Olhão, 26.11.1936, Portugal) .
Escritor, crítico literário. Durante vários anos alternou a crítica literária com a ficção (incursões esporádicas na poesia e no teatro), centrando-se actualmente no romance a sua principal actividade. Fez crítica no Diário Popular, Vida Mundial, Colóquio Letras e Jornal de Letras. Colaborador de Latitudes, Cahiers Lusophones (Paris) e Revista Página da Educação (Porto). Coordenou a revista Boca do Inferno, de Cascais. Integrou os corpos sociais de Associação Portuguesa de Escritores, Pen Clube Português, Centro Português da Associação Internacional dos Críticos Literários e Associação Portuguesa dos Críticos Literários. Participou nos júris dos principais prémios literários portugueses.
Foto: Valter Vinagre
Textos seus estão traduzidos em francês, alemão, inglês, húngaro e grego. Obras principais: Romance: Barbershop (2010), Estação Ardente (Prémio Vergílio Ferreira / Gouveia (2006), Desaparecido no Salon du Livre (2001), De Mãos no Fogo (2001), As Pessoas de minha casa (1985), Era a Revolução (1977) e O Deserto Habitado (1974); Poesia: Desde o Mar (2005); Teatro: O Corno de Oiro (2009). Ver currículo alargado no site do Pen Clube Português
 

JÚLIO CONRADO

Oh, George!
 

COMENTÁRIO A UM TEXTO DE JOÃO PEDRO GEORGE PUBLICADO NO Nº 145 DA REVISTA LER: AS MAMAS NA  LITERATURA PORTUGUESA

 

Oh, George!

Andaste então à pesca no meu país de marinheiros

de mamosas e mamonas

do triplo-salto às alturas

das melhores literaturas

em ortografia portuguesa antiga

tão em voga.

Oxalá tenhas cantiga

para novo cometimento

o de abordares a mamada

noutro texto exemplar

excluindo claro a miúda

do amante de domingo da Lucas,

a  personagem  só queria no fiofó

ou em disponível átrio vizinho

o êmbolo do truca-trucas

mas na boca, nunca, nunca.

 

Oh George! Chuta para fora de campo

 epígrafes inócuas

como a que encimas

o teu brilharete litero-mamático

(com o que é que aquilo tem a ver?)

como tudo ficaria perfeito sem a dita cuja

mesmo assim obrigado, pá, trata mas é

de deitares cá para fora outros saberes

dos sabores da grande livralhada

a mim não enganas tu, meu leitor compulsivo

 de prosas e versalhada

das plumas da lusa escrita

tens a escola toda e ainda bem, George.

 

Urge –te outro feito exaustivo,

como este a que deste rosto e volume

até ficares com olheiras

que restaure a competência

das lendárias pintelheiras

outrora só acessíveis à gaiatada

nas colecções de retratos  contrabandeadas

 aos fotógrafos à la minute

(guardo  saudades, confesso,

 do icónico triângulo piloso

da querida Edwige Feneche dos filmes italianos picantes

dos anos setenta). 

da Velho da Costa das Casas Pardas

há mais odor corporal que outra coisa

na vertente físico-hidráulica

(“esta gente está toda diurética”)

mas sempre restará de reserva 

o pentelho político do ex-ministro Catroga

(espera, este não é para aqui chamado)

entretanto deixo a minha vénia ao Miller (o Henry)

ao chamar lula morta a  um pélvis feminil careca

aplicável  à  cara de alguém do teu ensaio

cujo nome se me sumiu na memória, às súbitas.

Deve ser da idade, estas brancas não pedem licença

surgem fulminantes, humilhantes,  e já está.

O teu charmoso jogo de damas, de mamas, corrijo,

foi uma pedrada no charco, com perdão do novelista, o tal que as

preferia de “seios pequenos e duros” e a quem roubei o título.

Parte para nova aventura George,  há mais mundos (outro roubo)

no meu país de marinheiros.

Mas esta das mamas, meu caro, já foi uma safra e tanto.

Gostei.

E ainda dizem não haver  horas felizes

no meu país de marinheiros

(Um  dos culpados foi o teu amigo do Só,

era mesmo infeliz o pobre)

Eu bem te aviso  George: em águas territoriais

há muito por explorar

quanto à arte de mamar.

Tanto mar (terceiro e último roubo).

Não desistas,  pá. Vai para casa, dorme sobre o que aqui foi alinhavado, e com a brevidade possível arranca-me, de peito feito, outro ensaio do caraças. Pode ser?

 

 20 de Abril de 2017

POST-SCRIPTUM  (A  JPG)

 

NA FARMÁCIA, medindo a tensão arterial

 

A menina de bata branca

que me media a tensão arterial

deixou,  por segundos,

à mercê da minha mão esquerda

a maminha direita.

Como não celebrar num poema

o mágico instante?

E como não enviar forte abraço

ao deus astucioso

que tratou de tudo?                              

 

 

                    26.11.2016

 

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