casa
Entre o abismo e o
abrigo, casa é
uma pálpebra que treme
O rumor de suas ondas se
mantém presente
pelas conchas dos
ouvidos de quem pensa que a habita
Uma casa escondida num
cofre,
uma casa atada ao
naufrágio de qualquer solução,
a Rua do Mundo presa na
vulva de sua Casa;
uma casa em permanente
expansão
A casa e sua geometria
labiríntica,
a casa que não abriga,
a cidade e suas
infindáveis serpentes de concreto,
a casa suporta o mundo e
suas inesgotáveis chuvas oblíquas
Casas sonolentas
assistem ao estranho vagar dos dias,
casas mal vividas,
margens de despidas
engrenagens,
máquinas eficientes de
viver
A casa respira e se
distende
rumo à ampliação de sua
simetria
A casa não se limita,
o crescimento interno da
casa não se deixa sentir
Casas aladas são esboços
de um coração que ainda baterá
A casa concentrada
atravessa a casa expansiva
A casa e seus escombros
rejuvenescem os homens
Nas páginas espumantes
da casa-corpo,
toda sombra guarda uma
palavra;
ali, são as pernas que
carregam seus escombros
A forma trágica de uma
simples maçã preenche os silêncios da casa
Um sonhador desperta os
móveis adormecidos e a casa flutua
entre um equilíbrio
íntimo de paredes e brilhos renovados
Corredores se ampliam
em um estranho murmúrio
de sol
Flores de cicutas
enfeitam os vasos
O amor adoeceu sua casa,
o amor entupiu sua pia
Aqui, esta casa se
afunda pelo meio dos cabelos e
a vida mente diante das
estruturas
Luas mortas brilham no
firmamento da razão
As ruínas carecem de
método,
pássaros alheios
atravessam continentes errantes
A casa nos sonha
Os mapas transbordam
É a cidade que nos
imagina
quando caminhamos
mais estranhos do que o
paraíso,
mais remotos do que o
espaço,
desentranhados dos velhos
dicionários
Também o relâmpago nos
olha
quando acompanhamos os
ingênuos com os seus jornais,
a ciência experimental
dos solitários,
a ciência lírica dos
desenganados
Na geometria do olho
cada palavra contêm um oceano,
pela clausura da pele
brilha a metáfora dissonante,
para além de todas as
casas em que alguém já sonhou habitar
– A cidade é toda ela a
casa do homem
É a cidade que nos sonha
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